sábado, 22 de março de 2025

 



RESISTÊNCIA

                   Francisco Miguel de Moura*

 

Ao pouco que me resta é que me ligo,

Vendo a vida, o amor, e não me intrigo.

 

Ao que me vem de fora e eu não sigo

Embora, em seus minutos, tudo arquivo.

 

Tenho as lições passadas como abrigo

E as dores todas como meu castigo.

 

Peço perdão a Deus, longe o inimigo,

Pois isto não me abala nem  abrigo.

 

Do muito, quero pouco, e do perigo

Que a vida me prepara, eu nada digo.

 

Quero viver cantando... E se consigo,

Versos eu faço pra o melhor amigo.

 

                  Teresina, 21/03/2025 (Dia da Poesia)

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

 


A SEGUNDA NAMORADA

          2ª versão)

 

                     Francisco Miguel de Moura* 


Não sei se ela me veio por primeiro

No afeto da menina que se quer.

Está tão longe o tempo e seu mister...

O pensamento é um grande viajeiro.

 

Sei que era linda e tinha gosto e cheiro

Diferente das outras. Nem sequer

Nos beijamos. Porém, de longe, o ser

Encontra o outro que o completa, inteiro

 

Em juventude, em luz, em força e mais,

Naquela idade em que se não tem paz

Por causa de um hormônio que atropela.

 

Sei que inda choro o ontem, hoje, agora.

Tão diferente foi, quem joga fora?

Como esquecer os olhos de Arabela.


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* Francisco Miguel  de Moura, poeta brasileiro

 

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

 

               FRANCISCO MIGUEL DE MOURA, por Pedro...

                                                                                       
 Pedro Fernandes*

          Há escritores que lemos uma única vez duas linhas e não esquecemos dele nunca mais. Adormecemos a lembrança, mas basta um spleen e trazemos de volta para nós. Assim foi quando li pela primeira vez o português José Saramago em seu “Evangelho segundo Jesus Cristo”. Assim foi também quando li pela primeira vez o poeta brasileiro Francisco Miguel de Moura em seu “Poesia (in) completa” ainda quando da sua graduação em Letras. Há nesse livro um poema cujo título não me vem à cabeça agora, mas que as imagens nele evocadas me marcaram o suficiente para, mais tarde, eu compor um outro poema intitulado "Cadáveres adiados", que está no e-book “palavras de pedra e cal”. 

          O fato de citar Francisco Miguel de Moura por aqui é que à cata de alguma novidade na mesma biblioteca em que me deparei com “Poesia (in) completa” reencontrei esse livro. E relembrei disso tudo que comentei anteriormente. E vi ainda que, por ser esse um poeta que tanto me marcou, é uma injustiça não ter ainda disposto seu nome na galeria d “Os escritores - coluna esparsa deste blog”.

          Num texto que mais que apresenta, diz o fazer poético de Francisco Miguel e suas engrenagens, Nelly Novaes Coelho, no já referido “Poesia (in) completa” apresenta que o poeta se constitui enquanto tal por um caminho "incerto, hesitante, tateando o desconhecido, mas já pressentindo a grande força da poesia como nomeadora do Real". Diz isso ao referir-se ao seu livro de estreia, publicado ainda em 1966, “Areias”. Recorto essa passagem do texto da professora Nelly Novaes Coelho, por uma razão: Ao ver que o imagético é uma estrutura de estatura óssea e envergadura tanta na obra do poeta de “Poesia (in) completa”; tanto capaz de propiciar no leitor outras experiências com a linguagem, esse imagético guia-se, sobretudo, por um entendimento de que a poesia, se não explica o real, é porque afinal toda tentativa linguística talvez possa se resumir a isso: funda um real próprio. Um universo com suas cadências próprias.

          Francisco Miguel é exímio poeta, sim, mas descobri sê-lo também cronista, romancista, ensaísta e crítico literário e tudo justaposto à função de bancário. É de Francisco Santos, Piauí. Bacharelou-se em Literatura e Língua Portuguesa e fez Pós-graduação em Crítica de Arte. Além de “Areias” e “Poesia (in) completa”,  publicou os seguintes livros de poesia “Pedras em sobressalto”, “Universo das águas”, “Bar Carnaúba”, “Quinteto em mi(m)”, “Sonetos da paixão”, “Poemas Ou-tonais”; os de ensaio “Linguagem e comunicação em O. G. Rego de Carvalho”, “A poesia social de Castro Alves”; os de romance “Os estigmas”, “Laços de poder”, “Ternura”; os de crônicas “Eu e meu amigo Charles Brown”,. “E a vida se fez crônica”, entre outras obras.

Nota: Esta matéria foi publicada no www. blog da terrinha.

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*Pedro Fernandes, um autor para mim desconhecido. Gostei do elogia a meus meus poemas, menos à aliança feita em sua leitura e a conjunta comparação com a leitura que fez de “O evangelho segundo Jesus Cristo”, do José Saramago, tendo em vista a distância enorme que existe entre mim e ele, com referência à religião, pois eu sou cristão e ele deixar pensar-se que não.

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

 SONETO DA ROSA

      Francisco Miguel de Moura*          

              (Improviso para Eugênio de Andrade,

              poeta português, falecido em 18-3-2005)

                     

Tua rosa é beleza e sofrimento,

casal que juntos, juntos não separam

a arte e a poesia – oh! grande invento

de tudo que se parte e se reparte!

 

Tua rosa no Inverno arde em amor

e dor que todo amor traz sobre si,

por isto canta e no seu canto vai

toda a ternura que devolve à pira.

 

Uma rosa é uma rosa, é uma rosa,

já disse um bom cantor antes de mim,

mais ainda se exala os sentimentos.

 

No inverno ou verão, em qualquer tempo,

uma rosa sozinha serve a todos...

E o poeta é um poeta, é um poeta.

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  *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

                               

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

 


                                  A CULPA, DE QUEM É?

 

Francisco Miguel de  Moura*

 

            Dentro da pátria, somos soberanos para fazer o que é bom, agir como cidadãos, dentro da lei. Abaixo daí, tudo é tirania, maldade, desumanidade. E quem é cruel, desumano, inimigo da obediência às leis, não pode ser bom cidadão. Cidadão é quem preza a terra, a tradição, a família, a pátria, os irmãos que tiveram a sorte de possuir bens e os deserdados da fortuna. E a todos respeita.  Cabe citar o mestre Rui Barbosa, quando define o que é a pátria:

             A pátria não é ninguém, são todos e cada um tem no seio dela o mesmo direito à palavra, à associação. (...) Não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade.”

Mas, quando o povo joga lixo nas ruas e reclama da sujeira, desobedece às leis de trânsito e reclama do mau trânsito, reclama dos maus políticos e vota mal ou não vota, de quem é a culpa? Quando trapaceia nos negócios e fica a pregar falsa moral, quando não liga sequer pra horário de nada, seja o vigia do prédio ou o prefeito, o governador, o presidente – de quem é a culpa? Por outro lado, que prefeito é aquele que não cuida da limpeza e da beleza de sua cidade?  Que prefeito é aquele que só vive na fazenda, não atende aos que o procuram, só quando se trata do seu próprio interesse? Que enriquece rapidamente e vive viajando a negócios “de mentirinha”, pois o que faz é turismo, passeio, gastos pessoais com dinheiro público?  Que exorbita na cobrança dos impostos? Que não cuida da tradição da cidade, de sua história, de sua cultura? Governante que não cuida da educação, saúde e segurança não merece respeito.  

O povo tem o poder de criticar, e a melhor crítica que se faz é eleger os bons, os que deram certo como administrador do bem público, e não votar nos que traem sua confiança com projetos mirabolantes na campanha e quando tomam o poder enriquecem-se por meios ilícitos, traficando, burlando e açambarcando os cofres públicos através de contabilidade fraudulenta, etc. Mentindo e falseando. Dizem entre si que é para agradar o povo. Que povo é esse, então? 

 Também a culpa é do povo quando este dá mau exemplo aos políticos – porque também pode acontecer que o exemplo venha de baixo. Povo desse feitio não tem honra para criticar.  Mancomunado com os ilusionistas da fé pública, povo assim não merece nunca ser elogiado.  Procurar o jeitinho em lugar da lei e da ética, insinuando a burocracia a ser desonesta, a administração a ser condescendente, aos políticos a tratarem a coisa pública como se sua fosse – de quem é a culpa? A culpa é também dos políticos, dos juristas, dos parlamentares quando fazem leis casuísticas porque alguém da sua laia vai ser beneficiado. E eles também são povo porque do seio do povo vieram.

Mas, estamos falando de que povo? Do povo brasileiro, em primeiro lugar. Somos preguiçosos, queremos o mais fácil. Temos defeitos malditos de origem, razão por que temos que trabalhar dobrado para tirar a diferença de séculos. Só assim construiremos uma pátria democrática, livre, justa e moralmente aceitável perante as nações civilizadas.

_________________

Francisco Miguel de Moura – Membro da Academia Piauiense de Letras, prosador e poeta, e-mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br

 

 

 


          CELSO PINEIRO FILHO – UMA MINIBIOGRAFIA

                                    Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro

É verdade que nem sempre os acadêmicos são lembrados como deviam.  A Professora Fides Angélica, no seu primeiro mandato como Presidente da APL, abre espaço para um levantamento biográfico de membros da APL, para que os nossos confrades atuais digam sobre os que viveram antes de nós, ressaltando a importância de suas vidas e das obras que produziram.  Minha tarefa de hoje é sobre CELSO PINHEIRO FILHO, da cadeira nº.8. Tratamos, portanto, da família Pinheiro, isto, dos filhos do Senhor João José Pinheiro, um político e intelectual português que veio para o Brasil (precisamente Santa Catarina), onde se tornou intelectual famoso.  Três filhos dele tornaram-se acadêmicos:  Celso Pinheiro (o poeta), João Pinheiro (o primeiro historiador da Literatura do Piauí) e Breno Pinheiro (jornalista e cronista). A esta família acadêmica, junta-se o neto, CELSO PINHEIRO FILHO, o CELSINHO, o homenageado de hoje.   Só isto já é uma grande honra, para a Academia Piauiense de Letras.  E assim, também me sinto homenageado por eu ser o atual ocupante da cadeira nº 8, da APL, e por ter sido chamado para apresentar o acadêmico CELSO PINHEIRO FILHO, da dita família ilustre, sendo ele o 3°. ocupante da dita cadeira nº 8, da APL. Lembro ainda que a cadeira nº 8 tem como patrono o poeta José Coriolano de Sousa Lima (J. Coriolano), tendo sido o poeta Antônio Chaves, o seu 1º. ocupante.  O 2º. ocupante foi Breno Pinheiro; o 3º. ocupante foi o nosso homenageado CELSO PINHEIRO FILHO, como já foi dito, faltando apenas citar o 4º. ocupante, o Prof. Francisco da Cunha e Silva.

CELSO PINHEIRO FILHO, nosso homenageado, nasceu em Teresina, aos 17 fevereiro de 1914, e faleceu em 23-02-1974, em Teresina-PI. Filho do poeta Celso Pinheiro e de Liduína Mendes Pinheiro, seus estudos primários foram feitos no Grupo Escolar “Teodoro Pacheco”, desta Capital. Depois matriculou-se no Liceu Piauiense, onde fez o secundário. Casou-se com Maria Rosa Pinheiro, em 1943.  Mas, aos 17 anos, já entrara para o Exército, servindo no 1º Batalhão de Engenharia, no Rio de Janeiro. Participou da Revolução de 1932, em São Paulo, ao lado das forças do governo e foi promovido a Sargento.  Formou-se em Direito, pela Faculdade de Direito do Distrito Federal, então Rio de Janeiro, em 1942.

Recebendo CELSO PINHEIRO FILHO, na Academia Piauiense de Letras, o mestre Odilon Nunes, na sessão de 19 de julho 1973, afirmou: “Assim, Celso Filho escreve a história fazendo história, pois sua contribuição vem enriquecer a historiografia piauiense, a que se incorpora de modo definitivo.”

É relevante que enumeremos os diversos cargos políticos que CELSO PINHEIRO FILHO exerceu.  Durante o governo do Gal. Eurico Gaspar Dutra (1946-1950), por algum tempo, assumiu o cargo de Oficial de Gabinete do Ministério do Trabalho. Antes já havia sido Prefeito de Teresina (PI), de 14-03-1943 a 31-12-1946 e Prefeito de Porto Velho, em Guaporé (hoje Rondônia), entre 01-01-1948 a 06-03-1948.

Mas, profissionalmente, CELSO PINHEIRO FILHO notabilizou-se como advogado e jornalista. Segundo o Prof. A. Tito Filho, “ele foi um dos mais acatados e cultos advogados do Piauí”.  Como historiador, escreveu duas importantes obras: A principal foi  “História da Imprensa no Piauí”, publicada em 1972, pelo Governo do Estado do Piauí, e a segunda foi uma história da Polícia Militar do Piauí, denominada de  “Soldados de  Tiradentes” 1975,  lançada somente depois de sua morte, sob os auspícios de sua filha Lina Celso Pinheiro, que a subscreve como coautora  da segunda parte.  Esse livro foi editado pela Artenova, uma editora do Rio de Janeiro (RJ).     De sua autoria, registram-se também alguns ensaios sobre “Nogueira Tapety”, “Hermínio e Theodoro Castelo Branco” e “José Coriolano de Sousa Lima”, dos quais não conseguimos as datas de publicação.

Por causa de suas atividades políticas contra o ditador Getúlio Vargas, ao tempo da prisão dos comunistas, CELSO PINHEIRO FEILHO foi recolhido ao presídio de Fernando Noronha (e depois, também consta que ao da Ilha das Cobras, São Paulo).   A partir de então, CELSINHO veio a sofrer grave deficiência que o impedia de caminhar normalmente, problemas que o levaram até a morte. Sobre esse fato, Celso Barros declarou, num momento fúnebre:

“A quem o observa na tortura dos seus membros encolhidos, parecia que a sua imagem crescia à medida que o corpo definhava. Era uma imagem através da qual se escondia o sofrimento para poder revelar tão somente o que realmente são estava naquele corpo: a alma disposta a compreender, o coração batendo pelas dores do mundo e o espírito inclinado a perdoar em nome da humanidade. Quem assim vivia, não podia morrer, senão conservar a postura de um santo, em cuja compassividade estava o retrato fiel da vida pautada pela resignação e pela renúncia.”

   Quero terminar, declarando que assisti ao lançamento da “História da Imprensa no Piauí’, sem dúvida, um momento de grande satisfação,  e o vi e constatei que era uma pessoa séria, de alma leve e de coração bondoso; nenhum laivo de tristeza percebi ao receber o livro, assim autografado: “Para o amigo Francisco Miguel de Moura, esta “História da Imprensa no Piauí”, livro dos melhores já Editados pela Plano Editorial do Estado, Teresina 11.08.1972”. 

                                      Obras Consultadas:

Coelho, Celso Barros: Uma História da Academia de Letras, Teresina,2018;

Gonçalves, Wilson Carvalho: Antologia da Academia Piauiense de Letras, 2018;

Fonte: https://acervoatitofilho1.blogspot.com/2010/10/celsinho.html (Tito Filho, José de Arimathea, Celsinho, Jornal “O Dia”, Teresina,PI, 12/08/1988)

 

sábado, 9 de novembro de 2024

 


ABSOLUTA SOLIDÃO

                   Francisco Miguel de Moura*

 

Sente que um frio algente lhe devora

O peito, a face, a alma... É seu castigo

Desde que, pendurado pelo umbigo,

Silencia os lamentos vida em fora.

 

Sente que perde o norte inda na aurora,

Sem equilíbrio, nem andar consegue.

Sem ser mudo, não fala nem persegue

Sorver o ar, o vento... E se descora.

 

Nem pergunta as razões do que padece,

Já não sabe, confuso, o que merece,

Nem por que lhe tocou tamanha herança.

 

Tudo o que sabe é seu viver sozinho,

Sem pai nem mãe, sem filho e sem vizinho,

Anda, desanda e para por vingança.   

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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