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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Manoel de Barros - (1916-2014)

Que hei de fazer se de repente
a manhã voltar?
Que hei de fazer?
— Dormir, talvez chorar”.
          Manoel de Barros


Manoel
Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916, filho de João Venceslau Barros, capataz com influência naquela região. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.

Tinha um ano de idade quando o pai decidiu fundar fazenda com a família no Pantanal: construir rancho, cercar terras, amansar gado selvagem. Nequinho, como era chamado carinhosamente pelos familiares,  cresceu brincando no terreiro em frente à casa, pé no chão, entre os currais e as coisas "desimportantes" que marcariam sua obra para sempre. "Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno."

Com oito anos foi para o colégio interno em Campo Grande, e depois no Rio de Janeiro. Não gostava de estudar até descobrir os livros do padre Antônio Vieira: "A frase para ele era mais importante que a verdade, mais importante que a sua própria fé. O que importava era a estética, o alcance plástico. Foi quando percebi que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas com a verossimilhança." Um bom exemplo disso está num verso de Manoel que afirma que "a quinze metros do arco-íris o sol é cheiroso." E quem pode garantir que não é? "Descobri que servia era pra aquilo: Ter orgasmo com as palavras." Dez anos de internato lhe ensinaram a disciplina e os clássicos a rebeldia da escrita.

Mas o sentido total de liberdade veio com "Une Saison en Enfer" de Arthur Rimbaud (1854-1871), logo que deixou o colégio. Foi quando soube que o poeta podia misturar todos os sentidos. Conheceu pessoas engajadas na política, leu Marx e entrou para a Juventude Comunista. Seu primeiro livro, aos 18 anos, não foi publicado, mas salvou-o da prisão. Havia pichado "Viva o comunismo" numa estátua, e a polícia foi buscá-lo na pensão onde morava. A dona da pensão pediu para não levar o menino, que havia até escrito um livro. O policial pediu para ver, e viu o título: "Nossa Senhora de Minha Escuridão". Deixou o menino e levou a brochura, único exemplar que o poeta perdeu para ganhar a liberdade.

Quando seu líder Luiz Carlos Prestes foi solto, depois de dez anos de prisão, Manoel esperava que ele tomasse uma atitude contra o que os jornais comunistas chamavam de "o governo assassino de Getúlio Vargas." Foi, ansioso, ouvi-lo no Largo do Machado, no Rio. E nunca mais se esqueceu: "Quando escutei o discurso apoiando Getúlio — o mesmo Getúlio que havia entregue sua mulher, Olga Benário, aos nazistas — não agüentei. Sentei na calçada e chorei. Saí andando sem rumo, desconsolado. Rompi definitivamente com o Partido e fui para o Pantanal".

Mas a idéia de lá se fixar e se tornar fazendeiro ainda não havia se consolidado no poeta. Seu pai quis lhe arranjar um cartório, mas ele preferiu passar uns tempos na Bolívia e no Peru, "tomando pinga de milho". De lá foi direto para Nova York, onde morou um ano. Fez curso sobre cinema e sobre pintura no Museu de Arte Moderna. Pintores como Picasso, Chagall, Miró, Van Gogh, Braque reforçavam seu sentido de liberdade. Entendeu então que a arte moderna veio resgatar a diferença, permitindo que "uma árvore não seja mais apenas um retrato fiel da natureza: pode ser fustigada por vendavais ou exuberante como um sorriso de noiva" e percebeu que "os delírios são reais em Guernica, de Picasso". Sua poesia já se alimentava de imagens, de quadros e de filmes. Chaplin o encanta por sua despreocupação com a linearidade. Para Manoel, os poetas da imagem são Federico Fellini, Akira Kurosawa, Luis Buñuel ("no qual as evidências não interessam") e, entre os mais novos, o americano Jim Jarmusch. Até hoje se confessa um "...'vedor' de cinema. Mas numa tela grande, sala escura e gente quieta do meu lado".

Voltando ao Brasil, o advogado Manoel de Barros conheceu a mineira Stella no Rio de Janeiro e se casaram em três meses. No começo do namoro a família dela — mineira — se preocupou com aquele rapaz cabeludo que vivia com um casaco enorme trazido de Nova York e que sempre se esquecia de trazer dinheiro no bolso. Mas, naquela época, Stella já entendia a falta de senso prático do noivo poeta. Por isso, até hoje Manoel a chama de "guia de cego". Stella o desmente: "Ele sempre administrou muito bem o que recebeu." E continuam apaixonados, morando em Campo Grande (MS). Têm três filhos, Pedro, João e Marta (que fez a ilustração da capa da 2a. edição do "Livro das pré-coisas") e sete netos.

Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro, cidade onde residiu até terminar seu curso de Direito, em 1949. Como já foi dito, mais tarde tornou-se fazendeiro e assumiu de vez o Pantanal.

Seu primeiro livro  foi publicado no Rio de Janeiro, há mais de sessenta anos, e se chamou "Poemas concebidos sem pecado". Foi feito artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares e mais um, que ficou com ele.

Nos anos 80, Millôr Fernandes começou a mostrar ao público, em suas colunas nas revistas Veja e Isto é e no Jornal do Brasil, a poesia de Manoel de Barros. Outros fizeram o mesmo: Fausto Wolff, Antônio Houaiss, entre eles. Os intelectuais iniciaram, através de tanta recomendação, o conhecimento dos poemas que a Editora Civilização Brasileira publicou, em quase a sua totalidade, sob o título de "Gramática expositiva do chão".

Hoje o poeta é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais originais do século e mais importantes do Brasil. Guimarães Rosa, que fez a maior revolução na prosa brasileira, comparou os textos de Manoel a um "doce de coco". Foi também comparado a São Francisco de Assis pelo filólogo Antonio Houaiss, "na humildade diante das coisas. (...) Sob a aparência surrealista, a poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões, oníricas num primeiro instante, logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético muito profundo. Tenho por sua obra a mais alta admiração e muito amor." Segundo o escritor João Antônio, a poesia de Manoel vai além: "Tem a força de um estampido em surdina. Carrega a alegria do choro." Millôr Fernandes afirmou que a obra do poeta é "'única, inaugural, apogeu do chão." E Geraldo Carneiro afirma: "Viva Manoel violer d'amores violador da última flor do Laço inculta e bela. Desde Guimarães Rosa a nossa língua não se submete a tamanha instabilidade semântica". Manoel, o tímido Nequinho, se diz encabulado com os elogios que "agradam seu coração".

O poeta foi agraciado com o “Prêmio Orlando Dantas” em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras ao livro “Compêndio para uso dos pássaros”. Em 1969 recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pela obra “Gramática expositiva do chão” e, em 1997, o "Livro sobre nada” recebeu o  Prêmio Nestlé, de âmbito nacional. Em 1998, recebeu o Prêmio Cecília Meireles (literatura/poesia), concedido  pelo Ministério da Cultura.

Numa entrevista concedida a José Castello, do jornal "O Estado de São Paulo", em agosto de 1996, ao ser perguntado sobre qual sua rotina de poeta, respondeu:

"Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma palavra. E gosto de ouvir e ler "Vozes da Origem". Gosto de coisas que começam assim: "Antigamente, o tatu era gente e namorou a mulher de outro homem". Está no livro "Vozes da Origem", da antropóloga Betty Mindlin. Essas leituras me ajudam a explorar os mistérios irracionais. Não uso computador para escrever. Sou metido. Sempre acho que na ponta de meu lápis tem um nascimento."

Diz que o anonimato foi "por minha culpa mesmo. Sou muito orgulhoso, nunca procurei ninguém, nem freqüentei rodas, nem mandei um bilhete. Uma vez pedi emprego a Carlos Drummond de Andrade no Ministério da Educação e ele anotou o meu nome. Estou esperando até hoje", conta. Costuma passar dois meses por ano no Rio de Janeiro, ocasião em que vai ao cinema, revê amigos, lê e escreve livros.

Não perdeu o orgulho, mas a timidez parece cada vez mais diluída. Ri de si mesmo e das glórias que não teve. "Aliás, não tenho mais nada, dei tudo para os filhos. Não sei guiar carro, vivo de mesada, sou um dependente", fala. Os rios começam a dormir pela orla, vaga-lumes driblam a treva.  Meu olho ganhou dejetos, vou nascendo do meu vazio, só narro meus nascimentos."

O diretor Pedro Cezar filma "Só dez por cento é mentira", um documentário sobre a vida do poeta que deverá ser exibido em abril de 2007. O título do filme refere-se a uma frase de Manoel de Barros: "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira".


Obras publicadas no Brasil:
1937 — Poemas concebidos sem pecado

1942 — Face imóvel

1956 — Poesias

1960 — Compêndio para uso dos pássaros

1966 — Gramática expositiva do chão

1974 — Matéria de poesia

1982 — Arranjos para assobio

1985 — Livro de pré-coisas (Ilustração da capa: Martha Barros)

1989 — O guardador  das águas

1990 — Poesia quase toda

1991 — Concerto a céu aberto para solos de aves

1993 — O livro das ignorãças

1996 — Livro sobre nada (Ilustrações de Wega Nery)

1998 — Retrato do artista quando coisa (Ilustrações de Millôr Fernandes)

1999 — Exercícios de ser criança

2000 — Ensaios fotográficos

2001 — O fazedor de amanhecer (infantil)

2001 — Poeminhas pescados numa fala de João

2001 — Tratado geral das grandezas do ínfimo (Ilustrações de Martha Barros)

2003 — Memórias inventadas  (A infância) (Ilustrações de Martha Barros)

2003 — Cantigas para um passarinho à toa

2004 — Poemas rupestres (Ilustrações de Martha Barros)

2005 — Memórias inventadas II (A segunda infância) (Ilustrações de Martha Barros)

2007 — Memórias inventadas III (A terceira infância) (Ilustrações de Martha Barros)

Prêmios recebidos:

1960 — Prêmio Orlando Dantas - Diário de Notícias, com o livro "Compêndio para uso dos pássaros"
1966 — Prêmio Nacional de poesias, com o livro "Gramática expositiva do chão"
1969 - Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, com o livro "Gramática expositiva do chão"
1989 — Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Poesia, como o livro "O guardador de águas"
1990 — Prêmio Jacaré de Prata da Secretaria de Cultura de Mato Grosso do Sul como melhor escritor do ano
1996 — Prêmio Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional, com o livro "Livro das ignorãças"
1997 — Prêmio Nestlé de Poesia, com o livro "Livro sobre nada"
1998 — Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura, pelo conjunto da obra
2000 — Prêmio Odilo Costa Filho - Fundação do Livro Infanto Juvenil, com o livro "Exercício de ser criança"
2000 — Prêmio Academia Brasileira de Letras, com o livro "Exercício de ser criança"
2002 — Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria livro de ficção, com "O fazedor de amanhecer"
2005 — Prêmio APCA 2004 de melhor poesia, com o livro "Poemas rupestres"
2006 — Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira, com o livro "Poemas rupestres"

Obras publicadas no exterior:


Portugal:

2000 — Encantador de Palavras. Organização e seleção Walter Hugo Mãe. Vila Nova de Famalicão, Quasi, 2000.

França:

2003 — La Parole sans Limites. Une Didactique de lInvention [O Livro das Ignorãças]. Édition Bilingue. Tradução e apresentação Celso Libânio. Ilustração Cicero Dias. Paris: Éditions Jangada.
_________________________
Nota:Acabando de receber a notícia, pela TV Globo,do falecimento do grande poeta, tão grande quanto Drummond, quanto Fernando Pessoa, peguei sua bio-bibliografia no site "Releituras" e tome a iniciativa de fazer a divulgação através do texto integral, menos a foto, que fui buscar na internet - www. google. A posteriori, peço licença aos que fazem e respondem pela direção do "Releituras", aliás uma das grandes obras de divulgação literária na internet. (Francisco Miguel de Moura).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

OSCAR NIEMEYER (1907/ 2012)

COM PRETEXTOS
                              
*Francisco Miguel de Moura 
 escritor
         

 Não há pretexto melhor para uma crônica do que a morte de um homem simples e genial, que tinha suas próprias convicções, mas nunca foi político nem escreveu livros, exceto “Minha experiência em Brasília”, depois de ter colocado na prancheta o projeto da cidade mais original e mais moderna que existe no mundo. A corrupção política não chegará ao cúmulo de corromper ou fazer ficar esquecida essa obra gigantesca da arte, no mundo contemporâneo. Editores, estão dormindo? Sonhando com vampiros? Acordem.
            Brincando comigo mesmo, digo que minha meta de vida é a do Niemeyer: viver muito e produzir mais e melhor. Bem que eu gostaria de escrever algo daqui para frente muito melhor do que já escrevi. Também fazer como o Oscar Niemeyer: Não misturar ideologia com arte. Pouca coisa se escreveu sobre ele, salvo as entrevistas, uma ou outra notícia que se tornaram manchetes de jornais e revistas. Mas o suficiente para ter uma ideia de sua biografia pode ser encontrado na internet/wikipedia. Neste país se escreve tanto sobre políticos e políticas que dá nojo. Até sobre uma Sra. Zélia de Tal (que não pode ser a escritora Zélia Gatai), e sim aquela que foi ministra do Color, rechassado do poder por causa da prepotência e da corrupção. Já escreveram livros até sobre o Lula, repetindo tolices publicadas na imprensa. Tem gente querendo que ele seja intocável, um ídolo, um santo, com uma estátua na praça, só porque ele disse “nunca ninguém antes, neste país...” como se o Brasil tivesse começado com ele e os petistas.  A frase, eu completaria apenas assim: “Nunca antes, neste país, um governante eleito conseguiu juntar tanta gente ruim na cúpula e na formação do governo como ele fez. Quem não assistiu e está assistindo até o último momento ao “julgamento do mensalão”? Graças ao Poder Judiciário, que, apesar de ter seus membros nomeados pelo Executivo, não se corrompeu”. Foram só alguns que deixaram rastros, outros ou muito mais poderiam ser enquadrados. E o próprio Lula, ficou de fora (até agora), porque “não sabia de nada, não viu nada”... Quem acredita nisto? 
    Fala-se mal de Fernando Henrique, que não foi tão ruim e não precisa ser “demonizado”. Mas ninguém fala em Juscelino Kubtschek, o construtor de estradas, o desbravador do Planalto Central, criador de Brasília para ser a nova Capital do Brasil, com a grande, imensa ajuda artística de Niemeyer. Foi assim: - Oscar Niemeyer e Juscelino tornaram-se amigos desde quando este era Prefeito de Belo Horizonte. Daí, praticamente começou a parceria artístico/política. Nosso Oscar Niemeyer já havia realizado o prédio do Ministério da Educação, no Rio, concluído em 1945, a primeira obra inovadora da arquitetura contemporânea. Nos anos 1940, sendo prefeito de Belo Horizonte o Dr. Juscelino Kubtschek de Oliveira (este que se tornaria, mais tarde, o melhor Presidente do Brasil), encomendou a Niemeyer o desenho do conjunto arquitetônico da Pampulha.  Começara ali a bela parceria cujo alto momento foi Brasília, nos anos 1960. “Niemeyer foi o arquiteto que inventou o Brasil na ponta dos dedos”, até mesmo alguns severos críticos admitem esta verdade, registra a revista VEJA (ed. de 12-12-2012).  Desde o início suas obras foram influenciadas por seu mestre franco-suíço Le Corbusier. A essa influência, o mestre Oscar Niemeyer acrescentou sabiamente a linha curva, em cuja direção fez milagres.
    “A vida pode mudar a arquitetura. No dia em que o mundo for mais justo ela será mais simples.” Esta frase representa bem sua ideologia política: o humanismo, justiça e liberdade.  No fundo, Kubitschek também queria a mesma a coisa, tinha os mesmos princípios aos quais aliava, à fé, a força e a ousadia. Queriam justiça, não por cima, nem por baixo, mas para todos, pelo meio. Basta olhar-se a igualdade dos prédios de apartamento do Plano Piloto, para que tenhamos a prova.  Para fazer o país mudar, em apenas CINCO anos, construiu estradas, rompeu com o FMI e levantou Brasília no barro vermelho do solitário Planalto Central. Empregou muita gente. Não deu esmolas. Era um homem simples, perdoava os seus perseguidores (e teve alguns): Mandava prendê-los hoje e amanhã já os soltava, perdoando a todos. Nunca mais tivemos um Presidente como ele. E talvez demore muito, por causa dos desmandos da era “petê”. Como também ninguém sabe quando virá um artista inventivo, genial, como Oscar Niemeyer, com suas linhas curvas. E aqui, eu, como um simples observador da natureza, não acredito que haja linha reta, todas são curvas no universo. O que chamam de linha reta são apenas pontos iguais, na mesma direção, como se fossem soldados em fila, de prontidão, ou mendigos em busca de alguma esmola. Todos os grandes artistas são curvos, tortos como o anjo de Drummond, também nosso maior poeta do século XX. 
    Eis a obra de Oscar Niemeyer, o mestre de toda uma geração: “Todos os mais de 600 prédios, palácios, residências, templos e monumentos assinados por ele, em 15 países. Ficarão como marcas indeléveis do que houve de belo no séc. XX, um tempo sangrento de duas guerras mundiais, do embate de morte entre duas concepções de mundo, o capitalismo e o comunismo defendidos ferozmente por arsenais nucleares de lado a lado que, combinados poderiam destruir o planeta Terra milhares de vezes. Niemeyer nunca teve dúvida qual era o seu lado. Sempre foi comunista” (Gabriela Carelli, VEJA, 12-12-2012). Ora, naquele tempo, quem não era comunista, sobrava a pecha de ser fascista, estar do lado de Hitler. O homem é sua vida, seu tempo e sua obra. Revolucionário na obra - na vida foi um cidadão pacato, comum, sem marcas que desmintam o homem direito que foi. Sabia distinguir as teorias, a política e a arte. Normalmente aqueles que assim não agem terminam por arrepender-se. Niemeyer não se perturbava com a rotineira pergunta da imprensa: “Você é comunista?” Desde os anos 1960 até a morte, respondia “sim” e acrescentava: “Estou velho demais para mudar”.
_________________
*Francisco Miguel de Moura – escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, reside em Teresina, PI, e é também membro da IWA -International Writers and Artists Association - Estados Unidos.

domingo, 6 de março de 2011

ALONSO ROCHA - PRÍNCIPE DOS POETAS DO PARÁ



Alonso Rocha, falece em 22 de Fevereiro de 2011




Se tivessemos o poder de prolongar a vida do corpo físico de quem quisessemos, Alonso Rocha certamente estaria entre os nomes que desejamos. Mas, somos mortais, e assim mesmo, quando nos encantamos com versos tão soberbos como os de Alonso, mesmo que não presente em corpo físico, seu espírito estará sempre imortal dentro de nós. Este poeta-trovador se indagava em sua trova: Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?

Fim? Não existe fim para alguém que escreve versos tão sublimes. Serás sempre imortal.
Partida? Apenas deste plano físico, pois onde vais é apenas o repouso merecido pelo que fez.
Porto? Voce, caro poeta, era o porto de nossas almas, de nossas emoções.
Porta? Para ti, uma porta em direção a um andar superior onde observarás a nós que o reverenciamos, e que perpetuaremos seus versos e sua pessoa.

Eu te saudo pelo legado que nos deixou. Salve, Alonso Rocha!
                                    (José Feldman)

Caderno de Trovas


A igreja, as flores e o eleito,
ela de branco e eu tristonho;
foi o cenário perfeito
para o enterro de meu sonho. 


Ao lembrar que o teu brinquedo
é decifrar-me, sorrio…
– De nada vale o segredo
de um velho cofre vazio.


Dei conforto em hora aguda
a tantos (que nem mais sei),
mas na dor só tive ajuda
de mãos que nunca ajudei.


De uma paixão incontida,
o tempo – insano juiz -
pode curar a ferida
mas nos deixa a cicatriz.


Em sofrer minha alma insiste
mesmo sabendo, também,
que a dor da espera é mais triste
se não se espera ninguém.


Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus – o Oleiro –
cobra o retorno do barro.


Não desistas nem te dobres
se o teu trabalho é perdido,
pois nos garimpos dos pobres
há sempre um veio escondido.


Nas manhãs, num velho rito
(com o fim de protegê-las)
o Sol – pastor do infinito -
guarda o rebanho de estrelas.


O Tempo em constante jogo,
renova a festa pagã
quando o Sol – centauro de fogo -
rasga as vestes da manhã.


Por esse amor insensato
eu sei que o céu me condena,
mas a escolha do meu ato
eu troco por qualquer pena.


Por que tanto preconceito,
cobiça, orgulho e ambição,
se os homens só têm direito
a sete palmos do chão?


Quando já idoso e grisalho
te abraças numa paixão,
o tempo é o roto espantalho
que te afugenta a razão.


Quando o sofrer é infinito
e a vida nos deixa a sós,
ao sufocarmos o grito,
grita o silêncio por nós.


Se em noite de Lua cheia
rolas em doce arrepio,
de certo um boto vagueia
na preamar de teu cio.


Sempre que eu sonho na vida
sou, numa luta sem jaça,
borboleta enlouquecida
batendo contra a vidraça.


Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?


Sobra do amor, rarefeita,
e tudo o que me restou,
a ternura é a flor que enfeita
o jarro triste que eu sou.


Tu partiste: em penitência,
sem pranto que me conforte,
eu sinto na dor da ausência
tua presença mais forte.


2 SONETOS

 À MESMA FLOR
               Alonso Rocha

Quando moço roubei na madrugada
do seio de uma flor recém-aberta
uma gota de orvalho e como oferta
a deixei em teus lábios, abrigada.


Hoje, quando recordo (Oh! Doce Amada!)
esse tempo de arroubo e descoberta
uma saudade, trêmula, desperta
e vem sangrar-me com a sua espada.


Iguais a flor, também envelhecemos
mas ao despetalar ainda trazemos
almas unidas, mãos entrelaçadas,


porque do amor a essência mais preciosa
( assim como o perfume de uma rosa)
permanece nas pétalas secadas.

À JOVEM ESPOSA
                      Alonso Rocha

Hoje eu te trago, em minhas mãos, guardada,
a gota d’água – a pérola serena –
que eu roubei de uma pálida açucena
recém-aberta pela madrugada.


Louco poeta que sou! (Oh! Doce Amada!)
Em trazer-te essa dádiva pequena.
Culpa as estrelas, culpa a cantilena
do vento. E em nossa alcova penumbrada


dormes. E nem percebes no teu sono
que em teus lábios, fechados, abandono
a lágrima de luz – um mundo pleno.


Não despertes, ririas certamente
se me visses beijando, ingenuamente,
tua boca molhada de sereno.


________________________________________

Fontes:
Portal dos Sonhos e das Poesias
Falando de Trova

UBT Nacional


http://www.revistamaisfoco.com.br/blogs/chicomiguel

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

ANÍBAL BEÇA - Começo da Biografia









ANÍBAL BEÇA - Notícia de Manaus, 25=08-2009



MANAUS
- Morreu na manhã de hoje (25), vítima de complicações renais e infecção generalizada decorrentes do diabetes, o poeta, compositor, teatrólogo e jornalista amazonense Anibal Beça, de 62 anos.

De acordo com o filho do escritor, Ricardo Antonio Turenko Beça, que também é médico e acompanhou o pai na luta contra o diabetes, Aníbal foi internado por conta de complicações renais, que culminaram em uma infecção generalizada. "Todos os procedimentos médicos foram realizados, mas infelizmente ele não resistiu", disse.

Em junho deste ano, Aníbal Beça já havia sido internado na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Beneficente Portuguesa, onde foi submetido a hemodiálise, depois de complicações renais decorrente do diabetes. Em pouco tempo ele conseguiu se recuperar e retornou à dedicação à literatura e à cultura amazonense.

O velório do escritor será realizado, a partir das 10h30, na funerária Almir Neves da rua Monsenhor Coutinho, no Centro de Manaus. Segundo Ricardo Turenko Beça, o enterro deve ocorrer entre 16h e 17h de hoje, no cemitério São João Batista, na zona Centro-Sul.

Perda literária

Para o escritor Tenório Telles, Aníbal Beça deixa um extenso legado cultural que se incorpora à história da literatura do Amazonas.

- O Anibal é um dos mais importantes escritores da geração dele e firmou o seu nome na poesia, por força do seu trabalho, da sua preocupação com a construção de uma poética fundada no zelo pela linguagem e com o rigor formal, ao mesmo tempo que aliou sua atividade intelectual com a função de animador cultural da cidade - destacou.

Aníbal era pai de quatro filhos: Aníbal, Ricardo, Sacha, e Regina, esta última, filha de criação do poeta. "Perdemos um grande espelho, um grande modelo de candura, bondade e generosidade", disse Ricardo, emocionado.

Breve biografia

Anibal Augusto Ferro de Madureira Beça Neto nasceu no dia 13 de setembro de 1946 e ocupava a cadeira de número 28 na Academia Amazonense de Letras. Além dos inúmeros trabalhos em poesia que publicou durante sua vida literária, o escritor era bastante conhecido como animador cultural no Estado.

Trabalhou como repórter, redator e editor, em todos os jornais de Manaus. Foi diretor de produção da TV Cultura do Amazonas, conselheiro de cultura, consultor da Secretaria de Cultura do Amazonas.

Foi vice-presidente da União Brasileira de Escritores (UBE-AM), presidente e vice-presidente da ONG “Gens da Selva”. Presidiu o Sindicato de Escritores do Estado do Amazonas e Conselho Municipal de Cultura.

Neste ano de 2009 completaria 43 anos de atividade literária e 47 de atuação na música popular, tendo vencido inúmeros festivais de MPB por todo o Brasil.



O Destino
(Pastorália com três leituras para solo de avena)

Em cerdas de seda arremeto em pausa
meu coração toca arremato em pouso
música de pasto linha de nervura
nervos de galope todo corpo é frouxo
na ravina clara todo corpo é fúria

As línguas de fogo são galhos erguidos
incendeiam tufos tuas mãos ardentes
brasas de gramínea regendo canteiros
amornam primícias e a secreta rosa
no rubro casulo desvela essa tosa

Um sol veste orgasmo nas ervas das águas
e se põe arco-íris remato regato
e o jato de curva molhado regaço
alavanca a anca tão umida/mente
em forte arremesso sereno adormeço

Anibal Beça

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

OLIMPIO COSTA (1925-2005)


BIOGRAFIA




por Francisco Miguel de Moura*





Advogado (rábula), jornalista, escritor, poeta e, sobretudo era visionário, não daqueles que põem suas visões e ambições nas coisas materiais, mas dos puros, que desejam viver a vida no quem tem de ser bem vivida, com toda dignidade, liberdade e amor. Homem dos que não olham para baixo, visam sempre as estrelas: Seu último poema, um soneto publicado logo depois da morte por um seu familiar, no “Diário do Povo” de 1º de abril (releve-se a data), dá uma prova incontestável do que digo. Tem o título de MENSAGEM NOTURNA. E é oferecido a Inezita. Transcrevo-o a seguir:

“Ouve, o’ noite de estrelas cintilantes
e rica de saudades, noite quente,
escuta o verso tão sentido, ardente,
d’amor infindo para dois amantes.

Recebe, o’ noite d’astros fulgurantes,
o viajor que vem d’andança ingente,
a palmilhar a via traduzente
d’amor infindo para dois amantes.

Guia-lhe os passos por entre a paisagem,
Ilumina-lhe, o’ noite, esta viagem
Com tuas luzes claras e brilhantes:

E que ele, andando pelo campo etéreo
veja as mil nuvens de negror cinéreo,
com amor infindo para dois amantes!”

Olímpio Vaz da Costa Neto, assim é seu nome todo, nasceu no dia 28 de maio de 1925 e faleceu agora, final de março do corrente ano, não deixando nenhum livro publicado ao que se sabe. Mas participou da “Antologia Poética Piauiense” de J. Miguel de Matos, e da “Antologia de Sonetos Piauienses”, de Félix Aires, respectivamente de 1973 e 1974, com sonetos e poemas diversos, além de ter escrito alguns livros que deixou inéditos, entre os quais “Pigoitas Bravias” (romance), saga de cassacos de alguma parte do Brasil onde esteve e trabalhou, sofreu e observou. Tomei conhecimento dessa sua atividade sua em 1967, quando eu, Hardi Filho e Herculano Moraes levávamos avante o movimento chamado “CLIP”, renovador das letras piauienses, nos anos sessenta e começo dos setenta. Naquela época, por uma questão que hoje já não interessa mais, estava preso no Quartel da Polícia Militar do Piauí e lá fizemos uma entrevista que figurou no nosso jornal “O CLIP”. Por esta e por causa de sua postura em favor da liberdade de expressão e da sua expressão poética e jornalística, consideramo-lo do nosso movimento “clipiano”, embora, na verdade não tenha dele participado oficialmente. Ou seja, assinando o nosso Estatuto.

Uma poesia sua citei. Outras, os leitores já sabem onde encontrar. O espaço não é próprio para a crítica literária, nem a estou fazendo. Prefiro passear pelo seu modo de ser e aparecer na sociedade dos homens. Quem não o viu andando pelas ruas de Teresina, sempre de cabeça erguida, normalmente de terno, barba e fumando seu cachimbo? Chegava a parecer uma daquelas personalidades clássicas das letras e da cultura, um Eça (ou um, dos seus personagens), um Ramalho Ortigão ou outro nobre de Portugal ou do nosso Império, dado o seu porte cavalheiresco impecável.

Poeta ou filósofo? Mesmo que o ainda não tivesse visto perguntaria. E se se respondesse uma coisa ou outra, não erraria. Olhar de visionário, de quem enxerga de longe as coisas maiores e mais elevadas e procura aquilo que acha que é o fim do homem: a glória infinita junto de Deus, que é todo Amor, todo Beleza. Na minha visão, era assim Olímpio Vaz da Costa Neto. Para nós terrestres, o desejo de que descanse em paz, pois era isto que buscava na vida.
_________________________
*Francisco Miguel de Moura, escritor e poeta brasileiro, mora em Teresina,Piauí. Seu imeile:
franciscomigueldemoura@superig.com.br

sábado, 11 de abril de 2009

HARDI FILHO - Poeta




Biografia:



Por
Francisco
Miguel
de Moura*







HARDI FILHO é o nome literário de Francisco Hardi Filho, nascido em Fortaleza, Estado do Ceará, no dia 5 de julho de 1934. Veio para o Piauí já funcionário público federal (IBAMA) e aqui fundou raízes sentimentais e familiares. Não há hoje ninguém mais integrado ao Piauí do que Hardi Filho, a quem a Assembléia Legislativa, num ato de justíssimo reconhecimento, concedeu o título de cidadania piauiense. Começou parnasiano-simbolista com “Cinzas e Orvalhos”, editado em 1964 – livro premiado pela Prefeitura Municipal de Teresina (1963), quando a comissão julgadora composta por três ilustres membros da Academia Piauiense de Letras (Fontes Ibiapina, Mário José Batista e Júlio Martins Vieira), assim expressa, em seu parecer final: “O poeta canta, em CINZAS E ORVALHOS, com uma linguagem meridianamente simbólica, clássica, por vezes pessimista. Mas o sabor artístico, tão atual quanto sugestivo, prende o leitor em meditações profundas. Sabe, com adequação de termos, concatenar pensamentos em versos rimados, metrificados e cadenciados sem suscetibilizar a viga mestra das correntes e escolas atuais. É um verdadeiro artista na expressão da palavra. Chega a fundir pensamentos contrários e antagônicos, como premissas, para chegar à conclusão dum silogismo perfeito, como seja: “Santa mulher, diabólica figura! / Tempestade da minha primavera! / Noites e dias cheios de ventura / Porque ela em tudo está presente e impera”. Espontaneidade da expressão, técnica do verso, acuidade do pensar e equilíbrio do sentir, eis a qualidades mais referidas pelos acadêmicos.

Inicialmente filiado à corrente simbolista, na qual o Piauí tem em Celso Pinheiro seu representante maior, Hardi Filho evoluiria para a poesia moderna, especialmente depois da fundação do CLIP – Círculo Literário Piauiense (de cuja entidade foi o Secretário Geral) – e a convivência com os seus poetas e companheiros de luta. Hoje faz poemas genuinamente modernos, com a mesma qualidade dos grandes poetas, sem, no entanto, abandonar o soneto, em cuja espécie é o nosso represente maior, ainda vivo. E continua na luta para que a poesia, o fogo da arte, não morra, pelo contrário, seja transferido, e cada vez mais forte, às novas gerações.
Membro ilustre da Academia Piauiense de Letras, ocupando a cadeira nº. 21, justo aquela que teve como seu primeiro ocupante o poeta da Costa e Silva. Pertencente à União Brasileira dos Escritores do Piauí, em cuja entidade foi Secretário, gestão do poeta Francisco Miguel de Moura, Hardi Filho foi também Secretário Executivo do Projeto Petrônio Portela, órgão da Fundação Cultural do Piauí, e Chefe de Gabinete da referida Fundação.

Jornalista profissional, embora tenha pouco atuado na imprensa do Piauí, sem, no entanto, dispensar-se de grande colaboração em artigos e crônicas, algumas destas reunidas em livro que espera publicação.

Poeta nobre, mesmo quando se submete a temas populares. Sua dicção é de uma dignidade que não se encontra facilmente na literatura brasileira. Poucos poetas se lhe igualam. Nada surpreendente, pois, encontrar nele próprio esta premonição em “Teoria do Simples”, 1986: “O privilégio do verso me esperava”.

Obras publicadas:

Cinzas e Orvalhos (1964), Gruta Iluminada (1970), De Desencanto e de Amor (1983), Teoria do Simples (1986), Suicídio do Tempo (1991) (Cantovia (1993), Estação 14 (1997), Veneno das Horas (2000), O Dedo do Homem – prosa/memória (2000), O Sonho dos Deuses e os Dias Errantes (2001), Tempo Nuvem (2004), Poemas da Mesma Fonte - Adélia (2006) e Tempo Contra Tempo – Sonetos em parceria com Francisco Miguel de Moura (2007). Além da poesia, publicou dois títulos de crítica: Poesia e Dor no Simbolismo de Celso Pinheiro (1887) e Oliveira Neto, Poeta do Amor e da Alegria (1993).

Poemas de Hardi Filho:


ARTISTA


No atelier da vida, solitário,
somente em comunhão com a fantasia,
eu fui o artista que criou miragens
para conforto de ânsias infinitas.

Eu fui, também, aquele que traçou
formas de vida pelo sentimento;
o gênio louco que ideou amores
para sustento, amparo da esperança.

Insano escafandrista dos mistérios,
fui tradutor das emoções do mundo
e desenhista da volúpia eterna.

De pé, trêmulas mãos, olhos insones,
fui satanás sedento de domínio,
fui deus criando e alimentando sonhos!


RIO-VIDA


É comparável com aquela faca
de dois gumes o carma da pessoa;
da anônima ou da que se destaca,
da que vai certa, da que segue à-toa,

da que navega em navio ou canoa
no rio-vida, onde não há atraca –
só o barulho vento-e-água ecoa
na correnteza forte, média ou fraca.

Com algum tempo, certo é que a matraca
do fim da via também já ressoa...
Então, se às vezes nosso corpo empaca,

há espaços por onde a mente voa!
Nestes é armar e desarmar barraca,
cair e levantar-se numa boa!


SONETO I

Quando o manto da noite tenebrosa
cair sobre minha alma sonhadora,
aniquilando os sonhos cor-de-rosa,
tornando mudo o que sonante fora...

Ó anjo meu, de cabeleira loura!
Eu falo a ti, o sílfide formosa!
Tu, que és minha paixão imorredoura,
que és minha crença edênica, ardorosa:

Não deixes que me levem para alguma
caverna onde se acabem, uma a uma,
as minhas tristes células paradas.

Quero que o sol surgindo em outro dia
lance seus raios pela relva fria
e aqueça as minhas cinzas orvalhadas.


EXDRÚXULO

A prata, o caviar, a mesa elástica
riem do pobre
e lhe pesam no vazio do estômago

O lustre, o veludo, o mármore
esbofeteiam
a face do menino pálido

Dói no seu corpo o sacrifício
da ingênua espera:
aberta mão ao desviado prêmio.

De tanto conviver com áscaris
morre o menino
de alma e coração imáculos

Uma paixão antiga, hoje única
domina o mundo
É torturante a dor sem número.

                     AMOR PERFEITO
                                              
                        Nunca me canso de dizer que te amo!
                        Por que calar o que me vai no peito,
                        se a vida me é mais vida desse jeito?
                        se neste sentimento é que me inflamo?

                         Quem ama como eu amo tem direito
                          de proclamá-lo assim como proclamo,
                          porque é escravo e ao mesmo tempo é amo
                          nos labirintos de um amor perfeito.

                           - Com  que medida meço o teu valor,
                            paixão! E o tempo que te quero assim!
                            Ai, o que andamos entre espinho e flor.

                            Nas chamas deste fogo que arde em mim,
                            amor, eu me convenço: Nosso amor,
                            como o tempo e o espaço não tem fim.
 
________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta da geração 60 (membro do Circulo Literário Piauiense – CLIP, como o poeta Hardi Filho), preparou esta biografia do colega clipíano, com base na bibliografia do Autor e apoio nas seguintes obras: – “Dicionário Biográfico de Escritores Piauienses de Todos os Tempos”, 1995, de Adrião Neto; “Literatura Piauiense”, 2003, de Luiz Romero Lima; “Antologia dos Poetas Piauienses”, 2006, de Wilson Carvalho Gonçalves; e “Literatura do Piauí”, 2001, de Francisco Miguel de Moura.


sábado, 20 de dezembro de 2008

JOSÉ AFRÂNIO MOREIRA DUARTE - BIOGRAFIA

por Francisco Miguel de Moura



Biografia:

José Afrânio Moreira Duarte nasceu em Alvinópolis-MG, em 8 de maio de 193l e faleceu em 3 de junho de 2008. Nos seus 77 anos completos só fez o bem, pois era uma pessoa culta, simpática e boa, ciceroniando os escritores e artistas que iam a Belo Horizonte, lendo os estreantes e escrevendo na imprensa seus bem desenhados e pensados artigos sobre a cultura brasileira, especialmente a literária. Conheci-o nos anos 70, quando publicara “A Muralha de Vidro” (1971) e eu surgia como um novo crítico no território literário brasileiro, com “Linguagem e comunicação em O. G. Rego de Carvalho”. Recebendo seu livro de contos, fiz um artigo pequeno mas positivo. Foi através de O. G. Rego que nossa amizade literária praticamente começou. Nem sabia eu, em 1971, que o contista José Afrânio havia publicado Fernando Pessoa e os caminhos da solidão “(1968), da maior importância para a cultura brasileira – crítica consciente e sentida, nos moldes da nova crítica, e que havia estreado no conto com “O Menino do Parque” (1966), coincidentemente no mesmo ano da minha estréia. Outras obras que José Afrânio escreveu e publicou: “Alvinópolis e a literatura” (antologia), 1973; “Tempo de Narciso”, (poesia), 1975; “De conversa em conversa” (entrevistas), 1981; “Opinião literária”, (crítica), 1981; “Impressões críticas” (crítica), 1991; “Henriqueta Lisboa: poesia plena” (crítica), 1996 e “Azul: Estranhos caminhos” (contos), 2003.
Participou de várias antologias. As mais importantes: “Brasil, Terra & Alma: Minas Gerais”, organizada por Carlos Drummond de Andrade, e “Flor de Vidro”, organizada por Wagner Torres, ambas de contos. Tradutor de “Las Siete Palabras”, do chileno Juan Antonio Mafrone, prêmio de melhor tradução publicada no Brasil em 2002, da União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro – Ed.Kelps, Goiânia-GO.

Contista, poeta, crítico literário, formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, e funcionário público federal. Excetuados alguns anos em Juiz de Fora onde continuava seus estudos, desde que saiu de Alvinópolis-MG, sua cidade natal, sempre morou em Belo Horizonte, onde faleceu. Tal qual a maioria dos escritores, sua vida corria mais por conta do espírito que da matéria. Por isto a literatura, atividade a que deu grande impulso em Minas e por que ficou conhecido em todo o Brasil, e as artes, especialmente o teatro, tomaram lugar de destaque. Assim, ganhou vários prêmios literários e tornou-se membro da UBE (União Brasileira de Escritores), da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e da Academia Mineira de Letras. Dos 28 prêmios que recebeu, os que mais se destacam são o “João Alphonsus”, o “Pandiá Calógeras” e o “Sílvio Romero”, este, da Academia Brasileira de Letras.
Inquieto literariamente, embora parecesse muito tranqüilo na vida social, ficou conhecido no Brasil inteiro por sua colaboração em jornais de todo o Estado e de muitos outros do país, e por causa dos verbetes em enciclopédias e dicionários famosos como o Dicionário Literário Brasileiro, de Raimundo de Menezes, na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa e na Grande Enciclopédia Delta Larousse, além de em inúmeras publicações destinadas apenas aos contistas como Bibliografia do Conto Brasileiro, de Celuta Moreira Gomes e Tereza da Silva Aguiar, O Conto Brasileiro e sua Crítica, das mesmas autoras. Também seu nome e sua obra circularam no exterior, especialmente na França e nos Estados Unidos. Sabia falar espanhol, francês e italiano. Leu desde cedo os clássicos, de onde fluiu sua escrita séria, envolvente e sábia, e seu estilo que, conquanto romântico em matéria/conteúdo, é seguro, sereno e quase apolíneo.

Embora as biografias sejam concretas, específicas e cheias de dados que têm o fim de provar que o autor tem merecimentos, esta merece muito mais ainda. Referência de caráter sentimental é a que o poeta Gabriel Bicalho, mineiro, contemporâneo, que me fez, via internet, após o falecimento de José Afrânio: “Caríssimo amigo Francisco Miguel de Moura: O José Afrânio faleceu no dia 3 de junho, e fiquei sabendo através da comunicação de outros amigos escritores. Eu sabia que ele estava doente e já pressentia o seu passamento. Por isto, datei a “ELEGIA PRESSENTIDA” com a data de 3, porque a fiz no exato momento em que soube da notícia que me chegou pela poetisa Tânia Diniz, ontem dia 4. Então, amigo, perdemos o nosso grande incentivador de escritores novatos! Lembro-me de que, em 1970, ao ganhar um prêmio literário em Barbacena-MG, tive o primeiro contato com José Afrânio, por carta e mais adiante, pessoalmente, quando foi visitar a sua terra natal, Alvinópolis, tendo chegado a Ponte Nova – MG, que fica próxima da cidade para onde ia, visitando-me. Ficamos amigos e a generosidade do José Afrânio muito contribuiu para que eu desse continuidade aos meus trabalhos literários, apresentando-me a escritores já consagrados e que me estimulavam a produção: como fazia com tantos outros jovens escritores ou novatos nos meios culturais, chegando a ser reconhecido como “Embaixador da Cultura Mineira”, porque divulgava com dedicação a produção de todos os escritores que chegou a conhecer. Assim, amigo, ficamos mais pobres na área literária, perdendo um grande escritor e incentivador de talentos! Agradeço-lhe o contato, que não deverá limitar-se a apenas este: remeta-me novos trabalhos seus para o “Jornal Aldrava Cultural” cujo site é www.jornalaldrava.com.br/ veja todos os números editados de forma impressa, comente comigo a respeito, pode sugerir-me o que fazer para melhorá-lo. Volte a Minas e avise-me quando chegar, para que possamos bater um papo. Saudações a sua família. Meu abraço fraterno: Gabriel Bicalho.”

Agora falta a transcrição do poema “ELEGIA PRESSENTIDA”, de Gabriel Bicalho, dedicada a José Afrânio Moreira Duarte e mencionado acima:

“quando a borboleta negra / pousa em nossas trilhas / fecha-se o sol e o girassol // amigo / irmão / josé afrânio: / não faz escuro a teu redor! // anjos dialogam tua serventia / e o brilho que solitário emanas / transpõe fronteiras além céu: // é que deus convoca os puros / a espargirem luzes pelo cosmo! // estás definitivo e belo feito / estrela de primeira grandeza //: em absoluto silêncio / para o equilíbrio telúrico / de nossos quatro elementos! // e choro a indesejável surpresa / de tua ausência antes pressentida // agora // pelas alamedas da tristeza / os ciprestes se curvam / à tua eternidade! // e não faz ventania!”

Poeta Bicalho, um brado de bravura ao grande José Afrânio!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

JAMERSON LEMOS - BIOGRAFIA

BIOGRAFIA

por:
Francisco Miguel de Moura*


Jamerson Moreira de Lemos nasceu em Recife (PE), em 22-12-1945 e faleceu recentemente em Teresina (5-8-2008). Poeta, deixando sua terra, viveu alguns anos em São Luís (MA), onde certamente se contaminou com a boa poesia daquela Província iluminada, de Gonçalves Dias a Ferreira Gullar, pra não falar nos mais novos. Tanto é verdade que o seu primeiro livro foi editado pelo Governo do Maranhão, com a participação da Academia Maranhense de Letras, no final da década de 60, século XX. Sempre o parto do primeiro livro é longo, por vários fatores que não cabe aqui explicar. Não poderia ser diferente com Jamerson Lemos. Saiu com o nome da “Superfície do Vento”, 1968, seleção de um calhamaço que me mostrara antes, com o título provisório de “Cerca de Arame”. Depois publicaria ainda “Sábado Árido” (1985) e “Nos Subúrbios do Ócio” (1996), ambos em Teresina. Deixou muitos inéditos, entre os quais “Istmo Soledad”, ao qual dei um prefácio já publicado aqui e alhures, situando sua poesia e seu fazer poético entre os melhores cultores da poesia-práxis, uma corrente derivada do concretismo, cujos poetas brasileiros mais conhecidos são Mário Chamie, Armando Freitas Filho, Mauro Gama e Adailton Medeiros (este natural de Caxias-MA). Esse modo de fazer poesia valoriza o ato racional de compor e busca um sentido intercomunicante entre versos e palavras, tudo integrado ao real quotidiano, objetivo, ou seja, o dado social-histórico vai de braços dados com a poesia e a pesquisa semântica ou semiológica. Quem mais se celebrizou neste “sertão-vereda” foi o João Cabral de Melo Neto, pernambucano como Jamerson Lemos. A preocupação maior com letras, sílabas e palavras do que com o espaço em branco ou preto da página faz da poesia de Jamerson um antilirismo que a muitos preguiçosos assusta. Mas, se bem observada, sua poesia é de um apaixonado das coisas belas, dos sentimentos mais puros e da riqueza na expressão, num estilo que parece desinteressado da vida e do real, deixando visível a veia do bom humor em todos os poemas.
A poesia-práxis é do Brasil dos anos 60. O CLIP – Circulo Literário Piauiense, movimento daquela década, de certa forma enquadra bem a poesia deste poeta que entrou para a convivência dos clipianos. Se do CLIP não fez parte oficialmente, foi por ter chegado ao Piauí pouco depois. Mas, de tal maneira integrou-se aos criadores do CLIP (Hardi Filho, Chico Miguel e Herculano Moraes), que seria pecado não incluí-lo nessa geração cujos efeitos ainda ressoam.
Casado com dona Maria das Dores de Morais Lemos, funcionária dos Correios já aposentada, Jamerson Lemos deixa órfãos seus dois filhos: Juninho e Ceres Josiane.
Duas vidas: uma, a familiar e sentimental como poucos; outra, a profissional, onde se desdobra para conciliar o vendedor de imóveis com o poeta. Reconhece Alberoni Lemos que não foi fácil ao poeta Jamerson Lemos. Daí que é impossível saber bem de sua poesia sem o conhecimento do homem, que se dizia descendente de judeu, em seus conflitos filosóficos e existenciais – acrescenta o grande homem de imprensa, Alberoni Lemos.
Mas, um pouco da poesia jamersoniana fará bem, seria mesmo imperdoável que não se oferecesse ao leitor. Então, com o título “Do movimento à noute” vai como exemplo:
“O mistério da espuma do mar / é não haver mistério algum. / Fundo longilíneo / maravilhoso o mar não se sabe um / convite à morte ao amor à / vida. Há mistério, há? // A espuma do mar longe de ser algo / incógnito, transcendental, flora / estrelinhas nas algas, águas, / sargaços e areia, namora / da luz às conchas, à lua minguante / e permanente se renova.” // Do mar o mistério da espuma / inexiste – bolhitas ou escumas –/ existe o mistério à bruma / de noite à noute uma a uma / a onda virada serpente / engole a solidão da gente.” (in “O Estado”. 04-10-87, Teresina, PI).
Hardi Filho considera que “J. Lemos, o boêmio navegador de ares e bares, nos dá um exemplo de modernidade poética soberba e despreocupada”, enquanto A. Tito Filho diz que “no poeta há sobretudo intensidade de expressão artística e estranho brilho verbal”.
Sim, mas resta dizer que Jamerson Lemos, da geração dos anos 60 (leia se CLIP), além de sua participação na vida cultural no meio piauiense, registrou-a valorosamente com dois prêmios importantes que recebeu, no Piauí: um da Academia Piauiense de Letras e outro da Fundação Cultural do Piauí, ambos de poesia. Desta forma, é impossível que o Piauí não o reconheça como seu poeta, aliás um dos mais singulares, como consta de “ A Poesia do Piauí no Século XX”, antologia organizada por Assis Brasil, Editora Imago, Rio, 1995.
3 POEMAS de JAMERSON LEMOS:

NAS RUAS

não mais voltarei aqui
seguirei as curvas do vento
tentar não tendo
assim eu me perdi

nada do que vi vi
nisso me acalento
foi bom todo momento
vivi

subida descida
noite amanhecida
espuma do Mar

tempo sem bruma
lua me luma
ar

DEPOIS DO DESERTO

Maripositas brincam da luz
pepitas vivas no Ar
não cansam de voar
em xis e em cruz

meu peito vive a bailar
assim me conduz
Mariposa me reluz
à Luz do Luar

sigo por essa Rua
de Alma nua
nem sei pronde vou

tenho pouco de oiro
trago-a cravada no coiro
antes do Vôo


CHARADA

Uma pessoa não é só uma
São duas três pessoas
Enigma incógnita bruma
Noite misteriosa voas

Tranqüilidade noturna das lagoas
Cabeça como sino soas
Diz-me que alma é verruma
Quantos somos em suma?

Vida é viagem
Viajar e margear
Floresta deserto penhas miragem

Corpo uma bagagem
Flor a florar
Passagem.


_________________
*Francisco Miguel de Moura, membro da Academia Piauiense de Letras, poeta e romancista, crítico e cronista, pertence à Geração do CLIP, anos 60 brasileiros.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

MONTEZUMA DE CARVALHO

BIOGRAFIA


Por Francisco Miguel de Moura*


JOAQUIM DE MONTEZUMA DE CARVALHO nasceu em 21 de novembro de 1928, na Freguesia de Almedina, em Coimbra, Portugal, em cuja Faculdade Direito se licenciou. Logo após, expatriou-se para Angola e Moçambique onde exerceu funções nos registros e na magistratura (Nova Lisboa, Inhambane e Lourenço Marques) até 6 de abril de 1976. Retornado a Portugal, exerce a advocacia em Lisboa.
Em 1951, sendo estudante, tomou a iniciativa da homenagem a Teixeira de Pascoaes, publicando o livro coletivo A Teixeira de Pascoaes. Em 1953, traduz e prolonga Teixeira de Pascoaes, do italiano Guido Battelli. Em 1957, lançou em Angola o Epistolário Ibérico Cartas de Pascoaes e Unamuno. Em 1958, ano da morte de Joaquim de Carvalho, organizou os livros Joaquim de Carvalho no Brasil e Miscelânea de Estudos a Joaquim de Carvalho. Fundou, ainda, na Figueira da Foz, a Biblioteca-Museu Joaquim de Carvalho e a Sala Joaquim de Carvalho, esta última ligada à Biblioteca Municipal. De 1958 a 1965, financiado pelo município de Nova Lisboa, Angola, organizou e publicou os quatro tomos do Panorama das Literaturas das Américas, de 1900 à Actualidade, obra até hoje sem equivalente na sua dimensão global e qualidade de colaboradores directos. Em 1965 apresentou os escritores luso-brasileiros nascidos neste século (XX) na obra francesa Ecrivains Contemporaine (Ed. Mazenod, Paris). Em 1963 fez parte do júri internacional que atribuiu ao mexicano Octavio Paz o Grande Prix de Poésie, prêmio belga.
Os seus escritos versando literatura, filosofia e história figuram principalmente no estrangeiro. No Brasil, nos diários “O Estado de São Paulo” e “Tribuna de Santos”, na revistas “Expoente”, “Comentário”, “Kriterion”, “Minas Gerais”,” Jornal de Letras”, Ita-Humanidades”, “Letras de Limeira”, “Revista Brasileira de Filosofia” e “Revista de Letras”; na revista “Relligione Oggi” (Roma); na “Revista Interamericana de Bibliografia” (Washington); nas revistas do México “Norte”, “Vida Universitária”, “Sembradores de Amistad”, “Comunidad”, “Nível” e “Humanitas”, no diário “El Universal” (Equadror); na revista “Humboldt” (Alemanha) e “Repertório Latinoamericano” (Buenos Aires-Argentina).
Pelo timbre destas colaborações, alheias a qualquer paternalismo oficial, mereceu algumas distinções estrangeiras. Assim, é membro de The Hispanic Society of América (New York); da Academia Carioca de Letras e da Academia Santista de Letras; do Grupo América (Uruguai); convidado do Instituto Internacional de Literatura Ibero-americana (Universidade de Pittsburg, USA) e do Primeiro Congresso de Literatura Ibero-americana da Bienal de São Paulo (Brasil, 1970). Em 1971 foi-lhe outorgado prêmio mexicano José Vasconcelos, que tem distinguido personalidades como León Felipe, Salvador de Madariaga, Félix Martí Ibañez, Luiz Alberto Sanches, Jorge Luiz Borges, Gilberto Freyre, Diego Abad de Santilián, Ubaldo di Benedetto, etc.
Figuras como Miguel Angel Astúrias, César Tiempo, Demetrio Aguilera Malta, etc. comentaram o seu labor cultural e internacionalista.
Este curriculum figura na capa do livro António Sérgio, a Obra e o Homem (Ed. Arcádia, Lisboa, 1979). Depois desta obra, publicou ainda: Crónica de uma viagem à Costa da Nina, no ano de 1480, de Eustache de La Fosse (Ed. Vegga, Lisboa, 1992); Destino e Obra de Camões, de Jorge Luís Borges (Edições do Tâmega, Amarante, 1993) Da alma portuguesa/da alma galega, por Joaquim de Carvalho/Camilo José Cela (Ed. do Tâmega, Amarante, l995); e Sor Juana Inés de la Cruz e o Padre Antônio Vieira ou a disputa sobre as finezas de Jesús Cristo (Ed. Frente de Afirmación Hispanista, A. C., Ciudad de México, 1998; Um abraço de Espanha a Garett: Juan Valera, Marcelino Menéndez y Pelayo e Ramón Menéndez Pidal”, 1999, obra esta publicada pela Direção Regional de Cultura, Angra do Heroísmo, Açores; em junho de 1999 foi designado membro da International Parliament for Safety and Peace/Intergovernmtal Organization for the States, ONU. em New York. Em 1999 foi eleito membro da Academia Norteamericana de la Lengua Española (correspondente de la Real Academia Española de Madrid), academia esta galardoada em setembro de 2000 com o Prémio Príncipe das Astúrias, de Espanha.
Em 1999, foi designado Cavaleiro da Ordem de St. Eugène de Trebizonde, de Espanha, presidida pelo Príncipe Juan Arcádio Láscaris Comneno, seu Grão Mestre.
Na atualidade colabora, activamente, no Caderno Literário do diário “O Primeiro de Janeiro”, de Porto/Portugal; e no “Diário dos Açores”, de Ponta Delgada, Açores, Portugal. Em 2001 fez reeditar a obra Amarante, de Joaquim de Vasconcelos (1849-1936), com introdução sua (Edições do Tâmega, Amarante); a obra Vida de Bento de Espinosa, por João Colerus (1647-1707), com introdução de seu pai Joaquim de Carvalho (1892-1958) e tradução de J. Lúcio de Azevedo directamente do holandês; e viu reeditar-se em Buenos Aires, em versão bilíngüe, Destino e Obra de Camões, por Jorge Luís Borges, com introdução do Dr. José Augusto Seabra, Embaixador de Portugal na Argentina, em 2001, e de Miguel de Torre Borges (sobrinho de Borges), sendo, no castelhano, traduzido por Rodolfo Alonso e Miguel Vigueira, cuja edição original (Ed. do Tâmega), Amarante, Portugal) fora de sua iniciativa.
Esses dados me foram enviados pelo próprio Joaquim de Montezuma de Carvalho, parte digitados, parte escritos a mão por sua própria caligrafia, esquecendo-se de colocar a data de quando o fez, entretanto, tudo indicando que foi após a entrada do século. Depois é que publicaria Cervantes em Portugal (Edições Nova Veja, Lisboa, 2005), uma obra bastante original onde desvenda as viagens de Cervantes e mostra que Portugal era muito mais o centro do mundo, naquele tempo, do que Espanha e quejandos. Joaquim de Montezuma de Carvalho, que de forma natural é um escritor barroco, como a maioria dos historiadores que conheço, aqui se abranda em frases límpidas, lógicas, para melhor esclarecer a verdade verdadeira tão importante quanto a que tomou a ombros sobre o inventor do romance ocidental. Dizendo assim, friso que, dentro do estilo mencionado, o barroco, o escritor consegue ser muito poético, e Montezuma de Carvalho o é. Assim é que sempre teve propensão pela poesia e pelos poetas, preferência talvez maior do que pelos filósofos, ao contrário de Joaquim de Carvalho, seu pai, que preferiu os filósofos e as filosofias. Não obstante, Montezuma também gostava destes, especialmente de Espinosa, sua especial paixão.
Mais alguns elementos de sua biografia estão no e-mail de 7 de março de 2008, que me foi enviado pelo Sr.Mário Jorge Ferreira, da cidade de Guimarães, Portugal. Transcrevo-o, então, integralmente:
“Um mensageiro da universalidade (in O Primeiro de Janeiro, 7-3-2008), Joaquim de Montezuma de Carvalho faleceu ontem, às 6 h 40 m, no Hospital S. José, em Lisboa, vítima de doença prolongada. O corpo estará hoje em câmara ardente a partir das 16 horas na Capela Nossa Senhora dos Remédios, em Alfama, donde sairá, amanhã, às 9h30 para o Cemitério do Alto de São João, onde se realiza o funeral pelas 10 horas. Ana Sofia Rosa, o filho Joaquim Montezuma de Carvalho, também advogado, falou ao “Janeiro” do legado do seu pai – ‘uma homem das letras, um filósofo que abominava a política’. (...)
No final dos anos 50, o jovem advogado partiu para Angola. Começou por ajudante de conservador do Registro Civil e Comercial de Lourenço Marques, onde casou com Maria Júlia Neto da Silva, acumulando funções na magistratura. O filho único recorda, desde tenra idade, o gosto do pai pela escrita, pelos escritores e pela literatura, que considerava universal e uma. ‘Não era pessoa de perder tempo a ver televisão ou a ir ao cinema. Os seus temas de conversa à hora da refeição eram um regresso aos escritores. ’ – recorda.
Amigo do poeta Jorge Luís Borges, que conheceu na Argentina, do escritor colombiano Gabriel García Márquez e do autor mexicano Octávio Paz, ambos prêmios Nobel de Literatura, e de Aquilino Ribeiro, o pensador Joaquim de Montezuma de Carvalho gostava de se isolar no meio dos livros, queria ter o essencial e era um homem de gostos muito simples: ‘O meu pai não se interessava pelas questões monetárias, apesar de ser advogado como eu. ’ O filho adianta: ‘Quando ele era novo teve autismo e fechava-se na biblioteca do meu avô, o filósofo e historiador figueirense Joaquim de Carvalho. ’
De regresso a Portugal, em 1976, exerce a advocacia em Lisboa e dá início a uma carreira de escritor e de divulgador da cultura portuguesa. Os seus escritos, que versam sobre literatura, filosofia e história figuram principalmente no estrangeiro. Colaborador, com aprofundados ensaios, do das Artes das Letras de O Primeiro de Janeiro, desde 1999. ‘todas as segundas-feiras, pedia-me para tirá-lo da internet’– recorda.
Joaquim de Montezuma de Carvalho despertou o interesse do filho por diversos autores. ‘Eu gostava muito de Júlio Verne, de Camilo Castelo Branco, de Eça de Queirós e ele apresentava-me os grandes autores mundiais. ’, partilha, lembrando que trocavam frequentemente impressões sobre o que estava a escrever. Autor de vasta obra no campo do ensaio, Joaquim de Montezuma de Carvalho foi distinguido com a Medalha José Vasconcelos, no México, atribuída pela Frente de Afirmación Hispanista, com sede em Nova Iorque, pelo volume O Panorama das Literaturas das Américas. Por ser autor de uma vasta bibliografia consagrada às cultura portuguesa e hispânica, foi designado, em 1999, Cavaleiro da Ordem de Santo Eugênio de Trebizonde, da Espanha.”


 
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, já publicou cerca de 30 livros, muitos trabalhos seus foram divulgados no exterior: Portugal, Espanha, França, Cuba, Itália, Estados Unidos. Mora no Piauí. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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Nota: Matéria sobre o escritor português Joaquim de Montezuma de Carvalho que foi publicada na WEB: http://www.franciscomigueldemoura.blogslpot.com e em www.usinadeletras.com.br

terça-feira, 10 de junho de 2008

BIOGRAFIA - FRANCISCO MIGUEL DE MOURA




Francisco Miguel de Moura*
Por ele mesmo







Nasceu em Francisco Santos-PI (outrora “Jenipapeiro”, município de Picos, sertão do Piauí), aos 16 de junho de 1933. Estudos primários com seu pai; ginasial e contabilid
ade, em Picos, onde casou e fixou residência por alguns anos. Formado em Letras pela Universidade Federal do Piauí e pós-graduado na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, onde residiu cerca de 3 anos. Funcionário aposentado do Banco do Brasil. Mestre-escola como seu pai, funcionário público municipal (escrivão de Polícia), radialista, professor de língua e literatura, cujas atividades não mais exerce. Dedica-se exclusivamente a ler, escrever, fazer palestras e brincar com os netos.

Colabora nos diversos jornais de seu Estado, entre os quais “O Dia”,Diário do Povo” e “Meio Norte”; nas revistas “Literatura”, de Brasília (hoje editada em Fortaleza), “Poesia para todos”, do Rio; “LB - revista da literatura brasileira”, São Paulo; “Almanaque da Parnaíba”, “De Repente”, “Revista da Academia Piauiense de Letras”, Cadernos de Teresina” e “Presença”, de Teresina. É também colaborador permanente dos jornais “Correio do Sul”, Varginha, MG; “Diário dos Açores”, das Ilhas dos Açores e “O Primeiro de Janeiro” (Suplemento Cultural “das Artes das Letras”), de Porto, Portugal. Ultimamente, vem sendo editado pelas revistas “Lea” e “Clarín”, editadas na Espanha; “Pomezia-Notizie”, Itália; e “Jalons”, na França.

É sócio efetivo da União Brasileira dos Escritores e da Academia Piauiense de Letras, e membro-correspondente da Academia Mineira de Letras e da Academia Catarinense de Letras.

Por força de sua atividade como funcionário do Banco do Brasil, morou na Bahia e no Rio, e por último em Teresina, onde concebeu e publicou a maioria de suas obras.

OBRA: POESIA

Estreou-se na poesia, em 1966, com o livro “Areias”, editora Correio de Timon Ltda. Timon - MA, 1966. Publicou depois “Pedra em Sobressalto”, Rio, 1972; “Universo das Águas”, Teresina, 1979; “Bar Carnaúba”, Teresina, 1983; “Quinteto em mi(m)”, Rio, 1986; “Sonetos da Paixão”, Teresina, 1988; “PoemasOu/tonais”, Teresina, 1991; “Poemas Traduzidos”, Teresina, 1993; “Poesia in Completa”, Teresina, 1998 (comemorando os 30 anos de “tensa comunhão com a palavra”, no experiente dizer da Profª Nelly Novaes Coelho); Vir@gens, Rio, 2001, “Sonetos Escolhidos”, Rio, 2003, “Antologia”, Teresina, 2006, e Tempo contra Tempo”, Teresina, 2007 (este em co-autoria com Hardi Filho), tudo isto na área da poesia. Participou da antologia “A Poesia Piauiense do Século XX”, organizada por Assis Brasil, e de outras antologias poéticas editadas do Nordeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil, assim como de outras do exterior (Estados Unidos, França, Cuba e Portugal).

OBRA: PROSA

Em prosa é autor de “Os Estigmas” (1984, reeditado em 2004), “Laços de Poder” (1991), “Ternura” (1993) e “D. Xicote” (2005), com o qual ganhou o prêmio Fontes Ibiapina em 2003, prêmio que, aliás, já lhe tinha sido conferido pela Fundação Cultural do Piauí ao romance “Laços de Poder”, nos idos de 1980. Praticou também o conto inovador em “Eu e meu Amigo Charles Brown” (1986), “Por que Petrônio não Ganhou o Céu” (1999) e “Rebelião das Almas”, 2001. É cronista (E a Vida se Fez Crônica, 1996) e crítico literário de renome (Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho, 1972/1997, 1ª e 2ª edição, respectivamente; A Poesia Social de Castro Alves, 1979, e Moura Lima: Do Romance ao Conto, 2002), tendo recebido prêmios em todos os gêneros literários que vem produzindo. Além desses, devem ser considerados na mesma área “Piauí: Terra, História e Literatura” (1980), “Literatura do Piauí” (2001) e uma biografia de seu pai, “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro”, (2005).

INÉDITOS:

São ainda inéditos, esperando publicação, quatro livros de poemas: “Itinerário de Passar a Tarde”, “O Coração do Instante”, “A Casa do Poeta” e “A Cor, as Cores”, dois livros de crônicas: um sobre a infância – o qual também poderia ser chamado romance-memória – com o título de “O Menino quase Perdido” , outro com o título de “E a Vida se Fez Cômica e um romance com título provisório de “O Crime Perfeito”.

CONCLUSÃO:

A obra de Francisco Miguel de Moura recebeu enorme manifestação da crítica, vinda de escritores de todo o país, inclusive críticos literários como João Felício dos Santos, Fábio Lucas, Nelly Novaes Coelho, Rejane Machado, cujo material foi reunido em dois volumes já publicados: “Um Canto de Amor à Terra e ao Homem” (Editora da Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2007) e “Fortuna Crítica de Francisco Miguel de Moura” (Edições Cirandinha, Teresina-PI, 2008).

Chico Miguel ama as artes, a poesia (literatura) especialmente – pelo trabalho que realiza com a palavra; ama o ser humano (o “eu” e o “outro”) e a natureza, quase como se fosse uma religião sem dogmas. Enquanto as religiões e a ciência são, de certa forma, indiscutíveis, incontestáveis, despóticas, portanto, a arte é humilde e trabalha em torno da humanização do homem, que ainda está bem longe. Talvez essas sejam as razões do seu agnosticismo.

POEMAS de FRANCISCO MIGUEL DE MOURA:

A JÓIA RARA



Luz e sombra dão na mesma cor
dos olhos e do carinho.
Dizem que amor não some,
renasce do lodo, mansinho.

Mas preciso agora escutá-lo,
não abandono o que ganhei,
neste momento, sobretudo,
quando tentam riscar o passado.

Lábios e corações, ó, não se fechem,
os olhos têm a última esperança.
Que reste sempre um fio de cabelo
no tempo de cada um, nas entranhas.

Um vintém de qualquer aventura
para os que não conseguem
nessa margem se perder.


A PARTIDA


Na partida, os adeuses, gume e corte
dos prazeres do amor, quanto tormento!
Cada qual que demonstre quanto é forte,
lábios secos mordendo o sentimento.

Do ser brotam soluços a toda hora,
as faces no calor do perdimento,
olhos no chão, no ar, por dentro e fora,
pedem aos céus a força e o alimento.

Ninguém vai, ninguém fica, se reparte
no transporte que liga e que desliga!
Confusão de saber quem fica ou parte.

Não se explica tamanha intensidade
amarga, e doce, e errante, que interliga
os corações perdidos de saudade.


QUERENÇAS



Quero ter a vaidade dos caminhos:
dão passagem mas pouco dão abrigo.
Quero ter o orgulho do tufão,
Quero ter a tristeza do jazigo.

Quero sentir da tarde a lassidão
e a solidão da noite no deserto,
das pobrezinhas flores – o perfume,
como as nuvens – ficar no céu aberto.

Quero ter emoções de amor secreto,
sentir como se sente uma paixão,
pra cantar glórias e chorar amores.

Quero viver do ideal concreto,
quero arrancar de mim o coração,
incapaz de conter todas as dores.


A BUSCA


É mal-cheirosa a flor,
o espinho não fura...

Ninguém é sincero
nas linhas da lei
ou em notas guturais.

Contra o absurdo,
nos fingimos de mudos,
abraçando o obscuro,
crispando o queixo.

É preciso ir ao fundo
do fundo das partes
da coisa e do homem,
e sentir no que morre
o que não morre atrás.

A busca tem sinal do advir,
na inutilidade do presente.

_____________________
*Francisco Miguel de Moura (o próprio, conhecido também por Chico Miguel) é o poeta biografado. Nasceu no Brasil. Mora em Teresina, Piauí. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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