OSCAR NIEMEYER (1907/ 2012)
*Francisco Miguel de Moura
escritor
Não há pretexto melhor para uma crônica do que a morte de um homem simples e genial, que tinha suas próprias convicções, mas nunca foi político nem escreveu livros, exceto “Minha experiência em Brasília”, depois de ter colocado na prancheta o projeto da cidade mais original e mais moderna que existe no mundo. A corrupção política não chegará ao cúmulo de corromper ou fazer ficar esquecida essa obra gigantesca da arte, no mundo contemporâneo. Editores, estão dormindo? Sonhando com vampiros? Acordem.
Brincando comigo mesmo, digo que minha meta de vida é a do
Niemeyer: viver muito e produzir mais e melhor. Bem que eu gostaria de
escrever algo daqui para frente muito melhor do que já escrevi. Também
fazer como o Oscar Niemeyer: Não misturar ideologia com arte. Pouca
coisa se escreveu sobre ele, salvo as entrevistas, uma ou outra notícia
que se tornaram manchetes de jornais e revistas. Mas o suficiente para
ter uma ideia de sua biografia pode ser encontrado na
internet/wikipedia. Neste país se escreve tanto sobre políticos e
políticas que dá nojo. Até sobre uma Sra. Zélia de Tal (que não pode ser
a escritora Zélia Gatai), e sim aquela que foi ministra do Color,
rechassado do poder por causa da prepotência e da corrupção. Já
escreveram livros até sobre o Lula, repetindo tolices publicadas na
imprensa. Tem gente querendo que ele seja intocável, um ídolo, um santo,
com uma estátua na praça, só porque ele disse “nunca ninguém antes,
neste país...” como se o Brasil tivesse começado com ele e os petistas.
A frase, eu completaria apenas assim: “Nunca antes, neste país, um
governante eleito conseguiu juntar tanta gente ruim na cúpula e na
formação do governo como ele fez. Quem não assistiu e está assistindo
até o último momento ao “julgamento do mensalão”? Graças ao Poder
Judiciário, que, apesar de ter seus membros nomeados pelo Executivo, não
se corrompeu”. Foram só alguns que deixaram rastros, outros ou muito
mais poderiam ser enquadrados. E o próprio Lula, ficou de fora (até
agora), porque “não sabia de nada, não viu nada”... Quem acredita
nisto?
Fala-se mal de Fernando Henrique, que não foi tão ruim e não precisa
ser “demonizado”. Mas ninguém fala em Juscelino Kubtschek, o construtor
de estradas, o desbravador do Planalto Central, criador de Brasília
para ser a nova Capital do Brasil, com a grande, imensa ajuda artística
de Niemeyer. Foi assim: - Oscar Niemeyer e Juscelino tornaram-se amigos
desde quando este era Prefeito de Belo Horizonte. Daí, praticamente
começou a parceria artístico/política. Nosso Oscar Niemeyer já havia
realizado o prédio do Ministério da Educação, no Rio, concluído em 1945,
a primeira obra inovadora da arquitetura contemporânea. Nos anos 1940,
sendo prefeito de Belo Horizonte o Dr. Juscelino Kubtschek de Oliveira
(este que se tornaria, mais tarde, o melhor Presidente do Brasil),
encomendou a Niemeyer o desenho do conjunto arquitetônico da Pampulha.
Começara ali a bela parceria cujo alto momento foi Brasília, nos anos
1960. “Niemeyer foi o arquiteto que inventou o Brasil na ponta dos
dedos”, até mesmo alguns severos críticos admitem esta verdade, registra
a revista VEJA (ed. de 12-12-2012). Desde o início suas obras foram
influenciadas por seu mestre franco-suíço Le Corbusier. A essa
influência, o mestre Oscar Niemeyer acrescentou sabiamente a linha
curva, em cuja direção fez milagres.
“A vida pode mudar a arquitetura. No dia em que o mundo for mais
justo ela será mais simples.” Esta frase representa bem sua ideologia
política: o humanismo, justiça e liberdade. No fundo, Kubitschek também
queria a mesma a coisa, tinha os mesmos princípios aos quais aliava, à
fé, a força e a ousadia. Queriam justiça, não por cima, nem por baixo,
mas para todos, pelo meio. Basta olhar-se a igualdade dos prédios de
apartamento do Plano Piloto, para que tenhamos a prova. Para fazer o
país mudar, em apenas CINCO anos, construiu estradas, rompeu com o FMI e
levantou Brasília no barro vermelho do solitário Planalto Central.
Empregou muita gente. Não deu esmolas. Era um homem simples, perdoava os
seus perseguidores (e teve alguns): Mandava prendê-los hoje e amanhã já
os soltava, perdoando a todos. Nunca mais tivemos um Presidente como
ele. E talvez demore muito, por causa dos desmandos da era “petê”. Como
também ninguém sabe quando virá um artista inventivo, genial, como Oscar
Niemeyer, com suas linhas curvas. E aqui, eu, como um simples
observador da natureza, não acredito que haja linha reta, todas são
curvas no universo. O que chamam de linha reta são apenas pontos iguais,
na mesma direção, como se fossem soldados em fila, de prontidão, ou
mendigos em busca de alguma esmola. Todos os grandes artistas são
curvos, tortos como o anjo de Drummond, também nosso maior poeta do
século XX.
Eis a obra de Oscar Niemeyer, o mestre de toda uma geração: “Todos
os mais de 600 prédios, palácios, residências, templos e monumentos
assinados por ele, em 15 países. Ficarão como marcas indeléveis do que
houve de belo no séc. XX, um tempo sangrento de duas guerras mundiais,
do embate de morte entre duas concepções de mundo, o capitalismo e o
comunismo defendidos ferozmente por arsenais nucleares de lado a lado
que, combinados poderiam destruir o planeta Terra milhares de vezes.
Niemeyer nunca teve dúvida qual era o seu lado. Sempre foi comunista”
(Gabriela Carelli, VEJA, 12-12-2012). Ora, naquele tempo, quem não era
comunista, sobrava a pecha de ser fascista, estar do lado de Hitler. O
homem é sua vida, seu tempo e sua obra. Revolucionário na obra - na vida
foi um cidadão pacato, comum, sem marcas que desmintam o homem direito
que foi. Sabia distinguir as teorias, a política e a arte. Normalmente
aqueles que assim não agem terminam por arrepender-se. Niemeyer não se
perturbava com a rotineira pergunta da imprensa: “Você é comunista?”
Desde os anos 1960 até a morte, respondia “sim” e acrescentava: “Estou
velho demais para mudar”.
_________________
*Francisco Miguel de Moura – escritor, membro da Academia Piauiense
de Letras, reside em Teresina, PI, e é também membro da IWA
-International Writers and Artists Association - Estados Unidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário