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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

RASGUEM MEUS VERSOS...

 Francisco Miguel de Moura*

Se algum mal fiz por minha poesia,
foi pensando no que soava adentro,
Na falta que faltava... Onde é que eu entro?
O outro é que eu pensava e que eu queria.

Nunca andei com pilhéria e zombaria,
nem desejei dezenas nem milhão.
A terra onde poisou meu coração
sofria que sofria, e mais sofria.

E era assim que aprofundando eu ia,
passo a passo, fazendo o meu soneto,
se ninguém me queria, Deus queria.

Se Deus me quis, confesso de verdade,
De vocês não preciso, estou completo,
Rasguem meus versos... Sou a eternidade.

                                                        The. 10-1-2015
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*Francisco Miguel de Moura, poeta simplesmente e nada mais do que amigo de Deus e São Francisco de Assis, meu santo protetor.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

POETA & POESIA - FranciscoMiguel de Moura

Francisco Miguel de Moura*



Os rios são paixões dos poetas,
as mulheres, os deuses e deusas,
os sonhos e suas visões elásticas.
O que existiu, o que existirá:
Somos a mentira verdadeira
com gosto de beijos e entalos
e a saliva sem o sal do mar.

Poetas têm cabelo de aranha,
as barbas vão para os profetas:
Estes conversam com Deus,
aqueles com os deuses
que falam
                aos profetas
                             e ao mundo.
Não falam, ciciam, escrevem,
o que não existe – inventam.
Às vezes falam consigo a esmo.

Escrever é pensar, chorar, rugir.
E, coitados, não fazem mal!...

Mas onde está o bem do poeta,
se as paixões fazem o homem
e a poesia, em cada linha curva,
que não vale um real amassado?

Poetas não existem, são mentiras
fora de sua alma, dentro de sua asma.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta jenipapeirense, picoense, piauiense, brasileiro, mesmo assim escreveu: “Eu não tenho pátria, nem aqui nem no distante”.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

G. G. MÁRQUEZ – MESTRE DO REALISMO FANTÁSTICO

Francisco Miguel de Moura*

De vez em quando, volto a meu diálogo com os mortos. No meu último artigo este foi o assunto. Mas o morto d’agora permanece mais vivo do que nunca: Gabriel García Márquez – o querido Gabo.
- Por que você, querido G.G.Marquez, não continua escrevendo e mandando, de onde estiver, para os jornais e editores, suas incríveis histórias de Macondo, país especial de sua ficção como se configurasse todo o continente a partir do México à Argentina, passando pela América Central e pelo Caribe?  - Nosso diálogo começaria assim.

E justifico que sua demência não impedirá de lembrar o nosso passado – que nada mudou – entre latino-americanos. Sua amizade com Fidel faz parte do seu estoque de pessoas que lhe serviram para construir sua verdadeira ficção. Logo ele sentiu a derrota a que qualquer posição ideológica levará a população de Macondo. A ilha de Cuba sentiu e está sentindo na carne. Pela ideologia, ela se fez tão caracteristicamente parte do país de Macondo e da família Buendia.

Gabriel Garcia Márquez, nasceu na Colômbia, em Aracataca, em 6 de março de 1927, e faleceu na Cidade do México, em 17 de abril de 2014. Prêmio Nobel de Literatura, em 1972, antes de falecer, respondendo aos jornalistas, diz: “A GRANDE VANTAGEM DO PRÊMIO NOBEL É QUE NUNCA MAIS SEREI CANDIDATO, O QUE ME DÁ UMA TRANQUILIDADE EM TODOS OS MESES DE OUTUBRO”.  E no seu meio humor já senil, emite a pergunta: “Que é que vocês estão fazendo aqui? Vão embora!”.  Num texto seu, inédito, lê-se: “Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu”. Era como se adivinhasse que breve sairia deste para outro mundo melhor e poderiam escrever, na sua sepultura, essa frase como epitáfio. 

Criado por seu avô materno, que foi um herói da “Guerra dos Mil Dias”, dele recebeu histórias fantásticas que lhe ficaram na cabeça de menino e depois repassaria especialmente para “Cem anos de solidão”, livro que lhe deu grande notoriedade e lhe deu também a fama de ter sido o criador do “realismo mágico” ou “realismo fantástico” como também chamam os críticos e ensaístas literários. A respeito, García Márquez não gostava nada disso, declarando, certa dia, que “meu realismo é só realismo, a realidade é que é mágica. Não invento nada. Não há um linhas nos meus livros que não seja realidade. Não tenho imaginação”. 

Certamente era uma ironia daquele que criou e escreveu tantas obras importantes. Estreou com “Relato de um náufrago”, 1955; em seguida, lançaria “Ninguém escreve ao coronel”, 1961; depois, o já mencionado “Cem anos de solidão”, 1967; e “O amor no tempo do cólera”, 1985, livro da especial preferência de Gabo. Muitos outros poderíamos citar, por exemplo: “O outono do patriarca”, Os olhos do cão azul” e “Memória de minhas putas tristes”, se não fosse cansar o leitor. 

 Até certo ponto, G.G. Márquez tem razão. A literatura fantástica ou mágica sempre existiu desde que existem escritores. Então, como viria a ser classificado o livro “Mil e uma noites”?  E “A metamorfose”, de Franz Kafka”?  Poderíamos citar dezenas. Escolhemos estes dois porque foram os citados por ele, Gabo, como influenciadores de sua arte. O escritor Todorov, em  sua “Introdução à literatura fantástica”, acredita que “A LITERATURA FANTÁSTICA NADA MAIS É DO QUE A MÁ CONSCIÊNCIA DO SÉCULO XIX POSITIVISTA.”  Depois ele mesmo diz que não há como compreender ou explicar Kafka, pois suas narrativas dependem,  ao mesmo tempo, do estranho e do maravilhoso - dois gêneros aparentemente incompatíveis.

No Brasil, país de tradição e língua diferentes dos demais latino-americanos, diz-se que não há escritores do gênero. E eu pergunto: Onde enquadrar o Monteiro Lobato de suas histórias infantis? De qualquer forma, está assentado que nosso primeiro escritor do “realismo fantástico” foi Murilo Rubião, com o seu “O ex-mágico”, de 1947. Porém, Nilto Maciel, cearense que mora em Fortaleza, considerado justamente contista e romancista alinhado ao “realismo fantástico”, aponta em seu recente livro “Sôbolas manhãs”, 2014, outros brasileiros como também da mesma linha, entre os quais Álvares de Azevedo e Machado de Assis.

Voltando a Garcia Márquez, não podemos deixar de referir a sua atividade jornalística, onde era mestre. Trabalhou em Roma, nos Estados Unidos (New York), Barcelona, Caracas e Havana.

Por enquanto, Gabriel García Márquez é famoso por “CEM ANOS DE SOLIDÃO”, para o grande público, embora seja uma obra complexa, que merece muita paciência e percuciência para ser absorvida em sua inteireza e originalidade. É d’agora em diante que sua obra será reeditada e distribuída para mais leitores e maior satisfação de quem curte a grande literatura. “Cem anos de solidão” vai ficar como se fosse o “Dom Quixote” moderno, atual. E eterno como o de Miguel Cervantes de Saavedra. 
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*Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, Teresina-PI (Brazil) e da International Writers and Artists Association, Toledo - OH - Estados Unidos

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Onde você estava no dia 31 de março de 1964?

 abodegadocamelo.blogspot.com
Francisco Miguel de Moura*

         
         Pergunta já feito a muitas pessoas, em virtude da comemoração dos 50 anos da “Redentora” – o Golpe Militar de 1964.  Fácil responder. Mas nem tanto. Naquele dia eu estive tranqüilo, em meu emprego, li o jornal “A Tarde”, de Salvador (BA). Morava com minha família em Itambé-BA, onde exercia a função de Chefe da CREAI (Carteira Agrícola e Industrial do Banco do Brasil). Mas, porque razão, sendo piauiense de Picos, eu aceitei ir trabalhar tão longe?  Quis oferecer meu esforço em favor dos trabalhadores do campo (agricultores e criadores), uma vez que o governo tanta falava em Reforma Agrária. Se a fizesse, os pobres não precisavam pagar rendas pesadas aos ricos proprietários, teriam seu pedaço de chão para produzir seu alimento e ainda levariam o excedente ao mercado, caso chovesse bem.

        Chegando ali, morreu meu filho de 6 meses de idade, por falta de médico e hospital competentes na cidade. Pensei em voltar para Picos, ou Teresina, onde o gerente da Agência me garantira uma vaga sem função, de simples funcionário. Passados alguns meses depois do sepultamento de Fulton, mudei de opinião, aconselhado pela mulher e pelo gerente em Itambé, Crisógono de Almeida Martins. Continuei meu trabalho no Banco do Brasil, levando dinheiro para a roça, com uma equipe de funcionários – onde os beneficiados assinavam os contratos e pronto. Daí para a produção, era pouco tempo: Quão difícil, sabemos, é o deslocamento de um matuto (tabaréu)! Acreditava no bem que prestava à nação, e nos bons propósitos do governo João Goulart. Este trabalho durou cerca de 3 anos. Daí, chegara 1964 e veio a “Redentora”, golpe de Estado como outros que conhecemos. No dia 31 de março, eu estava tranqüilo, levando avante também o trabalho de uma escolinha para as pessoas que só podiam freqüentar à noite, porque durante o dia trabalhavam. Eu e outro colega, o Mário César, desde o início do ano, com apoio do MEB (Movimento de Educação de Base), com sede-filial em Conquista-BA, conquistávamos a simpatia daqueles pobres. Só No dia seguinte, 1º de abril, através do jornal “A Tarde”, tomamos conhecimento do golpe. Foi um susto. De madrugada havia sido preso “um comuna” em Itambé - BA. A seguir, dois colegas do Banco do Brasil seriam presos, algemados, tirados do seu trabalho no BB-Vitória da Conquista. Que fazer? Eles andavam por todo lado, apreendendo livros e documentos que desconfiassem ser “subversivos” ou comunistas. Nós tínhamos recebido umas cartilhas, entre o grosso do material escolar, que falava em Reforma Agrária. Já no dia 13, após o Comício da Central do Brasil, de grande audiência de trabalhadores congregados em seus sindicatos, o Presidente Goulart assina decretos diversos entre os quais o de desapropriação de terras, para entregá-las ao homem do campo. Na semana anterior, o colega César fora a Conquista, fazer as nossas inscrições como monitores definitivos. Não houve tempo de entregar o material, todo, mas as cartilhas explicando o que era a tal reforma agrária foram recebidas. Àquela altura, eu lia o livro “Viagem do Pres. Goulart à China”. Foi um tempo em que eu li muito: política, poesia, crítica... “Areias”, minha estreia em Teresina, 1966, foi começado em Itambé. Minha esposa, Dª Maria Mécia, vendo minha aflição, levou à noite, escondido por dentro da roupa, ao Dr. Auterives Maciel, o livro que me emprestara. As cartilhas sobre a Reforma Agrária e outros livros que nem me recordo foram queimados no quintal de minha casa, cuidadosamente, abafando a fumaça com areia. Alguns foram enterrados, juntamente com as cinzas. A imprensa alarmava. O rádio, também. Dias ou meses após, já tratando de minha transferência, fui à Delegacia de Polícia local e me provi de certidões negativas de tudo que foi possível, a fim de que minha voltar pra Teresina não tivesse tropeço. Por último, devo explicar que desde que cheguei a Itambé, os habitantes mais antigos me contavam das violências pessoais, por terras, por famílias, por outros motivos que aconteciam lá. E mostravam: “Ali correu muito sangue, morreu muita gente”. O ponto indicado era a fábrica de manteiga “Garota”, exportadora para muitos lugares, inclusive para o Piauí, sendo seu representante o comerciante Agripino Maranhão.

       Outras coisas aconteceram aqui mesmo, Teresina, aonde cheguei ao fim de outubro do ano da “Redentora” e já foram contadas em livros, revistas e jornais, ao longo do tempo, inclusive a criação do movimento CLIP (Circulo Literário Piauiense), por mim, Hardi Filho e Herculano Morais, com a adesão de cerca de duas dezenas de escritores, jornalistas, poetas, historiadores. A perseguição aos intelectuais era cerrada. Mas passou. Tudo passa. Hoje, a tríade do CLIP se assenta na Academia Piauiense de Letras, onde mostra seu trabalho e seu valor educacional, cultural e literário. A sociedade teresinense sabe disto e nos reconhece. Isto é bom. O CLIP vai comemorar seus 50 anos em 2017, mas, na verdade, ele começou existir a partir de 1964, na cabeça e no coração dos seus integrantes: Chico Miguel, Hardi Filho e Herculano Moraes.
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*Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras(Teresina - PI - Brasil) e da IWA - International Writers and Artists Association (Toledo, OH, Esados Unidos             
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