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segunda-feira, 25 de abril de 2011

PIADAS DE SEU LUNGA - Cultura Nordestina

Piadas de Seu Lunga


Seu Lunga é o cabra mais ignorante do mundo. Ele não tem muita paciência com nada. Aqui no Nordeste, sua fama se espalha devido a histórias como essas:

"Lunga estava tirando goteiras, defeitos das telhas de sua casa, um curioso passou e perguntou: Tá tirando as goteiras seu Lunga? Ele responde: Tô não, tô é fazendo - e ai saiu feito louco a quebrar as telhas."

"Uma certa vez dando uma surra em um dos seus filhos, quando ainda pequeno o menino gritava: Tá bom pai, tá bom pai, pelo amor de deus, tá bom!!!!! Lunga responde: Tá bom? Que legal! Pois quando tiver ruim diga que eu paro."

"No seu comércio de sucata, ele também vende outros produtos dependendo da ocasião. Uma vez tinha uma saca de arroz e um romeiro perguntou: Seu Lunga como tá o arroz? Ele respondeu: Tá cru!!!!!!"
"Um outro parou pra comprar uns ovos que tinha exposto. Pegava cada ovo e balançava perto do ouvido, um a um, quando lá ia pelos 6, 7 ovos, Lunga disse: Pare, pare, pare, que chocalho tem é no mercado, pode sair."
 
"Numa madrugada dessas, a mulher de Lunga teve um mal-estar, e gemendo acordou o marido:
- Lunguinha, Lunguinha, ta me dando uma coisa aqui...
- Então receba
- Mas Lunga, é uma coisa ruim...
- Então devolva!
"
 
"Seu Lunga entrando em uma loja:
- Tem veneno pra rato?
- Tem! Vai levar? - Pergunta o balconista.
- Não, vou trazer os ratos pra comer aqui!!! - responde seu Lunga.
"
 
"Seu Lunga resolve andar um pouco e sai com seu chapéu grande e antigo. Durante sua caminhada ele resolve coçar a cabeça sem tirar o chapéu, então uma conhecida dele pergunta:
-Oxe seu Lunga, num tira o chapéu pra coçar o cabelo não é?
Seu Lunga então responde:
-E a senhorita tira a calcinha pra coçar o tabaco?
"
 
"O Seu Lunga consegue um emprego de motorista de ônibus. No primeiro dia de trabalho, já no final do dia, ele para o ônibus em um ponto. E uma mulher pergunta:
- Motorista, esse ônibus vai para a praia?
E o Seu Lunga responde:
- Se você conseguir um biquini que dê nele...
"
 
"O Seu Lunga estava em casa e resolveu tomar um café:
- Mulher! Traz um café!
- É pra trazer na xícara?
- Não! Joga no chão e traz com o rodo!
"
 
"Seu Lunga vinha chegando em sua casa com 1 litro de leite, quando uma pessoa perguntou:
-Seu Lunga, vai tomar um leitinho?
-Não, é pra lavar a calçada - Ele pegou, e jogou o leite na calçada.
"
 
"Seu Lunga tava cortando uns limões, quando passa sua mulher e pergunta:
-Esse limão é pra fazer suco?
-Não, é pra eu usar de colírio!
"
"Seu Lunga estava chupando limão, quando cai um pouco no olho, quando passa alguém e pergunta:
-Ardeu, Seu Lunga?
-Não, mas vai arder é agora – Disse espremendo limão nos olhos.
"
"Seu Lunga estava na sua casa com sede. E manda seu sobrinho lhe trazer um pouco de leite. Daí o pobre do garoto pergunta:
-No copo Seu Lunga?
E seu Lunga responde - Não. Bota no chão vem empurrando com o rodo, fi de rapariga!!!
"
 
"Seu Lunga estava no mercado com uma caixa de ovos. Daí perguntaram a ele:
- Comprando ovos Seu Lunga?
Dai Seu Lunga responde - Não - jogando um por um no chão - É traque!!!
"
 
"Seu Lunga estava passeando na calçada com o cachorrinho. E lhe perguntam:
- Passeando com o cachorrinho Seu Lunga???
E Seu Lunga respondeu - Não. É meu passarinho - pegando o pobre podle pela coleira e fazendo ele voar.
"
 
"Seu Lunga estava num restaurante tomando sopa quando perguntam pra ele:
-Tomando sopa em Seu Lunga?
E seu Lunga responde levantando o prato de sopa e derramando em cima dele mesmo -Não, To tomando banho!!!!!!
"
 
"O funcionário do banco veio avisar:
- Seu Lunga, a promissória venceu.
- Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória.
"
 
"Um sujeito até a loja do Seu Lunga e pediu uma porca de determinado tamanho, seu Lunga respondeu:
- Procure naquela caixa.
E o sujeito começou a procurar e no meio de tantas peças nada de ele conseguir achar a porca que ele queria, então exausto falou para Seu Lunga:
- Seu Lunga, não consegui achar a porca...
Indignado, Seu Lunga foi até a caixa, procurou a tal porca e a achou, então virou-se para o rapaz e respondeu:
- Eu não te disse que a porca tava aqui fi duma égua!!! - e jogando a porca novamente na caixa e misturando com as outras peças diz - agora procura de novo direito que você acha!!!
"
 
"O filho do Seu Lunga jogava futebol em um clube local, e um dia Seu Lunga foi assistir a um jogo de seu filho no estádio, e o sujeito sentado ao lado pergunta:
- Seu Lunga, qual dos jogadores ali é o seu filho.
Seu Lunga aponta e diz:
- É aquele ali...
- Aquele qual?
- Aquele ali!!!!
- Não tô vendo...
Então Seu Lunga "P" da vida pega uma pedra, joga em cima de seu filho e diz:
- É aquele alí que começou a chorar!!!
"
"Seu Lunga no elevador (no subsolo-garagem).
Alguem pergunta: Sobe?
Seu Lunga: - Não, esse elevador anda de lado.
"
"Seu Lunga fumando um cigarro.
A pergunta: Ora, ora! Mas você gosta de fumar?
- Não, apagando o cigarro na língua diz, gosto de me queimar.
"
"Seu Lunga, quando jovem, se apresentou à marinha para a entrevista:
Você sabe nadar? Pergunta o oficial.
-Sei não senhor.
-Mas se não sabe nadar, como é que quer servir à marinha?
-Quer dizer que se eu fosse pra aeronáutica, tinha que saber voar!!
"
"Seu Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:
Ta doente, seu Lunga?
- Quer dizer que seu fosse saindo do cemitério eu tava morto!!!
"
 
"Entra um sujeito na sucata de Seu Lunga, escolhe um relógio um pouco velho e pergunta:
- Seu Lunga, esse relógio presta pra tomar banho?
- Eu prefiro um sabonete – Responde Seu Lunga.
"
"Seu Lunga dirigia seu carro tranqüilamente por uma estrada isolada, quando um dos pneus estourou. Ao constatar que ele não trouxera um macaco, pergunta uma pessoa que ia passando muito educadamente:
- Sabe onde eu acho a porra de um macaco?
- Lá naquela casa, lá longe - aponta o cidadão, encantado com tamanha fineza.
- Mas cuidado com aquele cara, ele é muito ignorante.
- Na escola que eu me formei, Virgulino Lampião foi reprovado por frouxura. - responde então Seu Lunga.
Depois de andar mais de 25km debaixo do sol escaldante do interior do Ceará, Seu Lunga finalmente chega à tal casa. Bateu na porta, então um homem abriu e gritou:
- PUTA QUE PARIU!!!!!! O que é que você quer, caralho!?!?!?!?!
- Pega a porra do macaco e soque no cú da sua mãe, fela da puta!!!!!!!
"
 
"Seu lunga foi pegar um ônibus. . .quando o motorista pede sua carteira de identidade...vendo sua carteira de identidade, o motorista diz......
-essa carteira não é sua!
seu lunga responde:
-e esse ônibus é seu?
"
"Um conhecido de Lunga pergunta: - E ae Seu Lunga, como anda? Seu Lunga responde sem olhar pra pessoa: - Com as pernas não aprendi a voar ainda."
"Seu Lunga andava com sua bota com par de esporas. Quando um amigo seu pergunta - e esse par de esporar?
Seu Lunga responde:
- pra caçar rato! O rapaz pergunta, como?
Seu Lunga diz:
- primeiro você põe um queijo no c... e quando o rato vier, você chuta de calcanhar o rato com as esporas.
Tem uma piada de Lunga
Sobre o leite na calçada
Certa manhã ele foi
Pegar sua vasilhada
Mas quando voltando vinha
Deu de cara c’uma vizinha
Que lhe fez pergunta errada

Ao passar por ele disse
“Hum, leitinho pra tomar?”
E ele foi logo queimando
O pavio sem azeitar
Pegou a lata e virou
Todo o leite derramou
“É pra calçada lavar!”


A Pescaria:
Seu Lunga sai de casa com a vara de pescar e um cestinho em direção a lagoa quando seu vizinho passa e fala:
- Indo pescar Seu Lunga? E seu Lunga responde:
- Não to indo jogar porrinha (quebrando em palitinhos a vara de pescar).

O cuscuz
Estava na hora do jantar então seu lunga falou pra empregada:

- Maria traga o leite. ai ela trouxe o leite.então seu lunga disse :
- Maria traga o cuscuz.aí ela trouxe o cuscuz.

Então seu lunga despejou um pouco de leite no cuscuz aí o cuscuz chupou o leite aí seu lunga olhou desconfiado e colocou mais leite no cuscuz então o cuscuz chupou o leite de novo então seu lunga já arretado pegou o prato com o cuscuz, jogou no rio e disse:

- Chupa isso ai agora seu misera !!!!


Se souber de mais causos, basta deixar um comentário ou entrar em contato.
__________________
Copiado de www.culturanordestina.blogspot.com, por Francisco Miguel de Moura

quinta-feira, 10 de março de 2011

LITERATURA SEM FRONTEIRAS - Edson Guedes de Morais

Calendário poético 2011 
       Nilto Maciel

Recebi do poeta Edson Guedes de Morais, que mora em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, uma caixinha recheada de poemas: 2001 – Calendário – Poetas – Antologia (Editora Guararapes). O bloco de janeiro apresenta poemas de Aluísio de Azevedo, Aníbal Machado, Augusto Meier, B. Lopes, Carlos Nejar, Casemiro de Abreu, Edson Guedes de Morais, Emiliano Perneta, Euclides da Cunha, Henrique do Cerro Azul, Homero Homem, João Cabral de Melo Neto, Luís Delfino, Marcus Accioly, Nilto Maciel, Pascoal Carlos Magno, Rubem Braga, Walmir Ayala e Wenceslau de Queiroz. Não relacionarei todos os nomes, para não ser enfadonho.

A caixinha é um livro diferente dos outros. Primeiro, por ser feito artesanalmente: a caixinha (será de madeira?), as folhas (papel) de cada bloco (mês) coladas umas às outras, impressas em computador. Segundo, por ser uma caixa. Terceiro, por ter as capas personalizadas: cada autor tem o nome e uma fotografia na capa (exterior da caixa) de um exemplar, sendo o miolo igual para todos.
Edson constrói artefatos como este há anos. Dedica grande parte da vida a divulgar a poesia (dos outros), sendo ele grande poeta. E também contista da melhor qualidade.
Edson Guedes de Morais nasceu em Campina Grande (PB) em 1930. Poeta, contista e crítico. Autor de Vinte Anos Outra Vez e a Virgindade do Mundo, contos, 1987, e outros livros. Estreou em 1956 com Dispersão, poesia. Seguiram-se A História Verdadeira da Morte do Delegado, poesia-cordel, 1963; Um Homem e os Homens Lá Fora, contos, 1963; In Oito, 1964, poesia; Artesãos do Nada, 1973, romance; Outras Lembranças, Outra Casa, Outros Mortos, 1976, novela; Monstro, Besta-Fera, Como Saiu nos Jornais, 1975, teatro; As Coisas, Assim Como São, Assim São, 1978, teatro. Tem romances e peças de teatro inéditos.
O poeta mineiro-brasiliense João Carlos Taveira prestou-lhe homenagem no artigo “Edson Guedes de Morais, um abnegado poeta nacional”, a seguir transcrito (colhido no site do poeta Antonio Miranda: www.antoniomiranda.com.br):
“O trabalho editorial que Edson Guedes de Morais vem desenvolvendo ao longo dos anos, depois que se estabeleceu de vez em Jaboatão dos Guararapes-PE, tem sido motivo de grande orgulho para todos nós que labutamos nas letras, principalmente na arte do verso.
Que projeto é esse? Talvez o mais original e interessante que já se fez no campo da literatura brasileira, em todos os tempos. Em princípio, parece simples. Mas, na verdade, requer conhecimento, abnegação e, principalmente, paciência, muita paciência, pois, não se pode esquecer, trata-se de algo totalmente artesanal.
Todos os fins de ano, o poeta e contista paraibano/mineiro (que já foi radicado em Brasília, onde fez vários amigos) realiza, com poetas brasileiros de todos os quadrantes, uma verdadeira maratona cultural e artística de alto nível estético e depurado bom-gosto. Ele constrói caixas com cartões de Natal, cujos motivos são poemas do biografado, que, por sua vez, acabam ilustrando o calendário do novo ano que se aproxima. Essas caixinhas, às vezes em papelão, às vezes em madeira, representam, para cada um dos homenageados, uma verdadeira preciosidade. Mas já houve tempo em que os poemas eram veiculados em garrafas de vinho.
Edson Guedes de Morais, com esse trabalho, está prestando um grande serviço à literatura brasileira, pois congrega poetas de todos os estados da federação e os faz veicular no âmbito de sua aldeia. Estou certo de que, se tivesse algum apoio, poderia fazê-lo em âmbito nacional. Para mim, seu mérito maior é fazer o papel que as escolas públicas, ou mesmo as particulares, há muito abdicaram de realizar. Talvez por conta dos facilitarismos eletrônicos ou de uma política voltada para outros valores. Uma pena!
De Brasília, fazem parte do acervo do projeto, há vários anos, os poetas Antonio Carlos Osorio, Anderson Braga Horta, Joanyr de Oliveira, Danilo Gomes, Wilson Pereira, José Jeronymo Rivera, José Geraldo Pires de Mello, o autor deste artigo, entre outros.
A beleza que a poesia busca eternizar deveria fazer parte do cotidiano das pessoas, como fonte de conhecimento e de felicidade pessoal. Quem sabe o mundo não seria menos infeliz e menos egoísta do que tem sido?
 
Por essas razões, rendo minhas homenagens a esse paladino da poesia brasileira, que, ao completar 80 anos (23/1/2010), continua dando lições de humildade e sabedoria. E, ao dar continuidade a esse projeto pessoal, demonstra que ainda está longe qualquer sinal de cansaço. Brasília, 25 de janeiro de 2010”.


Nilto Maciel:
Transcrevo, também, um de seus poemas (colhido no site do poeta Antonio Miranda):

TEMPO E CASUALIDADE

Nenhum deus me fez ou sabe.
Houve um gesto; depois,
a involuntária duração do gesto
como um punhado de areia
que se atira para o alto.
O fado é não podermos ver,
a cavaleiro, nossos próprios passos,
esquecermos depressa a semeada
e este germinar à nossa frente.
Muito antes de mim, depois,
a folha, o vento e o movimento
da folha sobre a estrada pelo vento.


Torno público o meu agradecimento ao poeta (não conheço endereço eletrônico dele) pelos muitos poemas meus publicados em caixinhas e outras coisas feitas por ele. Fortaleza, 4 de fevereiro de 2011

 

Comentário:


CHIICO MIGUEL...
 
Caro Amigo Nilto Maciel, Diante da matéria que você dedicou a Edson Guedes de Morais, eu fico sem palavras. Há muito tempo que quero escrever algo consistente sobre o grande contista, mas me sinto pequeno. Sobre o poeta fiz uma postagem, arremedo de biografia e antologia, num dos meus blogs há algum tempo mas devia ter feito muito mais. Edson Guede de Morais é grande em tudo: literatura, divulgação, amizades. Divulga os amigos contemporâneos como ninguém, por sua própria conta e risco. E, de certa forma, se esconde como escritor. Diz a Biblia que "vaidade das vaidades tudo é vaidade". Mas, eu quero acrescentar: Bendita a vaidade que opera com as boas obras dos outros, especialmente a arte, sem esperar nenhuma recompensa: a isto se chama generosidade, bondade, grandeza de espírito. Edson é assim: portador de toda essa fortuna e ainda é grande escritor. Não tenho palavras. Quero registrar aqui, porém, uma lembrança: o belo dia em que nos encontramos en Recife, quando ele foi visitar-nos, eu minha mulher, juntamente com o colega poeta Jaci Bezerra. Guardo a foto com carinho, seu nome e sua obra também. Abraços aos amigos, a eles dois e a você, Nilto.                                            Do poeta Chico Miguel

domingo, 26 de dezembro de 2010

HOMEM REALIZADO OU SATISFEITO?

DEPOIMENTO

Nilto Maciel*

Acordei satisfeitíssimo. E pensei: o que é um homem realizado? Segundo o Dicionário Houaiss, “realizado” é adjetivo da categoria “regionalismo”, no Brasil, e significa “que conseguiu atingir seu(s) objetivo(s), cumprir sua(s) meta(s)”. Portanto, realizado e satisfeito são sinônimos. Não para mim, neste momento. Explico: Todo dia ouço a velha pergunta idiota feita às crianças: o que você quer ser quando crescer? Os meninos respondem logo: jogador de futebol. As meninas não titubeiam: modelo. Meio século atrás, alguns de meus amiguinhos se encabulavam e demoravam a responder. Outros se empertigavam, sorriam e atiravam besteiras: vou ser maquinista de trem; quero ter um caminhão Chevrolet bem bonito; se não for padre, serve o Banco do Brasil; se a Igreja ou a casa do dinheiro não me quiserem, serei general do exército de salvação nacional. Ninguém queria ser Bach ou Alberto Nepomuceno, Cervantes ou Alencar, Van Gogh ou Antônio Bandeira.

Acordei hoje muito satisfeito. E pensei nos adultos, de meu tempo de menino, que se diziam homens realizados. Eu não conhecia os mendigos que pediam naco de farinha, os lavradores dos pés-de-serra, os tísicos que tossiam a vida. Esses só pude olhar de perto muito mais tarde. Os homens bem-sucedidos arrotavam depois das refeições, palitavam os dentes, limpavam os bigodes brancos, alisavam as panças. Diante de suas esposas, exalavam frases decoradas: sou realizado porque me casei com uma santa. Longe delas, marcavam encontros secretos com empregadinhas domésticas, iam, sorrateiramente, aos cabarés (casas de prostituição) ou visitavam, em sítios ou arrabaldes, suas concubinas. Homens realizados tinham casas de alvenaria, com mais de uma janela, posses, terras, automóveis, muitos filhos, dentes de ouro, cinturões grossos. Contribuíam para as obras pias da Igreja e se benziam quando falavam do perigo do comunismo ateu.

Não sou um homem realizado. Se fosse homem feito, para que me realizar? Ora, se me realizar, terei chegado ao topo do Everest, à beira do abismo, ao fim da picada. Certamente Camões sonhava outros lusíadas; Dante, outros paraísos; Shakespeare, novos otelos. Não, não sou satisfeito comigo, nem com o mundo. Tudo está para ser feito, realizado. Mesmo assim, acordei satisfeitíssimo. Principalmente porque existiram as mulheres com quem dividi o prazer da carne. Porque alcancei minha alforria mental, libertei-me das muralhas de Jericó, da moral puritana, das crenças infantis de paraísos perdidos. Escrevi minha história em muitos livros. Mais de trezentos contos, em dez volumes. Nove romances. É certo que quantidade não é atestado de grandeza. Pois Augusto dos Anjos só deixou um livro. Sei disso. Mas estou (hoje) satisfeito comigo. Se tiver tempo, escreverei mais e melhor. Não plantei árvores, embora me dissessem: o homem, para se realizar, precisa ter filhos, plantar árvores e escrever livros. Também tive filhos. Contribuí para a perpetuação da espécie ameaçada de extinção por ela mesma. E transmiti a quatro criaturas o legado da nossa miséria. Ora, posso ter gerado monstros como os pais de alguns de nossos irmãos. Que culpa tiveram as mães de Hitler, Mussolini, Stalin? No entanto, quanto mal fizeram aos homens! Pobres mães! Pobres netos! Pobres de nós que herdamos os campos de concentração, a moral cristão, judaica, muçulmana, religiosa. O ódio aos pobres e aos ricos, aos homossexuais e aos que nasceram diferentes da maioria. Não quero limpar o bigode branco com o lenço ou o guardanapo de linho com inscrição romântica. Não quero o casamento até que a morte nos separe. Não quero me casar com santas que sentem nojo das prostitutas porque são pecadoras. Quero marcar encontros com empregadinhas, sem me esconder de ninguém, do guarda-noturno, do padre escondido atrás da porta da igreja, da beata que fiscaliza a vida alheia pela brecha da porta. Não quero dentes de ouro, quero dentes para morder a carne do pecado. Não contribuo para obras pias de igrejas pentecostais e pré-apocalípticas de pastores que decoram a Bíblia e enchem os bolsos das moedas dos pobres.

Sou um homem satisfeito com a Arte. Escrevo todo dia, leio todo dia. Não troco Chopin por nenhum carnaval. Não substituo Machado por álbuns de família. Adoro os noturnos e as capitus. Acordo cedo para ver o sol queimar o chão, para me ver dentro do espelho (embora me saiba feio), para esperar a visita (esperada ou inesperada) das moças de corpo e sangue expostos ao meu vampirismo de esteta. Todo dia converso com minhas quatro filhas. Todo dia me correspondo com meus amigos, que são centenas. Não falarei deles, porque eles falam de mim a toda hora, na Praça do Ferreira, no bar do Assis, no Ideal Clube, no clube do Bode, no shopping Benfica, na Unifor, na UFC, na UECE, nos campus universitários e campos de carvalho. E estão quase toda noite em minha casa, a fuçar meus livros raros, a me pedir prefácios e resenhas, a me fotografar e filmar, a fazer perguntas enigmáticas. Mas, como santo de casa não faz milagre, nenhum deles me chama de grande escritor, contista fabuloso, romancista de primeira linha, essas coisas que diz todo leitor sabido. Sei, porém, que se sentem próximos de quem se viciou em Poesia. E, para não se sentirem melindrados, farei citação de seus nomes: Airton Monte, Alves Aquino (O Poeta de Meia-Tigela), Astolfo Lima, Cândido Rolim, Carlos Emílio, Carlos Nóbrega, Carlos Vazconcelos, Carmélia Aragão, Clauder Arcanjo, Dimas Carvalho, Felipe Barroso, Inocêncio de Melo Filho, Jorge Pieiro, Luciano Bonfim, Manuel Bulcão, Mário Sawatani, Máxima Madalena, Pedro Salgueiro, Raymundo Netto, Robson Ramos, Tércia Montenegro e Urik Paiva. Outros, que admiro muito como pessoas e escritores, não me visitaram por falta de oportunidade (convite?), mas têm por mim amizade e admiração. Nada me devem e, por isso, não precisam escrever artigos a respeito de minha literatura (mas, alguns o fizeram). Refiro-me a Aíla Sampaio, Ana Miranda, Barros Pinho, Batista de Lima, Dias da Silva, Dimas Macedo, Eduardo Luz, Gilmar de Carvalho, Jorge Tufic, José Lemos Monteiro, Linhares Filho, Lourdinha Leite Barbosa, Natalício Barroso, Pedro Henrique, Roberto Pontes, Sânzio de Azevedo, Soares Feitosa e mais alguns habitantes superinteligentes de Fortaleza.

A maioria de meus amigos, porém, está bem longe de mim, em Curitiba, Santa Cruz do Sul, Teresina, Poços de Caldas, Salvador, Jaguaruana, São Paulo e por este Brasil afora. Um é Chico Miguel de Moura, amante de Teresina, poeta feito do mais puro ouro da linguagem. Outro é Emanuel Medeiros Vieira, saído do Desterro, ido para Brasília, agora abraçado aos orixás da Bahia. O nunca visto Dércio Braúna, que escreve como um possuído pelos espíritos. O vetusto e lúcido Caio Porfírio Carneiro, perdido no feérico mundo cosmopolita da paulicéia. O baixinho Enéas Athanázio, viajante real e imaginário, sempre a partir do porto de Camboriú. O goiano Salomão Sousa, que se instalou em Brasília ainda menino para escrever poesia. Tantos e tantos, de todas as idades, de todas as cidades, que eu levaria um ano a lhes citar os nomes. Muitos deles nunca vi. Mas também nunca vi meus avós, Homero, Dante, Pessoa.

Alguns me exaltam as qualidades em resenhas e artigos. Como Francisco Carvalho, que escreveu isto: “Nilto Maciel consolidou seu prestígio como um dos melhores ficcionistas brasileiros da atualidade”. E esta outra frase: “Nilto Maciel é atualmente, sem nenhum favor, um dos nomes mais representativos da moderna literatura brasileira”. E mais esta: “Nilto Maciel é, sem dúvida, um mestre consumado do conto moderno. Não apenas pelo requinte no uso de todas as gradações e alternativas morfológicas da escrita literária. Como também, e, sobretudo, pela maneira engenhosa com que disserta sobre tendências e conflitos da subjetividade que navega ‘a leste da morte’”. Haja coragem para publicar opiniões desta natureza. Porque não são poucos os gênios literários brasileiros que frequentam os jornais, as revistas, as antologias, as listas dos dez melhores, dos cem melhores do século, as academias, os simpósios, os seminários, os grandes prêmios e se sabem de raça superior, porque escolhidos por jornalistas, críticos, doutores em literatura, acadêmicos federais. Mas Francisco Carvalho, que não faz parte de patotas, está acima – muito acima mesmo – dessa maioria de mediocridades engalanadas e ousa contrariar o Código Canônico da Literatura.

O grande poeta não está isolado, porém. Outros pensam como ele. Liana Aragão: “Nilto Maciel é um dos grandes nomes da prosa contemporânea, ainda que negligenciado pela mídia e ausente das prateleiras das grandes livrarias”. Adriano Espínola: “Nilto Maciel é outro contista vigoroso e surpreendente da nova geração. (...) inscreve-se ele no que de melhor temos no momento em matéria de contos no Brasil”. Caio Porfírio Carneiro: “Nilto Maciel é um desses escritores que nascem feitos e irão até à morte em ascensão constante”.

Os maledicentes dirão: Assim não vale, porque são seus conterrâneos. Vale, sim. Pois falam isso porque me leram, não porque são cearenses. Além do mais, desmentem o ditado do “santo de casa”. Por outro lado, há os de fora do Ceará. Tanussi Cardoso: “As Insolentes Patas do Cão é um instigante e belo livro de contos que coloca o seu autor, Nilto Maciel, no rol dos grandes escritores deste país”. Nicodemos Sena: “Nilto Maciel (...) é, sem dúvida, um mestre da nossa literatura de ficção, que merece ser lido por todos os brasileiros”. João Carlos Taveira: “Portanto, para a obra de Nilto Maciel, posso usar tranquilamente as palavras finais do prólogo de Jorge Luis Borges a A Invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares: “Não me parece uma imprecisão ou uma hipérbole qualificá-la de perfeita.” Fernando Py: “Hoje, Nilto Maciel é o escritor por excelência da narrativa curta brasileira, com seus textos enxutos, nos quais mescla com felicidade o bom-humor e o mistério, o picaresco e a carnavalização do cotidiano”. Francisco Miguel de Moura: “Nilto Maciel é um dos maiores escritores deste país”. Silvério da Costa: “Há tempos vinha dizendo para mim mesmo que o Nilto Maciel era um dos maiores contistas brasileiros da atualidade. Minha dúvida consistia em saber se existia no Brasil alguém que o superasse na difícil arte de narrar histórias curtas”.

Os maledicentes dirão: Assim não vale, porque são seus amigos. Vale, sim. Pois escreveram elogios porque me leram, não por serem meus amigos. Há sempre uma desculpa para os que não querem ver o Sol. Lembremos a fábula do lobo e do cordeiro: “Por que turvas a água que bebo?” Não sou cordeiro, nem lobo. Não estou falando de vítima e opressor. Estou falando de argumentos. Para os fingidos, os mentirosos, os pícaros há sempre um argumento.

Alguns serão mais maldizentes ainda: Esses nomes citados não são luminares da crítica. Se não são luminares, quem são os luminares? Os que ditam pautas de jornais e revistas? Os que indicam nomes para as listas dos dez mais? Ora, os cardeais só leem os nomes consagrados pela mídia literária (ou comercial), enquanto meus amigos conhecem os nomes indicados pela mídia, mas também sabem de Adriano Espínola, Caio Porfírio Carneiro, Chico Miguel de Moura, Fernando Py, João Carlos Taveira, Nicodemos Sena, Tanussi Cardoso (para citar apenas alguns nomes dos acima mencionados), porque outras dezenas de grandes poetas e prosadores brasileiros estão fora das listas elaboradas por doutores ou lobistas que desconhecem a literatura publicada por pequenas editoras.

Muitos outros se debruçaram sobre meus livros e os comentaram em resenhas e artigos: Adelto Gonçalves (que é doutor), Angelo Manitta (escritor e editor italiano), Artur Eduardo Benevides, Astrid Cabral, Carlos Augusto Silva, Carlos Augusto Viana, Celestino Sachet, Chico Lopes, Di Carrara, Donaldo Schüller, Erorci Santana, Foed Castro Chamma, F. S. Nascimento, Henrique Marques-Samyn, Jaime Collier Coeli, Laene Teixeira Mucci, Nara Antunes, Nelly Novaes Coelho, Paulo Krauss, Paulo Nunes Batista, Ronaldo Cagiano e Valdivino Braz. Também os falecidos José Alcides Pinto, José Luiz Dutra de Toledo e Sérgio Campos, aos quais rendo homenagens. Nenhum deles me deve ou devia favores. Escreveram porque são escritores, são livre-pensadores, não têm compromissos com editoras, universidades, jornais.

Minha amizade com eles é real, realizada, feita, construída ao longo de livros e meses, cartas e temporais. Não são homens realizados. Não conseguiram ser maquinistas de trem, donos de caminhões chevrolets, terras, teres e haveres. Não chegaram a padres e muito menos a vestir farda. Nem fardões. São apenas escritores, como eu. Estou satisfeito comigo. Escrevi mais de duas mil páginas, livres de todos os fanatismos, de todos os moralismos. Acordo todo dia satisfeitíssimo porque sei da fartura de minha imaginação, de meu humor, de minhas dores, que são de todos. Por isso me pergunto: o que vou ser quando crescer? Não devo crescer mais. Embora ainda estude grego e latim, ainda leia os poetas latinos, ainda ouça Mozart, ainda me extasie diante de corpo feminino, ainda escreva crônicas para brincar comigo e com quem quiser me conhecer. Devo, sim, sair de férias e me preparar para o carnavalha de 2011.

Fortaleza, 8 dezembro de 2010
________________
*Nilto Maciel, escritor brasileiro, grande prosador e poeta, mas principalmente contista da geração dos anos 1960. Criou com outros companheiros da mesma época,  e editou, a revista "LITERATURA", anual, que teve quase 40 edições, e foi encerrada recentemente. Para mim, está entre os 3 ou 4 melhnores contistas brasileiros da atualidade. Ganhou muitos  concursos, editou  seus romances, é um homem simples que só tem três vaidades: ler, escrever e viver os dias na consideração dos amigos e artistas. Atualmente está publicando sua obra contística completa: sairam já os 1º e 2º vol. E-mail: – niltomaciel@uol.com.br

domingo, 19 de dezembro de 2010

CRÔNICA DE NATAL

Texto baseado em Um Conto de Natal de Charles "Boz" Dickens (1812-1870)

Raymundo Netto* 


Não sei vocês, mas eu nunca gostei do Natal. Acho uma data muito triste, deprimente, talvez por isso, um dia, decidi que só me casaria se fosse num Natal. Assim o fiz!

Nunca escondi de ninguém esse meu desânimo natalino, a vontade de fugir de festinhas de confraternização, amigos secretos, jingle bells e coisas assim. Penso que, justamente por isso, é que me acontecem coisas como a que revelarei agora para vocês.

Uma tia, semana passada, trouxe a minha casa, emprestado, um relógio de parede - com gabinete de carvalho escurecido, pêndulo dourado e umas raladurazinhas no mostrador de algarismos romanos - que pertenceu a meus avós.  Desde menino era louco por aquele relógio... Pois bem, na madrugadinha, acordei com o seu sonoro gemer de horas. Na casa pequena o som reverberava. Como parecesse não parar nunca, pensei: "Será que travou?"

Ao chegar ao corredor, o susto: uma figura esfumaçada, de olheiras sulcadas e cavanhaque revoltoso, saía da portinhola de vidro do relógio e argentava, num clarão, a sala:

- Ebenezer! Ebenezer! - berrava em tom gutural.

- Ebenezer? Está falando comigo?

- Sim, seu tolo insensível! Não lembra mais de mim? Marley, Boz Marley!

- Não, seo Boz, pode voltar para o seu relógio... Ligação errada!

Ele não me dava ouvidos, ou não os tinha, e continuava como numa cantiga de grilo:

- Ebenezer, eu sou o espírito do Natal e o levarei para conhecer o Natal do passado, do presente e do futuro. Você precisa se arrepender já, enquanto ainda há tempo, senão...

Arrependimento? Nem precisava, coleciono tantos, tantos... Mas ele não me ouvia. Enlaçou meu pescoço com as pesadas correntes que arrastava e, como por encanto, tudo em minha sala pôs-se a desaparecer: o sofá velho (este, eu nem liguei), a tevê, a cadeira de balanço e até a empoeirada árvore de natal onde, desde o ano passado, o pisca-pisca deixara de funcionar. Tudo desapareceu dando lugar a calçadas, prédios e um renque de postes: estávamos na rua!

O Natal do passado

Reconheci o Palacete de Carvalho Mota, antigo prédio da Inspetoria das Secas: era a rua General Sampaio, centro da cidade.

Percebi que, na esquina, um pequeno terreno amurado atraía várias crianças. "O que está acontecendo ali?", perguntei ao Boz. "Você quer saber? Vamos lá, então." -, arrastou-me.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ALMA PERDIDA – NA BIBLIOTECA

Crônica
ALMA PERDIDA  na biblioteca

Nilto Maciel*


Recebi exemplar autografado do novo livro de Everardo Norões: “Para o escritor e amigo Nilton Maciel, este Poeiras na réstia, pó que somos,  às vezes réstia... com a admiração e o abraço de (assinatura). 02.VIII.10”. Nem prestou atenção à grafia de meu nome. Não faz mal: talvez não haja outro Nilto Maciel.

Há alguns anos recebo livros. Quase todos de escritores, que querem uma resenha, um comentário, um elogio. Algumas editoras também mandavam, desde os tempos da revista O Saco. Para divulgação. À frente da revista Literatura, que durou dezessete anos, essa avalanche de publicações quase me sufocou. Cheguei a alugar um apartamento, em Brasília, só para abrigar meus hóspedes de papel. Uma loucura, como dizia minha mulher. E dava ultimatos, diariamente: Ou eles, ou eu. Terminei sem ambos. Ela não aceitava dividir o restrito espaço do mundo com aqueles seres inanimados, empoeirados, sem atrativos: Como você pode ser tão idiota, leitorzinho. Ela talvez quisesse me chamar de leitãozinho. E me ver assado, para me comer melhor.

Também meus amigos, que são todos escritores (nunca tive amigos que não fossem escritores), me chamavam (e chamam) de idiota: Como você pode perder tempo lendo tanta porcaria e, ainda por cima, dando divulgação a ela em revistas e na Internet? E levavam (e levam), por empréstimo, o que julgam não ser porcaria. Dia desses fiz um balanço: dos vinte mil livros que ocupam (ou ocupavam) as estantes de minha mansão, menos de um por cento vale a pena ler de novo. Já me levaram Cervantes, Camões, os sermões de Vieira, os amantes de Lady Chatterley, os amores de David Herbert Lawrence.

Certamente não terei tempo de ler toda a minha biblioteca. Levaria uns duzentos anos. Mas tenho sido educado: leio as abas, o prefácio, alguns poemas, contos, páginas, e escrevo ao doador do livro umas palavras de agradecimento. Não prometo resenha, artigo, estudo. Não sou jornalista profissional, não me pagam para escrever. Não disponho de muito tempo para leituras desse tipo. Em compensação, desde 1974, data de minha estreia como escritor, envio, pelo correio, exemplares de meus livros (acho que são vinte) aos amigos escritores. Trinta e seis anos remetendo livros. Uns poucos me dirigem agradecimentos. Se todos eles leram meus livros, não sei. Alguns leram. Poucos escreveram artigos e ensaios. São escritores maravilhosos, críticos excelentes, leitores apaixonados: Adelto Gonçalves, Adriano Spínola, Aíla Sampaio, Angelo Manitta (italiano), Artur Eduardo Benevides, Astrid Cabral, Batista de Lima, Caio Porfírio Carneiro, Carlos Augusto Silva, Carlos Augusto Viana, Carmélia Aragão, Celestino Sachet, Chico Lopes, Dias da Silva, Di Carrara, Dimas Macedo, Donaldo Schüller, Eduardo Luz, Enéas Athanázio, Erorci Santana, Fernando Py, Foed Castro Chamma, Francisco Carvalho, Francisco Miguel de Moura, F. S. Nascimento, Henrique Marques Samyn, Inocêncio de Melo Filho, Jaime Collier Coeli, João Carlos Taveira, Jorge Pieiro, José Alcides Pinto, José Lemos Monteiro, José Luiz Dutra de Toledo, Laene Teixeira Mucci, Liana Aragão, Moreira Campos, Nara Antunes, Nelly Novaes Coelho, Nicodemos Sena, Paulo Krauss, Paulo Nunes Batista, Ronaldo Cagiano, Salomão Sousa, Sânzio de Azevedo, Sérgio Campos, Tanussi Cardoso e Valdivino Braz. Alguns nem conheço ou conheci (a morte os levou cedo). A todos sou muito grato.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - ESCRITOR

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O mundo através das bibliotecas

Affonso Romano de Sant´ anna - Escritor
ENTREVISTA

Affonso Romano: "Biblioteca deve ser o lugar de encontro, reencontro e de invenção. Não é um arquivo morto"
CAROL DOMINGUES
12/4/2010
O escritor e jornalista Affonso Romano de Sant´Anna participa da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará. Ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional, ele antecipa em entrevista ao Caderno 3 um pouco de sua fala na mesa "O meu encontro com a biblioteca", dentro do V Encontro do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas

Como foi seu "encontro com a biblioteca"? Frequenta esse espaço desde jovem?

Tentarei falar dos múltiplos encontros, desde a biblioteca da igreja que eu frequenta e a do meu pai, até as grandes bibliotecas do mundo que acabei conhecendo por ter sido secretário geral da Associação das Bibliotecas Nacionais Iberoamericanas ou por ter estado na India, Moscou, China, França, Irlanda, etc. Claro que vou me deter no panorama brasileiro que, felizmente, está se modificando e não é mais o mesmo de quando em 1990 lancei a campanha "Uma Biblioteca em Cada Município".

sábado, 2 de agosto de 2008

CONTO


JOANA D'ARC E OS AMANTES

Nilto Maciel*


Jacques olhou para a cama e sorriu. Isabel despia-se, len­tamente.

— Posso acender a luz? — ele perguntou.
Haviam se conhecido duas ou três horas atrás. Num cine­ma. A história de Joana d’Arc sempre o interessava. Além do mais, gostava de filmes. Isabel, porém, não se lembrava de algum dia ter ouvido qualquer referência à donzela de Orléans.
Logo no início da projeção, trocaram olhares e algumas palavras. Jacques viu certa rudeza em Isabel. Não estava gos­tando da fita. E parecia não ler as legendas. Entendeu perfei­tamente, porém, a cena grotesca em que a famosa ré foi quei­mada viva.
À saída do cinema, Jacques acompanhou Isabel. Per­guntou se tinha compromisso. Poderiam conversar mais. Se ela tivesse interesse, contaria outros detalhes da história de Joana d’Arc. Depois — pensou — iriam a um motel. Afinal, a moça era bonita e parecia disposta a aventuras.
— Jeanne d’Arc é heroína e mártir — explicou.
Pararam diante de uma lanchonete. Cheiro de frituras, gente se acotovelando. Melhor irem a um barzinho.
Jacques se pôs a falar das lutas entre franceses e anglo­-borgonheses, do reinado de Carlos VII, da prisão de Joana no castelo de Rouen, do Tribunal da Santa Inquisição. Quan­do encontraram um bar, Isabel parecia aborrecida.
— Você quer o quê?
Ela olhou para o garçom, como a pedir ajuda. Talvez um uísque. O mais caro que houvesse.
O rapaz percebeu, então, que não precisava mais demonstrar erudição. A moça estava rendida.
— Você defende muito essa Joana — ela se atreveu a dizer. — Para mim a morte dela foi merecida.
Jacques ingeriu, de um gole, a bebida. Não sabia se devia rir ou ouvir o resto da opinião de Isabel.
— Mulher não pode agir como homem — sentenciou a moça.
No meio da segunda dose, Jacques mudou de assunto. Gostava de mulheres ousadas.
— Como você.
Ela sorriu. Também gostava do jeito dele. Parecia fogoso, ardoroso, apaixonado.
Jacques disse adorar as mulheres que se consumiam no fogo, no amor.
E se retiraram, abraçados.
_____________
*Nilto Maciel, romancista, contista e poeta cearense, mora em Fortaleza, edita a revista "Literatura", de circulação nacional

sábado, 7 de junho de 2008

VERSOS AO PAI

Francisco Carvalho*


Volto a ser o menino que segurava o teu braço
pelas ruas de uma cidade vazia.
Só a manada dos ventos dialogavam com
as aldravas que restaram de antigos invernos
e ríspidos estios de pássaros e nuvens
que se acasalavam no ar.



A morte, essa grandeza tenebrosa
com sua grinalda de espantos na cabeça,
já se desenhava em teu corpo
com as suas teias de escárneo e de odor
de matéria que se corrompe
ao gargalhar das mortalhas dançarinas.


Tu sabias onde repousar as mãos fustigadas
pelas tenazes do imponderável.
As veredas intermináveis das pedras
frias e das belezas imóveis.
Ah, tu sabias que as semeaduras da alma
florescem no húmus da morte.


_______________________
*Francisco Carvalho, grande poeta brasileiro, dono de um estilo singular inimitável, forte, moderno e ao mesmo tempo clássico como gênese, retraído e calado,nascido em 1927, mora em Fortaleza-CE, de onde publica seus livros e os divulga, ignorado ainda pela grande imprensa do Brasil.

sábado, 26 de janeiro de 2008

FÔRMA


Clauder Arcanjo*
"De ausências é que me formo.
"(Lúcio Cardoso, em Diário)


Da infância, um sono puro na rede grande e funda. Caibros altos, luz por entre as frestas, o sol, anúncio da manhã. Com os pesadelos, terror e pressentimento, o mijo quente, marca do pânico. Embaixo, batizando os chinelos. Ausência.

Do rio Acaraú, Tejo superior, as enchentes caudalosas, o búzio dos canoeiros, o anúncio do arrombamento do Araras, açude à montante da província. Esperado, o brando fuxico e rezas nas calçadas, porém nunca real. Dilúvio, desígnio sempre adiado. O patronato, o grupo escolar, a praça do poeta padre Antônio Tomás, o Mercado Público, a legião barulhenta dos feirantes, o aceno das carnaubeiras. De vez em quando, a visão mítica dos ciganos. A bênção de Senhora Sant'Anna. Todo ano, a procissão, Senhor dos Passos; Cristo em trajes roxos, cabelos em tranças, rosto quedo, a enorme cruz... e a dor anunciada, pois antevíamos o encontro com Maria, no meio da rua, sob o calor de Licânia. A Semana Santa, a Páscoa. Magia e serenidade. Ausência.

Da juventude, a paixão tímida, as primeiras musas, as serenatas, o hormônio a espicaçar a carne; a descoberta da libido, num supremo espasmo. A confissão dos pecados, hoje, para mim, tão inocentes, nas orelhas peludas do padre. "Trinta pais-nossos e trinta ave-marias!" Ora pro nobis! Então, de novo, o corpo imaculado, e a possibilidade do Paraíso. Ausência.Com pouco, o ginásio. Intranqüilo, marchei. O hino, antes das aulas, sob a regência forte do professor Galvino; a educação cívica e física. Benditas minúcias, nos ermos da inconsciência. A migração para a capital, obsedado pelo novo. Os estudos, o imponderável. A faculdade. O cheiro diferente dos carros e da pressa, hostilidade, engrenagem. Santana, uma dor constante, saudade no peito. O calendário, folhas acompanhadas, passo a passo. Orando para chegar janeiro e julho. Atormentado, frágil, sentindo-me só. Ausência.

Faculdade. Angústia. Em cálculos inumeráveis, o desmedido campus. A impessoalidade no aprendizado. A cacimba do saber era mais profunda. O pânico da impossibilidade, sobressalto. A colação de grau, crisma de sonhos. O primeiro emprego, a mudança para mais longe ainda. Ambição?!...Salvador, Bahia, cimo e perigo. A engenharia na algibeira. Num furor para realizar. Ausência.

Hoje, na noite escura, vigília longa, tudo e todos me (re)visitam. De peito aflito, os fantasmas, ecos da minha genealogia, me afagam, apesar da insistente falta de vontade. Tio Nonato, partida precoce; meus avós; a mansuetude do tio Miguel; o riso do tio Gerardo; a cegueira pungente do meu padrinho, tio Arcanjo (quando vejo uma foto de Jorge Luis Borges, vem-me à mente o seu jeito manso). Galharia de gestos, raízes de antepassados, um chão sob os pés. Os sustos da província, sovacos da memória; no entanto, a fé no eterno retorno. O espírito das ausências, na carne. Presença.
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*Clauder Arcanjo, professor. E-mail: clauder@pedagogiadagestao.com.br

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