CIRANDA DA MORTE
(e da vida))
Francisco Miguel de Moura*
A flor nasce aonde é lixo,
E é da flor que vem o fruto.
O homem peca qual bruto:
Come o fruto e vira bicho.
O homem se faz um bicho,
Não só um, mas um milhão.
Se come, vai, vive e é lixo,
E morre sem compaixão.
Estranhamente digestos,
Se o homem é esguicho?
Mata e come.... Mas, os
restos
Viram terra, homem\ bicho.
Todos: Homem, morte e lixo,
Montam o mesmo cavalo,
Da ciranda que eu espicho,
Sem fazer um intervalo.
Sem espera, sem regalo,
Na ciranda, como esporte,
Flor e fruto e gente, eu falo:
Oh que vida e triste sorte!
Paremos, então, agora.
Silêncio! Oh! coisa comprida!
Mas ela não vai embora,
Enquanto houver flor e vida.
__________
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.