quinta-feira, 28 de março de 2024

 

A FLOR E O LIVRO

                 Francisco Miguel de Moura*



Acordei cedinho. Uma flor me viu,

flor que me dera seu primeiro beijo.

 

O sol ia alto. Apressei pra livrar-me

dos raios, e a flor dos meus dedos caiu.

“Eu sou uma flor, esqueça meu cheiro”.

Mas ao lugar do crime a gente volta.

 

Na seguinte manhã, a mesma flor!

Pra meu espanto, solitária e triste.

Então a apanhei da beira do caminho

e a beijei, e o fiz, mas sem reconhecer.

 

Ah! Que maldade a natureza trouxe!

Enquanto os vegetais nos fazem o bem,

nós animais – e “tidos por perfeitos” –

tudo esquecemos... Até a flor e o beijo!

 

Ela chorou, chorou, lembrei seu cheiro

e me voltei em lágrimas e enleios.

E agora a guardo, para o meu carinho,

quando voltar às páginas que leio.

 

Oh! Guardarei o livro para sempre

e o grande amor que a florzinha me deu!

 

Agora, todo dia, eu abro aquela página

e ela está me olhando. E lá estou eu.

                ----------------

 *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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