sábado, 11 de abril de 2009

HARDI FILHO - Poeta




Biografia:



Por
Francisco
Miguel
de Moura*







HARDI FILHO é o nome literário de Francisco Hardi Filho, nascido em Fortaleza, Estado do Ceará, no dia 5 de julho de 1934. Veio para o Piauí já funcionário público federal (IBAMA) e aqui fundou raízes sentimentais e familiares. Não há hoje ninguém mais integrado ao Piauí do que Hardi Filho, a quem a Assembléia Legislativa, num ato de justíssimo reconhecimento, concedeu o título de cidadania piauiense. Começou parnasiano-simbolista com “Cinzas e Orvalhos”, editado em 1964 – livro premiado pela Prefeitura Municipal de Teresina (1963), quando a comissão julgadora composta por três ilustres membros da Academia Piauiense de Letras (Fontes Ibiapina, Mário José Batista e Júlio Martins Vieira), assim expressa, em seu parecer final: “O poeta canta, em CINZAS E ORVALHOS, com uma linguagem meridianamente simbólica, clássica, por vezes pessimista. Mas o sabor artístico, tão atual quanto sugestivo, prende o leitor em meditações profundas. Sabe, com adequação de termos, concatenar pensamentos em versos rimados, metrificados e cadenciados sem suscetibilizar a viga mestra das correntes e escolas atuais. É um verdadeiro artista na expressão da palavra. Chega a fundir pensamentos contrários e antagônicos, como premissas, para chegar à conclusão dum silogismo perfeito, como seja: “Santa mulher, diabólica figura! / Tempestade da minha primavera! / Noites e dias cheios de ventura / Porque ela em tudo está presente e impera”. Espontaneidade da expressão, técnica do verso, acuidade do pensar e equilíbrio do sentir, eis a qualidades mais referidas pelos acadêmicos.

Inicialmente filiado à corrente simbolista, na qual o Piauí tem em Celso Pinheiro seu representante maior, Hardi Filho evoluiria para a poesia moderna, especialmente depois da fundação do CLIP – Círculo Literário Piauiense (de cuja entidade foi o Secretário Geral) – e a convivência com os seus poetas e companheiros de luta. Hoje faz poemas genuinamente modernos, com a mesma qualidade dos grandes poetas, sem, no entanto, abandonar o soneto, em cuja espécie é o nosso represente maior, ainda vivo. E continua na luta para que a poesia, o fogo da arte, não morra, pelo contrário, seja transferido, e cada vez mais forte, às novas gerações.
Membro ilustre da Academia Piauiense de Letras, ocupando a cadeira nº. 21, justo aquela que teve como seu primeiro ocupante o poeta da Costa e Silva. Pertencente à União Brasileira dos Escritores do Piauí, em cuja entidade foi Secretário, gestão do poeta Francisco Miguel de Moura, Hardi Filho foi também Secretário Executivo do Projeto Petrônio Portela, órgão da Fundação Cultural do Piauí, e Chefe de Gabinete da referida Fundação.

Jornalista profissional, embora tenha pouco atuado na imprensa do Piauí, sem, no entanto, dispensar-se de grande colaboração em artigos e crônicas, algumas destas reunidas em livro que espera publicação.

Poeta nobre, mesmo quando se submete a temas populares. Sua dicção é de uma dignidade que não se encontra facilmente na literatura brasileira. Poucos poetas se lhe igualam. Nada surpreendente, pois, encontrar nele próprio esta premonição em “Teoria do Simples”, 1986: “O privilégio do verso me esperava”.

Obras publicadas:

Cinzas e Orvalhos (1964), Gruta Iluminada (1970), De Desencanto e de Amor (1983), Teoria do Simples (1986), Suicídio do Tempo (1991) (Cantovia (1993), Estação 14 (1997), Veneno das Horas (2000), O Dedo do Homem – prosa/memória (2000), O Sonho dos Deuses e os Dias Errantes (2001), Tempo Nuvem (2004), Poemas da Mesma Fonte - Adélia (2006) e Tempo Contra Tempo – Sonetos em parceria com Francisco Miguel de Moura (2007). Além da poesia, publicou dois títulos de crítica: Poesia e Dor no Simbolismo de Celso Pinheiro (1887) e Oliveira Neto, Poeta do Amor e da Alegria (1993).

Poemas de Hardi Filho:


ARTISTA


No atelier da vida, solitário,
somente em comunhão com a fantasia,
eu fui o artista que criou miragens
para conforto de ânsias infinitas.

Eu fui, também, aquele que traçou
formas de vida pelo sentimento;
o gênio louco que ideou amores
para sustento, amparo da esperança.

Insano escafandrista dos mistérios,
fui tradutor das emoções do mundo
e desenhista da volúpia eterna.

De pé, trêmulas mãos, olhos insones,
fui satanás sedento de domínio,
fui deus criando e alimentando sonhos!


RIO-VIDA


É comparável com aquela faca
de dois gumes o carma da pessoa;
da anônima ou da que se destaca,
da que vai certa, da que segue à-toa,

da que navega em navio ou canoa
no rio-vida, onde não há atraca –
só o barulho vento-e-água ecoa
na correnteza forte, média ou fraca.

Com algum tempo, certo é que a matraca
do fim da via também já ressoa...
Então, se às vezes nosso corpo empaca,

há espaços por onde a mente voa!
Nestes é armar e desarmar barraca,
cair e levantar-se numa boa!


SONETO I

Quando o manto da noite tenebrosa
cair sobre minha alma sonhadora,
aniquilando os sonhos cor-de-rosa,
tornando mudo o que sonante fora...

Ó anjo meu, de cabeleira loura!
Eu falo a ti, o sílfide formosa!
Tu, que és minha paixão imorredoura,
que és minha crença edênica, ardorosa:

Não deixes que me levem para alguma
caverna onde se acabem, uma a uma,
as minhas tristes células paradas.

Quero que o sol surgindo em outro dia
lance seus raios pela relva fria
e aqueça as minhas cinzas orvalhadas.


EXDRÚXULO

A prata, o caviar, a mesa elástica
riem do pobre
e lhe pesam no vazio do estômago

O lustre, o veludo, o mármore
esbofeteiam
a face do menino pálido

Dói no seu corpo o sacrifício
da ingênua espera:
aberta mão ao desviado prêmio.

De tanto conviver com áscaris
morre o menino
de alma e coração imáculos

Uma paixão antiga, hoje única
domina o mundo
É torturante a dor sem número.

                     AMOR PERFEITO
                                              
                        Nunca me canso de dizer que te amo!
                        Por que calar o que me vai no peito,
                        se a vida me é mais vida desse jeito?
                        se neste sentimento é que me inflamo?

                         Quem ama como eu amo tem direito
                          de proclamá-lo assim como proclamo,
                          porque é escravo e ao mesmo tempo é amo
                          nos labirintos de um amor perfeito.

                           - Com  que medida meço o teu valor,
                            paixão! E o tempo que te quero assim!
                            Ai, o que andamos entre espinho e flor.

                            Nas chamas deste fogo que arde em mim,
                            amor, eu me convenço: Nosso amor,
                            como o tempo e o espaço não tem fim.
 
________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta da geração 60 (membro do Circulo Literário Piauiense – CLIP, como o poeta Hardi Filho), preparou esta biografia do colega clipíano, com base na bibliografia do Autor e apoio nas seguintes obras: – “Dicionário Biográfico de Escritores Piauienses de Todos os Tempos”, 1995, de Adrião Neto; “Literatura Piauiense”, 2003, de Luiz Romero Lima; “Antologia dos Poetas Piauienses”, 2006, de Wilson Carvalho Gonçalves; e “Literatura do Piauí”, 2001, de Francisco Miguel de Moura.


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