sexta-feira, 3 de abril de 2009

A ALMA DA IGREJA DO AMPARO


João Pedro AYREMORAES Soares*
Advogado

Ainda menino, conheci o Monsenhor Joaquim Ferreira Chaves, mais conhecido como Padre Chaves, já na condição de vigário da Igreja do Amparo, nesta Capital. Durante muitos anos, embora morando nas proximidades da Catedral de Nossa Senhora das Dores, na Praça Saraiva, gostava de assistir à Missa de Domingo, às 9:00 horas, celebrada pelo Mons. Chaves, sobretudo, porque era rápida, não demorando mais de vinte minutos. Com isso, dispunha de mais tempo para ir à sessão matinal no Cine REX ou no TEATRO 4 DE SETEMBRO ou, quando não, participar de outras atividades de lazer. Lembro-me, ainda, que, como, àquela época, a Confissão era somente auricular, gostava de me confessar com o Mons. Chaves, porque, também, tal Confissão era objetiva e rápida. São essas as maiores lembranças que guardo do Mons. Chaves, a de um Sacerdote exponencial do clero piauiense, pela sua grande cultura, homem objetivo e dinâmico, que dedicou a sua longa e profícua existência, além de pesquisas e de estudos sobre a história de Teresina e do Piauí, praticamente, às atividades da Igreja Primaz de Nossa Senhora do Amparo, da qual se tornou uma figura inseparável.

Tanto foi assim que, ao que me consta, o Mons. Chaves permaneceu como vigário da Igreja do Amparo, aproximadamente, durante setenta anos. No decorrer daquele longo período de tempo, sempre, tratou e cuidou das atividades, dos interesses e do patrimônio da Igreja do Amparo, com a melhor dedicação, zelo e até carinho. Por certo, muito contribuiu, para isso, o profundo conhecimento que tinha do relevante e fundamental papel, desempenhado pela Igreja do Amparo, na própria história e conseqüente evolução de Teresina. De efeito, como consabido, somente se ama verdadeiramente aquilo que se conhece. Prova disso é que, logo no início do seu excelente Livro “TERESINA – Subsídios para a História do Piauí”, editado em 1952, por ocasião do 1º Centenário desta Capital, e Impresso na Papelaria Piauiense – o qual entendo que merece, se ainda não o foi, ser reeditado pela Fundação Monsenhor Chaves –, dentre muitos outros registros e referências, a respeito da Igreja do Amparo, assim se manifesta: “...E a cidade germinou como uma benção porque teve no berço, ao nascer, o patrocínio de Nossa Senhora do Amparo, sua protetora”. Um pouco adiante, escreve: “...Dentre todos os edifícios públicos de Teresina cabe a primazia à Igreja do Amparo, cuja pedra fundamental foi lançada aos 25 de dezembro de 1850. Saraiva na sua fala de 3 de julho de 1851 diz que ‘em dezembro retirou-se o mestre de obras para o Potí a fim de construir a nova Matriz que por subscrições já se acha adiantada’. Em dezembro de 52 foi inaugurada a Igreja e elevada à categoria de Matriz da cidade”.

Em recente viagem que fiz a alguns países da Europa, dentre os quais, Portugal e Itália – onde tem sido costume que, não apenas religiosos e autoridades eclesiásticas, mas, também, personagens importantes da história daqueles países, tenham os corpos sepultados nas Igrejas –, conversando com o Des. Nildomar Soares, um dos companheiros daquela viagem, ao visitarmos o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, e a Basílica de São Pedro, em Roma, manifestamos a nossa estranheza com o fato de o corpo do Mons. Chaves não haver sido sepultado na Igreja do Amparo, uma vez que, aqui no Brasil, e no Piauí, se adota o mesmo costume. Recentemente, procurando esclarecer o assunto, perguntei ao Pe. José de Pinho, seu atual vigário, qual o motivo do corpo do Mons. Chaves não ter sido sepultado na Igreja do Amparo. Em resposta, o Pe. Pinho nos informou que, alguns meses antes de falecer, o Mons. Chaves pediu para ter o seu corpo sepultado, quando de sua morte, no Cemitério existente no terreno onde se encontra edificado o Monumento Heróis do Jenipapo, na cidade de Campo Maior, onde nascera; chegando, inclusive, a ser providenciado, ali, o seu túmulo. Aconteceu, porém, que, nas proximidades de sua morte, o Mons. Chaves, alegando ser aquilo uma vaidade, desistiu do mencionado pedido, e declarou que queria mesmo ter o seu corpo sepultado no Cemitério São José, nesta Capital, ao lado de sua mãe, no que foi atendido. Não há dúvida de que aquela atitude do Mons. Chaves foi mais uma grande e bela lição de humildade.

Cumpre ficar registrado, por oportuno, que, naquela conversa que mantive com o Pe. José de Pinho, ponderou ele que, em reconhecimento aos inestimáveis serviços prestados à Igreja do Amparo, bem que poderiam ou poderão, ainda, ser trasladados, para aquela Igreja Primaz de Teresina, os restos mortais do Mons. Chaves, ou, pelo menos, uma parte deles, para veneração dos fiéis e admiradores daquele notável Sacerdote Católico. Seja como for, concretizado ou não o referido traslado, o Mons. Chaves, por tudo quanto realizou pela Igreja do Amparo, continuará, para sempre, sendo o seu baluarte maior, podendo, induvidosamente, ser considerado a verdadeira Alma da Igreja do Amparo.
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* João Pedro AYREMORAES Soares, brasileiro, advogado - artigo publicado no jornal O DIA, nas edições de 03 e 04.03.2009.




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