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terça-feira, 17 de novembro de 2009

ATÉ QUANDO?...




Antônio Carlos Fernandes
da Silva*




É difícil qualquer pessoa, em qualquer lugar, não estar a desejar PAZ neste instante ou em qualquer momento. Não raro, vemos manifestações clamando paz. Cartazes tremulam dizeres “Queremos paz”, “Exigimos paz”, “O mundo pede paz”, e por aí vão.

É difícil não se encontrarem comunidades a braços com a realidade ulcerosa em suas entranhas de grupos de pessoas sofrendo a humilhação da fome; de pessoas sem lar, sem família, sem nada, morrendo à míngua.

É difícil não se encontrar alguém que não viva hoje seus medos, suas frustrações, suas desesperanças. A maravilhosa cidade do Rio de Janeiro, cartão postal do Brasil, vem sendo maculada de terror, de violência e sangue sem trégua. Hoje, mais do que nunca. E ninguém consegue conter. Polícia, políticos, justiça, governos se mostram impotentes.

Os impostos que o povo despeja diariamente nos baús dos governos não se apresentam revertidos em segurança, saúde, educação, na melhoria da qualidade de vida das pessoas. E as pessoas seguem cordeiras sofrendo suas vidas.

Incontáveis famílias sofrem todo tipo de necessidades; vivem em constante desarmonia, desequilíbrio, pais sem emprego, filhos sem perspectivas, sem rumo. Comunidades vivem em clima de medo, sem segurança em suas próprias casas, em seus bairros, em suas escolas, em qualquer rua de qualquer cidade. O pavor e o medo se instalaram na sociedade brasileira e não se tem com quem contar. É assim o meu Brasil.

Aqui, apenas uma amostra dos absurdos que afetam profunda e perversamente as vísceras do nosso labirinto social. E não vem de hoje. Se não é de hoje, não se pode calcular quantos homens e mulheres e crianças já foram atirados na sarjeta social, escoriados todos os seus direitos humanos e de cidadão.

Tudo isso me leva a lembrar o grande escritor romântico português Almeida Garret, ainda nos idos de 1800: “E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico”.

Lá no velho mundo e naqueles idos, já se reclamava desses aleijões sociais. Aqui, neste nosso Brasilzinho danado, a cultura da corrupção foi plantada desde o seu descobrimento e vem sendo regada com a mesma voracidade e a mesma desfaçatez dos primeiros tempos por políticos que nunca se afastam da sombra deslumbrante do poder, nem que a vaca tussa.

Pero Vaz de Caminhas já profetizara em sua famosa carta ao Rei de Portugal quando, maravilhado, se defrontou com o colosso das nossas terras e matas tropicais: “... Aqui, em se plantando, tudo dá.” Deu no que vem dando.

E não adianta buscarem culpados, que encontrarão quiabos. Aliás, o joguinho do empurra-empurra também não vem de hoje. Herdamos, também. Deus perguntou a Adão se ele havia comido do fruto da árvore que Ele o havia proibido de comer. Ao que Adão respondeu que tinha sido a Eva que lhe dera para comer. O Senhor perguntou à Eva por que fizera aquilo, e ela, em cima da bucha, respondeu que a serpente lhe induzira a comer.

Até parece que foi aqui e nestes tempos modernos. Nada mudou, só mudaram as personagens. Podemos até correr risco de fazer grosseiras comparações, com a vênia do leitor: a nossa Constituição representaria o Senhor; o Brasil representaria o Jardim do Édem; o povo representaria Adão; as nossas instituições representariam a Eva.

Agora, adivinha que classe ou quais grupos representariam a serpente?





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*Antônio Carlos Fernandes da Silva
Professor, poeta, escritor
ancarfes@yahoo.com.br





terça-feira, 18 de março de 2008

CHAGAS VAL - POETA FALA A POETA


Carta ao poeta

Francisco Miguel de Moura


Caríssimo Poeta:


Ainda sob o impacto dos rutilantes versos da sua ANTOLOGIA, escrevo-lhe com a emoção de quem percorreu caminhos de luz e quase se perdeu nos meandros das palavras e nas vertiginosas curvas das estrofes, notadamente nos sonetos, que são o que de melhor existe no livro, embora me encantem sobremaneira os poemas curtos porque são a síntese de sua singular poética e a marca registrada da grande poesia de Francisco Miguel de Moura.

A poesia nos dá alento para viver. E você, por causa dela, viverá muito e escreverá novos livros plenos de emoção e de beleza, que nos encantarão a todos que o admiramos e o amamos exatamente pelos candentes poemas que urde em sua magnífica oficina, onde as palavras têm cintilações de lapidados diamantes, onde a cadência, o ritmo dos versos nos embalam. E eles nos encantam como inusitadas sinfonias.

As rosas estão intactas em suas pétalas ainda fechadas e nós queremos dissecá-las no afã de cultivar nosso jardim, e isso é o ofício dos poetas: buscar a luz e o perfume das flores para amenizar saudades e dores de um paraíso para sempre perdido, embora que, anelantes, o busquemos como Proust, e nos detenhamos diante de uma xícara de chá para nos perdermos “em busca do tempo perdido”, onde só a memória e as palavras hão de recuperá-los.

Não saí ainda da galáxia de Gutenberg, e a internet para mim é inacessível como a quadratura do círculo. É como se tateasse nas trevas querendo decifrar o enigma da Esfinge, isto porque a tecnologia moderna me é estranha e indecifrável com seus celulares e computadores. Acho, poeta, que obsoleto como sou, eu deveria ter nascido antes da Revolução Industrial, pois como Proust até o telefone me incomoda.

Entretanto, o que interessa mesmo é a poesia, a palavra dessa lavoura constante como a aurora. Ela nos desperta com pássaros e canções, num abismo de luz, a incendiar os canaviais da manhã. E, quando despertamos, espantados, vemos que os sonhos são apenas sonhos e a realidade nos dói como punhais, e a luz explode ante nossos olhos atônitos ou quase cegos.

Sempre que puder, escreva-me. Suas palavras são um estímulo. Apesar de praticamente não nos conhecermos, sinto uma grande admiração e estima por sua poesia, extensiva à sua pessoa.

Com o abraço do

CHAGAS VAL*

São Luís (MA), 15/02/2008

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* Francisco das CHAGAS VAL, poeta brasileiro, nasceu gente/menino no Piauí; mas como poeta é bem maranhense e dono de um estilo tão agradável quanto leve e profundo em seus mistérios
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