Mostrando postagens com marcador *Maranhão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador *Maranhão. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O VÔO DAS POMBAS



Antônio Carlos Fernandes da Silva*


O Brasil é um país marcado pelo antigo vício da corrupção. Está colocado entre os mais corruptos do mundo. É uma colocação e uma situação que nos enche de vergonha e tristeza porque séculos já são passados, e esta noite tenebrosa não passa.

A alegria que o carnaval e o futebol plantam no espírito do brasileiro pode até desviar olhares e atenções de muitos, mas não por muito tempo. Com pouco, estamos por aí com dores de cabeça, sofrendo a ressaca das inúmeras mazelas desse vício desgraçado.

As conseqüências dessas práticas são danosas e quase sempre irreversíveis. Infelicitam famílias, negam oportunidades, podam sonhos de gerações inteiras. Provocam elevação do índice de analfabetismo, de desemprego e da pobreza. Enfim, são inumeráveis os prejuízos que o exercício da corrupção causa à nação, à sociedade.

Geralmente praticada no escuro, porque teme a luz, às vezes, ela é conduzida para a claridade da lei, porém soluções concretas não aparecem. O objeto da corrupção não retorna aos cofres públicos. Os analfabetos continuam analfabetos, os sonhos de jovens e adultos perdem-se no tempo, os doentes continuam morrendo nos hospitais públicos, famílias continuam encarceradas em suas casas por medo de marginais, estradas continuam esburacadas quebrando carros e atrasando o progresso, nordestinos continuam enterrando seus mortos, vítimas das eternas estiagens sem soluções, e por aí vai uma fieira de gente brasileira prejudicada por essas brincadeiras de gente grande, pra não dizer graúda.

Eu sei, sobre esse tema muitos já falaram. Mas a farra continua, e o Brasil continua entre os piores. Ideal seria que ninguém se calasse. Que o povo tomasse consciência do seu papel social, do seu status social de cidadão e também empunhasse esta bandeira até que a justiça enfim fizesse justiça. Até que a justiça corrigisse seu vício de se fazer ouvido de mercador perante pragas dessa monta, que se instalam nas entranhas das nossas instituições.
Sabe-se que a cultura de impunidade incentiva e encoraja os corruptos e os deixa bem à vontade nesse exercício de manipulação das massas ingênuas. Eis que até o cidadão comum tem conhecimento, por exemplo, de prefeitos até de cidades pequenas enricando descaradamente logo no seu primeiro mandato e à luz do sol. O povo nem precisa de provas documentais para ter certeza de onde saiu tanta riqueza em tão pouco tempo. Os corruptos nem se preocupam em esconder a riqueza que não tinham. Ao contrário, até ostentam como se fosse troféu, fruto dos crimes que cometem contra a união, os estados, as cidades e as pessoas. Contra a pobreza e a miséria que eles mesmos constroem. Aliás, esta é e será a única obra que a grande maioria deles deixa para o presente e a posteridade.

Sabemos que leis existem aos montes, cadeias existem, e os cofres da nação são pombais de portas abertas cujas pombas a eles nunca retornaram. Assim como os nossos sonhos, que se foram “no azul da adolescência,” aos nossos corações também não voltam mais.

O Brasil já perdeu muito tempo, e os brasileiros, muitas oportunidades, muitos anos de vida. Então, quantas gerações têm que ser sacrificadas para que providências sérias e concretas sejam tomadas, e o povo, enfim, não seja mais penalizado?

_________________
Antônio Carlos Fernandes da Silva
professor, poeta, escritor, mora em São Luís (MA) – (98)3236-9655
e-mail: ancarfes@yahoo.com.br

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A CULPA É DO POVO (?)



Antônio Carlos Fernandes da Silva*

Jogaram na boca do povo que a culpa é do povo. É o povo que paga o pato. Sempre. Mas, quê fazer, meu Deus?...

Em todo ano de eleição, se apresentam candidatos dizendo-se, cada um, por seu turno, o mais honesto, casto, humilde, trabalhador, o mais preparado, profundo conhecedor dos problemas da sua comunidade, da sua cidade, do seu estado, do seu país.

Na mídia, vêem-se os tribunais, com toda a sua boa vontade, orientando o eleitor para que não deixe de votar nem de procurar fazer acertadamente a escolha ao seu candidato, a fim de não correr risco de eleger o famoso “Justo Veríssimo”.

O candidato entra nas casas do povo, pede, implora, emociona-se, chora, jura justiça e honestidade, promete o céu e a terra, e o povo, ávido por exercer a sua cidadania, orientado pelo tribunal, escolhe um deles e taca-lhe mais um voto de confiança.

Anos depois, cientistas políticos, mídia, políticos mascarados, doutores, professores, sábios, formadores de opinião estão a esbravejar: a culpa é do povo que não sabe votar.

E o eleito, lá do seu gabinete, com sua equipe de trabalho escolhida a dedo – literalmente - trabalhando incansavelmente em favor da comunidade. Da comunidade familiar. Bufando para o povo. Investimentos e gestões em obras sociais que possibilitem o povo a tirar o pé da lama e a trava do olho, nem pensar. O povo que se “exploda”.

Ao final de cada mandato, cada eleito sai mais robusto. E o povo mais definhado, decepcionado, desesperançado e até envergonhado de ouvir tanta acusação atirada sobre os seus ombros caídos, apesar de já acostumados a pagar a fava que o bode comeu.

Mas, quê fazer, meu Deus?... De lado pouquíssimas exceções, tanto faz dar no Zé como no José!... São os mesmos que já vieram, já foram, já voltaram. Não se cansam, não se saciam. E os tribunais eleitorais e de contas já os conhecem muito bem... A justiça, também.

Não tem que votar em um deles? Há outra opção? Eu acho que sim. Nestas circunstâncias, com toda a canga da culpa no pescoço, o povo só tem uma opção para se livrar dessa cruz. Não vou dizer aqui para não atiçar o eleitor nem melindrar autoridades, mas, quem já tangeu jumento, como eu e meus amigos Ivan Costa e Omar Prado, jumento levando chicoteadas, carregando duas ancoretas cheias d’água, tão pesadas que o pobre do jegue andava arqueado... Quem já tangeu jumento assim sabe o que ele fazia com freqüência no meio do caminho: apenas se deitava e pronto. Zefini.

Nesse momento, no meio do caminho, ele era a pedra. Não tinha menino no mundo que o obrigasse a se levantar e continuar caminhando com aquele peso cruel sobre o seu espinhaço. Nem com muita taca. Quando aparecia algum filho de Deus, adulto, com força e consciência arejada e retirava aquela carga do seu lombo, então ele dava uma bela descansadinha no chão frio, se espojava gostosamente e depois se levantava sem pressa sob fortes chicoteadas.

Mas a carga ficava lá no chão. Quem quisesse que derramasse a metade do conteúdo das ancoretas e as recolocasse no lombo surrado do jegue. Ao contrário, ninguém iria beber água cristalina em casa e todos iriam continuar sujos.

__________________
*Antônio Carlos Fernandes da Silva – E-mail: ancarfes@yahoo.com.br Professor, poeta, escritor, mora em São Luís-MA

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...