sábado, 7 de junho de 2008

VERSOS AO PAI

Francisco Carvalho*


Volto a ser o menino que segurava o teu braço
pelas ruas de uma cidade vazia.
Só a manada dos ventos dialogavam com
as aldravas que restaram de antigos invernos
e ríspidos estios de pássaros e nuvens
que se acasalavam no ar.



A morte, essa grandeza tenebrosa
com sua grinalda de espantos na cabeça,
já se desenhava em teu corpo
com as suas teias de escárneo e de odor
de matéria que se corrompe
ao gargalhar das mortalhas dançarinas.


Tu sabias onde repousar as mãos fustigadas
pelas tenazes do imponderável.
As veredas intermináveis das pedras
frias e das belezas imóveis.
Ah, tu sabias que as semeaduras da alma
florescem no húmus da morte.


_______________________
*Francisco Carvalho, grande poeta brasileiro, dono de um estilo singular inimitável, forte, moderno e ao mesmo tempo clássico como gênese, retraído e calado,nascido em 1927, mora em Fortaleza-CE, de onde publica seus livros e os divulga, ignorado ainda pela grande imprensa do Brasil.

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