quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A VOLTA BREVE AO ROMANTISMO

                      

     Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras.

            As correntes filosóficas praticamente se esgotaram e os filósofos desapareceram. Ficaram apenas a poesia e seus poetas. Na publicação de Um depoimento pós-moderno, Edições, Cirandinha, Teresina, 1989, eu dizia já prever a volta do romantismo no começo do séc. XXI, porque poetas e leitores não vivem sem poesia.
           Acabo de receber notícia do grande poeta renovador mineiro, Márcio Almeida, que conheci pessoalmente, nas décadas 1960/1970. Como disse, ele revolucionava a poesia brasileira com seus livros e ações em torno dos movimentos poéticos. A notícia veio por intermédio do também poeta mineiro Paschoal Motta, amigo dele e meu. Leiamos o teor:
             “Meu caro Paschoal, ‘Não panfleteie ideologia, / não holografe em atari, / não louversonhe as maras, / não palavre: Signatari’ (Márcio Almeida, Assassigno, 1987). Versinhos em homenagem ao Décio Pignatari, n. 20-8-1927 (Jundiaí) – f. 02-12-2012 (São Paulo), para quem o poema é o disigner da linguagem, que conheci em evento, quase um fracasso absoluto, em Belo Horizonte, juntamente com Carlos Ávila, que também perdeu o pai faz pouco tempo, escrevi a quadra, inclusa no Assassigno, cujo revival agora está de volta na publicação de Leituras indesejáveis, que você receberá nesta semana. Outro dia você me mandou um e-mail que também me deixou um pouco perplexo. É que as pessoas boas estão morrendo, os jornais mal e porcamente registram e rapidamente caem em esquecimento quando não no silêncio cínico, caso dos nossos Henry, Adão, Duílio Gomes, José Afrânio Moreira Duarte e tantos outros que se vão e pronto. E assim será, com toda certeza, também conosco. Temo pelo absoluto ostracismo em menos de uma década após a nossa morte. Meus filhos nunca me perguntaram o que estou produzindo, nunca leram artigo meu publicado em jornais, não conversam comigo sobre Literatura, nunca me perguntaram sobre a qualidade de um livro que lêem. Amanda já anunciou que quando eu morrer vai dispor de minha biblioteca em dois tempos: a chegada e a saída do caminhão para doar tudo para uma entidade. Isto, comigo. Não tenho referência se existe uma biblioteca com o nome do Adão que o reverencia, idem com o Henry e assim sucessivamente. O neoliberalismo com sua forçada equiparação por baixo faz com que as pessoas se achem todas no mesmo nível e assim todas se dão o direito de serem rigorosamente iguais em tudo. Dia desses quase rompi com um amigo porque ele estava espalhando via internete que para produzir miniconto o conhecimento da gramática era inútil, desnecessário. Sou pessimista em relação à sobrevivência da Literatura do futuro-já, mormente com a expansão do tablete e você lerá eu já tratando do assunto em Leituras indesejáveis. As pessoas (bem menos do que hoje) continuarão lendo, mas textos curtos, impactantes, encomendados. O que chamamos de Literatura tornar-se-á cult, arte devocional de apreciadores muito especiais. É um palpite. Sem uma Sociedade dos Poetas Mortos, sem uma ‘Sociedade’ que nos lembre a todos, indistintamente, além de virarmos pó, nossos nomes serão apagados de quase tudo. Seremos lembrados historiograficamente: ou porque, no seu caso, foi editor do SLMG (Suplemento Literário do Minas Gerais), ou porque foi professor de uma faculdade em DV, ou porque nasceu SPF e construiu uma biblioteca. Quantas pessoas se lembraram de um poema nosso? E quando essas pessoas morrerem? Lembra-se do filme Farenheit 45, do François Truffault? Não é à toa se ele é um dos meus prediletos. Sou mesmo veementemente contra Academia, mas ela tem uma vantagem: respalda vida e obra dos autores; conserva sua memória, vira e mexe, traz à tona o legado daqueles que realmente tem valor. Outro dia li na Folha de São Paulo que amigos cariocas do Bartolomeu Campos de Queirós iam prestar homenagem a ele no Rio, com exibição de documentários, exposição de suas obras etc. Está claro que sua morte ainda é recente, mas foi lembrado. Dinorah Maria do Carmo me enviou e-mail ontem à noite convidando para a leitura de poemas de Bueno da Rivera, em Santo Antônio do Monte, que também está sendo lembrado. O que falta mesmo é uma sociedade que preserve a memória dos autores, não os permita serem esquecidos e os mantenha vivos para os pósteros, pois em vida foram lidos, premiados, serviram de exemplo, dignificaram Minas” (e-mail de 03-12-2012).
         Na resposta do poeta Paschoal Motta há jóias como: “Há muito que fazer, Márcio, e principalmente pela humanização da Poesia Escrita, começando com a retomada do lirismo.”
               São três depoimentos em favor da volta da poesia mais suave, mais doce, mais amiga, mais gente falando que desenhos e figuras. Esse é o lirismo poético de um Márcio Almeida, autor deste depoimento fabuloso que nos enviou, assim como o do próprio Paschoal Motta. Romantismo numa linguagem nova, com a originalidade de cada um para todos. O fogo da Literatura deve ser passado à frente como o das tochas Olímpicas. Todos os povos são românticos e querem sobreviver por terem feito alguma coisa boa. E os escritores, justo porque escrevem, naturalmente pensam na escrita, na prosa e na poesia e no próprio nome, como forma de sobrevivência histórica.  “No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. (Evangelho, segundo São João). Acredito também que no fim também é o Verbo e o Verbo é Deus. E Deus é poesia.  E tudo isto é linguagem, tudo isto é poesia, tudo isto é lirismo e romantismo.

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