A CULPA, DE
QUEM É?
Francisco Miguel de Moura*
Dentro da pátria, somos soberanos para fazer
o que é bom, agir como cidadãos, dentro da lei. Abaixo daí, tudo é tirania,
maldade, desumanidade. E quem é cruel, desumano, inimigo da obediência às leis,
não pode ser bom cidadão. Cidadão é quem preza a terra, a tradição, a família, a
pátria, os irmãos que tiveram a sorte de possuir bens e os deserdados da
fortuna. E a todos respeita. Cabe citar
o mestre Rui Barbosa, quando define o que é a pátria:
“A pátria não é ninguém, são todos e cada um tem no seio dela o mesmo
direito à palavra, à associação. (...) Não é um sistema, nem uma seita, nem um
monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a
consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão
da lei, da língua e da liberdade.”
Mas, quando o povo joga lixo nas ruas e
reclama da sujeira, desobedece às leis de trânsito e reclama do mau trânsito,
reclama dos maus políticos e vota mal ou não vota, de quem é a culpa? Quando
trapaceia nos negócios e fica a pregar falsa moral, quando não liga sequer pra
horário de nada, seja o vigia do prédio ou o prefeito, o governador, o
presidente – de quem é a culpa? Por outro lado, que prefeito é aquele que não
cuida da limpeza e da beleza de sua cidade? Que prefeito é aquele que só vive na fazenda,
não atende aos que o procuram, só quando se trata do seu próprio interesse? Que
enriquece rapidamente e vive viajando a negócios “de mentirinha”, pois o que
faz é turismo, passeio, gastos pessoais com dinheiro público? Que exorbita na cobrança dos impostos? Que
não cuida da tradição da cidade, de sua história, de sua cultura? Governante
que não cuida da educação, saúde e segurança não merece respeito.
O povo tem o poder de criticar, e a melhor
crítica que se faz é eleger os bons, os que deram certo como administrador do
bem público, e não votar nos que traem sua confiança com projetos mirabolantes
na campanha e quando tomam o poder enriquecem-se por meios ilícitos,
traficando, burlando e açambarcando os cofres públicos através de contabilidade
fraudulenta, etc. Mentindo e falseando. Dizem entre si que é para agradar o
povo. Que povo é esse, então?
Também
a culpa é do povo quando este dá mau exemplo aos políticos – porque também pode
acontecer que o exemplo venha de baixo. Povo desse feitio não tem honra para
criticar. Mancomunado com os
ilusionistas da fé pública, povo assim não merece nunca ser elogiado. Procurar o jeitinho em lugar da lei e da
ética, insinuando a burocracia a ser desonesta, a administração a ser
condescendente, aos políticos a tratarem a coisa pública como se sua fosse – de
quem é a culpa? A culpa é também dos políticos, dos juristas, dos parlamentares
quando fazem leis casuísticas porque alguém da sua laia vai ser beneficiado. E eles
também são povo porque do seio do povo vieram.
Mas, estamos falando de que povo? Do povo
brasileiro, em primeiro lugar. Somos preguiçosos, queremos o mais fácil. Temos
defeitos malditos de origem, razão por que temos que trabalhar dobrado para
tirar a diferença de séculos. Só assim construiremos uma pátria democrática,
livre, justa e moralmente aceitável perante as nações civilizadas.
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Francisco Miguel de Moura –
Membro da Academia Piauiense de Letras, prosador e poeta,
e-mail:franciscomigueldemoura@superig.com
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