terça-feira, 10 de dezembro de 2024

 


                                  A CULPA, DE QUEM É?

 

Francisco Miguel de  Moura*

 

            Dentro da pátria, somos soberanos para fazer o que é bom, agir como cidadãos, dentro da lei. Abaixo daí, tudo é tirania, maldade, desumanidade. E quem é cruel, desumano, inimigo da obediência às leis, não pode ser bom cidadão. Cidadão é quem preza a terra, a tradição, a família, a pátria, os irmãos que tiveram a sorte de possuir bens e os deserdados da fortuna. E a todos respeita.  Cabe citar o mestre Rui Barbosa, quando define o que é a pátria:

             A pátria não é ninguém, são todos e cada um tem no seio dela o mesmo direito à palavra, à associação. (...) Não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade.”

Mas, quando o povo joga lixo nas ruas e reclama da sujeira, desobedece às leis de trânsito e reclama do mau trânsito, reclama dos maus políticos e vota mal ou não vota, de quem é a culpa? Quando trapaceia nos negócios e fica a pregar falsa moral, quando não liga sequer pra horário de nada, seja o vigia do prédio ou o prefeito, o governador, o presidente – de quem é a culpa? Por outro lado, que prefeito é aquele que não cuida da limpeza e da beleza de sua cidade?  Que prefeito é aquele que só vive na fazenda, não atende aos que o procuram, só quando se trata do seu próprio interesse? Que enriquece rapidamente e vive viajando a negócios “de mentirinha”, pois o que faz é turismo, passeio, gastos pessoais com dinheiro público?  Que exorbita na cobrança dos impostos? Que não cuida da tradição da cidade, de sua história, de sua cultura? Governante que não cuida da educação, saúde e segurança não merece respeito.  

O povo tem o poder de criticar, e a melhor crítica que se faz é eleger os bons, os que deram certo como administrador do bem público, e não votar nos que traem sua confiança com projetos mirabolantes na campanha e quando tomam o poder enriquecem-se por meios ilícitos, traficando, burlando e açambarcando os cofres públicos através de contabilidade fraudulenta, etc. Mentindo e falseando. Dizem entre si que é para agradar o povo. Que povo é esse, então? 

 Também a culpa é do povo quando este dá mau exemplo aos políticos – porque também pode acontecer que o exemplo venha de baixo. Povo desse feitio não tem honra para criticar.  Mancomunado com os ilusionistas da fé pública, povo assim não merece nunca ser elogiado.  Procurar o jeitinho em lugar da lei e da ética, insinuando a burocracia a ser desonesta, a administração a ser condescendente, aos políticos a tratarem a coisa pública como se sua fosse – de quem é a culpa? A culpa é também dos políticos, dos juristas, dos parlamentares quando fazem leis casuísticas porque alguém da sua laia vai ser beneficiado. E eles também são povo porque do seio do povo vieram.

Mas, estamos falando de que povo? Do povo brasileiro, em primeiro lugar. Somos preguiçosos, queremos o mais fácil. Temos defeitos malditos de origem, razão por que temos que trabalhar dobrado para tirar a diferença de séculos. Só assim construiremos uma pátria democrática, livre, justa e moralmente aceitável perante as nações civilizadas.

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Francisco Miguel de Moura – Membro da Academia Piauiense de Letras, prosador e poeta, e-mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br

 

 

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