O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.
Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)
Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".
Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.
A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.
Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.
Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.
Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?
Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.
Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.
Uma árvore nua
aponta o céu. Numa ponta
brota um fruto. A lua?
Neblina? ou vidraça
que o quente alento da gente,
que olha a rua, embaça?
FESTA MÓVEL
Nós dois? - Não me lembro.
Quando era que a primavera
caía em setembro?
E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.
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*Guilherme de Almeida, poeta paulista, estes haicais farão parte do livro "Antologia de poemas e poetas mais amados", organizada por Francisco Miguel de Moura, Teresina, Piauí.
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