CHEGA
O TEMPO
Francisco Miguel de Moura
chega o tempo de dizer-se
o que não se ouviu.
mas as palavras são mistérios
nem mais soam
como os sinos
nos nossos ouvidos
sonolentos
chega um tempo de dizer-se o impossível
e o impossível já foi dito
chega um tempo de calar
e a gente inventa uma maneira triste
de dizer numa língua estranha
um silêncio amordaçado.
A
HORA VAZIA
Francisco Miguel de Moura
silêncio sem boca nem fundo
esvazia-se no jarro partido.
a beleza da sala chora sem lágrimas
não tece preto nem branco.
cacos não preenchem o vazio,
são novos buracos cravados
no sangue da mão do menino.
e o vazio inquebrável
como qualquer desvio
da luz e do silêncio não se move.
nenhuma palavra.
palavras não enchem o vazio
nem a inutilidade dos desejos.
A
JOIA RARA
Francisco Miguel de Moura
Luz e sombra dão na mesma cor
dos olhos e do carinho.
Dizem que amor não some,
renasce do lodo, mansinho.
Mas preciso agora escutá-lo,
não abandono o que ganhei,
neste momento, sobretudo,
quando tentam riscar o passado.
Lábios
e corações, ó, não se fechem,
os
olhos têm a última esperança.
Que
reste sempre um fio de cabelo
no
tempo de cada um, nas entranhas.
Um
vintém de qualquer aventura
para
os que não conseguem
nessa
margem se perder.
As.) Francisco Miguel de Moura
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