domingo, 13 de setembro de 2015

DIREITOS PARA DESCUMPRIREM DEVERES

José Maria Vasconcelos
cronista, josemaria001@hotmail.com
      
        O leitor Francisco Cambraia, de Fortaleza, leu reportagem e me enviou a matéria para reflexão: juiz Eliézer Siqueira de Sousa, de Tobias Barreto, Sergipe, julgou improcedente pedido de indenização, que uma mãe pleiteava contra professor que tomara celular de seu filho, por estar ouvindo música, durante a aula. A mãe exigia reparação por “sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional”.
         O juiz negou o pleito: “Julgar procedente esta demanda é desferir uma bofetada na reserva moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra educação, as novelas, os realitys shows, a ostentação, o ‘bullying intelectivo', o ócio improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos valores e implodindo a educação brasileira”. Palmas, senhor juiz!
Quando a Justiça é composta de magistrados justos, infelizmente raros e abnegados, sem auferir lucros, pois o generoso salário lhes basta. Como juiz Sérgio Moro, de modesta vara federal de Curitiba, desbarata dezenas de acusados da Lava Jato. O juiz cerca-se de punhado de procuradores, agentes da Polícia Federal, 27 desembargadores do Rio Grande do Sul, todos empenhados em oferecer uma esperança moral ao Brasil. O povo os aplaude. Outros exemplos de magistrados do bem honram a nação. Voltemos à decisão do juiz Eliézer Siqueira, também de modesta vara do interior sergipano:
         "No país que virou as costas para a Educação e que faz apologia ao hedonismo inconsequente, através de tantos expedientes alienantes, reverencio o verdadeiro herói nacional, que enfrenta todas as intempéries para exercer seu ‘múnus’ com altivez de caráter e senso sacerdotal: o Professor." Isto deveria ser lido em todas as salas de aula e nos encontros de pais e mestres do Brasil.
         Uma nação, que se preocupa somente com direitos de cidadão e quase nada com deveres de cidadania, desequilibra-se moralmente. Não se constrói um país próspero, quando a liberdade não se freia nos limites da responsabilidade individual. E tudo começa na família, desde cedo: disciplina no dormir, acordar, entrar, sair, comer, consumir, estudar, dormir, vestir-se, brincar, trabalhar, ganhar dinheiro.
         Inadmissível uma magistrada condenar uma escola por expor a relação dos alunos, após avaliação bimestral. O filho da magistrada inseria-se na relação. Claro, notas negativas que refletiam não só o desempenho do estudante, mas da vigilância dos pais. Tarefa que se inicia bem cedo, no lar, senão sofrerá desastres morais, ao longo da vida, por condutas insanas, como meter a mão nos bens públicos e na prática de deslealdade para com funcionários e amigos. Famílias se desmantelam, quando fronteiras da liberdade se fecham para cultivo de virtudes; quando interesses giram em torno do conforto pessoal. A mãe do engraçadinho estudante, que ouvia música durante a aula, mereceria voltar às salas de aula e aprender noções básicas de responsabilidade e vergonha. Valeu, seu juiz!

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