domingo, 25 de outubro de 2015

UM FÁCIL PREFÁCIO AO LIVRO DE SOLON

Francisco Miguel de Moura*         



                   PREFÁCIO
                              
               Todo fácil é difícil. O grande intelectual A. Tito Filho me dizia sempre que, “de modo geral, os médicos escrevem bem”. E eu passei a observá-los. O médico luta em favor da vida e a vida não é fácil. Tinha sentido o que disse (e escreveu) o mestre Tito Filho.

             Tenho muitos amigos médicos e médicos amigos, mas nunca nenhum publicou livro ou me pediu opinião sobre a língua portuguesa e a literatura.  José Solon de Sousa é o primeiro, com o qual comprovo aquela teoria de A. Tito Filho e de outros mestres que têm escrito crítica literária. 

               Pessoalmente, creio que não o conheço ou não lhe gravei a figura, mas conheço a prosa – um bom prosador – num livro anterior, uma espécie de biografia de sua vida e do que fez com ela.  Prosa bem concatenada, com bom sentido e sonoridade.  Já na poesia, usa rimas a valer – que não fazem propriamente a poesia, mas a enfeitam.

              Sua prosa, neste “Poesias, Cantos e Prosa”, é limpa, digna dos melhores elogios, prova de que é um conhecedor consciente do nosso tempo, especialmente com relação à política. Cito a “Carta aberta ao povo de meu Deus”.  A imagem do “Cavalo de Troia” que ele ressuscitou, para qualificar os novos políticos, é realmente interessante, em cujo cavalo os velhos estão montados e precisam sair, mas não saem: vão metendo lá os novos. Até quando?

             A sua poesia é controversa como a vida é controvertida, e muitas vezes até parece que estamos ouvindo/lendo “o samba do crioulo doido”. É que a vida atual não tem música, e se não me engano, Solon é músico e faz teatro na recriação de seus poemas não musicados e nas músicas que compõe sobre eles. De qualquer forma, de uma maneira bem popular, com muita rima e tantos trocadilhos, ele grita aos ouvidos dos que passam dizendo que a vida que temos não é certa. E que ninguém conserta a vida com esmolas e enganações. Um exemplo de grande valia, neste prefácio insignificante, será suficiente para que o leitor de prefácios comprove o que digo antes do conteúdo do livro:
                      “A terra não mais agüenta!
                      Nas ondas do mar existe mão e demão,
                       sem esse equilíbrio das forças,
                       ao toque de uma canção.
                       A vida esmaece.
                       Aprendamos esta lição:
                       O verso está no clima,
                       mas... o clima é diverso!”
             Outras estrofes que provam o que digo vou citá-las:
                       “Vamos todos a Pandora eleger?
                       Pegue um saco, uma cesta, uma bolsa...
                       A copa do mundo e o feijão
                        Estão criando um novo mensalão!”
          Sua “Pandora” me traz um eco do grande poeta Manoel Bandeira, quando reinventando os versos de “Vou embora pra Pasargada”.

            José Solon de Sousa tem um jeito especial de criticar criando rimas: um poeta trágico, tétrico como é o nosso tempo. Mas noutra parte, creio que nos poemas musicados, fica menos acre, sem deixar de ser crítico: “São Francisco venha ver / O lamento do sertão / No terreiro da Chiquinha / Falta até nosso baião: / Baião de dois, / Baião de mil”.

           Infelizmente, a palavra não diz tudo, é preciso que seja interpretada. Por isto é que José Solon se dispõe a ouvir os ais dos que gritam contra o “mar de lama dos mandantes” e formar com eles. “Quem geme é quem sente a dor”, diz o vulgo. Que o grito dos poetas seja um grito primal quase sem fim, contanto que salvemos a nação, e se não pudermos, ao menos se salvem algumas almas. E estas só se salvam pela poesia de poetas como Solon, não preocupados com classicismos e outras escolas.

          Parabéns, Solon, pela sua coragem e seu jeito bem pessoal de fazer poesia, dizendo e gritando. Embora não salvemos o mundo, pelo menos abrandaremos a dor das nossas mágoas.

                                                                                                   Teresina, PI, 10 de outubro de 2015
______________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador, mora em Teresina, é mais conhecido pelo apelido de Chico Miguel,esteve no Seminário de Literatura de Picos, em 23-10-2015, lançando seu livro "Literatura do Piauí", assim como José Solon de Sousa, lançando seu livro deste prefácio.. 
Tudo ali foi sucesso.

Um comentário:

www.solonreis.com.br disse...

Aqui vai mais um ânimo de agradecimento a este ícone da literatura piauiense e brasileira, que além de tudo, ainda nos dar a graça de sermos amigos!

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