quarta-feira, 1 de abril de 2015

DONA ALZAIR NOS CAMINHOS DE JOSÉ LOPES DOS SANTOS

Francisco Miguel de Moura 
Escritor, membro
da Academia Piauiense de Letras*

         José Lopes dos Santos, muita gente conheceu e conviveu com ele. Membro da Academia Piauiense de Letras, cronista, jornalista, radialista, musicista, advogado, político, funcionário público, foi um homem dos 7 instrumentos, como falou Zózimo Tavares, na excelente apresentação do livro “Caminhos & vivências”, escrito pela funcionária dos Correios e Telégrafos e professora Da. Alzair Fernandes, nascida em 05-02-1927, em Miguel Alves-PI, e em plena força para escrever tão bem.
        Pessoas de fé e muita educação, os dois: o acadêmico e a escritora Alzair Fernandes. Vejamos quem ela escolheu para gravar numa biografia, um memorial de sua vida e vivencias: – José Lopes dos Santos, um cavalheiro, um verdadeiro “gentleman”.
        José Lopes serviu a vários governos, de várias correntes partidárias, em diversas ocasiões, através de cargos de confiança, e de todos recebeu grandes elogios. Antes tinha sido Prefeito de São Miguel do Tapuio–PI, cujo fato aconteceu: a) - primeiro, por conta de sua amizade com Manoel Evaristo, o chefe do lugar; b) por sua competência, sinceridade e honrado cavalheirismo, além da amizade nunca estremecida com aquele que era o principal chefe da oposição a tudo quanto existia de poder, na cidade de São Miguel do Tapuio, Manoel Evaristo.  José Lopes dos Santos foi nascido no Ceará, mas crescido e renascido no Piauí. Comandante e comandado foram vitoriosos naquela eleição.
       Sra. D. Alzair Fernandes, não se preocupe se muito falamos sobre José Lopes dos Santos. Acontece sempre assim com o biografado e o biógrafo. Aconteceu comigo quando publiquei “Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho”: - Ainda hoje me procuram para que dê entrevistas falando sobre O. G. Rego e sua obra. Isto, para nós, é a glória. Você se tornará conhecida e admirada aos poucos, o tempo foi bom com você por ter sido a biógrafa de José Lopes dos Santos. Ninguém estaria mais capacitada para o empreendimento, em virtude da bela convivência, da paciência e da memória para guardar as conversas, os fatos, a leituras da obra dele, um homem de moral ilibada, um cidadão que criou uma família com sacrifício psicológico grande por serem adotados.
       Minha mãe já dizia: “Meu filho, acompanha-te com os bons e serás como eles; acompanha-te com os maus e será pior do que eles”. Seu conhecimento sentimental e autêntico de como foi a vida de José Lopes dos Santos, como falava, como escrevia, como se comportava com os amigos (porque, inimigos, não acredito que os tivesse) aplainou os seus caminhos, fez você produzir esta obra tão simples quanto vocês dois: o homenageado e a homenageante. Simples nunca foi depreciativo. Simples é bom. Existe gente que toma simples por fraco, dispensável, porque não abriu as portas da própria percepção. Segundo o poeta inglês William Blake: “SE AS PORTAS DA NOSSA PERCEPÇÃO FOSSEM LIMPAS, TUDO APARECERIA AO HOMEM TAL COMO REALMENTE É: INFINITO”.
         Nós e as nossas obras somos infinitos, especialmente quando temos sonhos, fé e acreditamos em Deus: A escritora Alzair Fernandes é imortal, não somente porque abriu as portas da percepção ao imortal da Academia Piauiense de Letras, esta Casa de luminares. Você abriu suas portas a tantas outras boas coisas da vida.
         Nós somos o tempo. “O que existiu, há sempre de existir”, é o fecho, a chave de ouro de um dos meus sonetos. Este pensamento, eu não retiro. Pois ele casa tão bem, isto é, se ajusta ao pensamento do poeta William Blake, citado antes.
         A bondade, a beleza, a justiça, a generosidade, a amizade são infinitos quando nós somos bons. E é sendo bons que vamos nos tornando infinitos, ou eternos, como queiram.
        “Quem é bom já nasce feito / quem quer se fazer não pode / ainda que encubra as faltas / no mesmo tempo descobre”- são versos que minha mãe me recitava. E eles me fizeram filosofar como Dona Alzair, no seu livro:
        “A independência do homem é utópica” (pg.14).
         Isto quer dizer que o homem é bom ou mau, intrinsecamente. Os intermediários são remédios sociais que não garantem para sempre. Porque os bons são bons infinitamente. E os maus, coitados, são maus infinitamente, já disse num artigo e aqui repito.
         Agora me deu vontade de citar a frase de D. Avelar, no meio da “Oração por um dia feliz”, quando o cantor Marco Antônio morreu: “É bom ser bom”. Quem duvida?
         Todos nós dependemos de Deus, somos parte de Deus, deveríamos ser bons. Aí me vem “a teoria dos contrastes” de que falava José Lopes dos Santos e você lembra no seu livro. Mas a parte jamais chegará ao todo: são os mistérios a que não chegamos como entes transformáveis e não tanto transformadores.
         Tenhamos fé, tenhamos crença e esperança, como Alzair Fernandes, como José Lopes dos Santos, ambos homenageados hoje, e teremos o infinito bem em nosso favor.
          Parafraseando o poeta Fernando Pessoa, Dona Alzair, eu afirmo: Seu livro é bom de ler, é um verdadeiro poema de simplicidade e amor, e mais que ocasião para que o leitor abra as portas da percepção.
          Sua prosa é escorreita, quero dizer; ela é tão corrente como um rio de águas claras. Que mais posso dizer? 
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* Estas palavras foram lidas, por Francisco Miguel de Moura, no Auditória da Academia Piauiense de Letras, em 28-3-2015,  quando autora de "Caminhos & Vivencias", espécie de biografia de José Lopes dos Santos, membro da APL, falecido já há algum tempo.

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