sábado, 25 de janeiro de 2014

Colóquio: estilo e rima

 Francisco Miguel de Moura
 escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

Conversando com meu amigo Roosevelt Silveira, lembrei-me de um diálogo interessante sobre estilo. Certo dia, na Rádio Pioneira, famosa no tempo em que ainda não havia televisão em Teresina, o locutor me perguntou de chofre: - O que traz de novo o livro que está divulgando? Você não critica sua obra anterior, prezado poeta Chico Miguel?

- E você? - pergunta meu ouvidor neste colóquio – o que disse?

- O livro “Areias”, foi a experiência de estreia – respondi de imediato, e acrescentei: - Cada livro que escrevo, prezado repórter, é uma crítica ao anterior.  Meu propósito foi e é sempre lançar trabalhos diferentes. Não no estilo, porque “o estilo é o homem”, disse Buffon, o clássico pensador francês, mas diversificado no assunto, diferente no ritmo e na linguagem, evitando repetições minhas, mesmo que por outras palavras, e de outros, salvo alguma citação. Nunca quis ser ninguém mais do que eu mesmo. O Prof. A. Tito Filho, celebridade do Piauí, presidente da Academia Piauiense de Letras por mais de 20 anos, me dizia e até escreveu que eu era “o Drummond do Piauí”. Eu não gostava, pelos motivos que apontei acima. Mas pelo respeito que tinha ao saber do elogiante e à fama de Drummond, ficava calado, apenas soltando um sorrisinho frio. 

Desde que comecei a escrever, acredito que ninguém é maior do que a obra. Às vezes quis estender o conceito a outros domínios, mas me contive. Deus fez cada homem como um ser diferente, e porque, de toda forma somos diferentes – assim também somos iguais.  Daí por que imitar? A imitação em arte (salvemos os artistas do palco, creio) só é aceitável como aprendizado. A partir do momento em que o autor dá publicidade a um trabalho diz: “assino embaixo, isto é meu” Se não for, amanhã alguém descobrirá a falsidade.

 Drummond, num cartão que me enviou, datado de 11 de julho de 1979, acusava o recebimento de meu 3º livro de poesias: “A Francisco Miguel de Moura. Num abraço cordial, meu agradecimento atrasado pela oferta da variada e sugestiva poesia de Universo das Águas, a que teve a gentileza de juntar um exemplar de Cirandinha, que também muito apreciei. Toda a simpatia do Carlos Drummond de Andrade”. Essa cartinha foi publicada em fac-símile no livro “Fortuna Crítica de Francisco Miguel de Moura”, edições Cirandinha, Teresina, 2008.

Agora, voltemo-nos para o assunto rima, que é do interesse do meu interlocutor, neste colóquio.  Num pequeno trecho do “Dicionário de Arte Poética”, de Geir Campos, aprendi isto: “RIMA – concordância de sons, finais ou internos, entre um verso e outro ou no corpo do mesmo verso. No plural, o termo RIMAS assume às vezes o mesmo significado de VERSOS. Carece de fundamento a atribuição do étimo RIMA, do latim, que quer dizer fenda ou greta, e ainda mais a hipótese de uma origem árabe, RIZMA, porção, ruma, pilha de coisas. A expressão RIM transbordou do provençal para outros idiomas europeus, provinda do grego RHYTHMOS. Mas vale a pena recordar-se o nome de CARMEN RHYTHMECUM dado na Idade Média a qualquer composição poética construída fora dos cânones QUANTITATIVOS tradicionais das letras greco-latinas”.  

A citação seria mais longa se a conversa não se pretendesse tão breve. Agora tento resumir o que vale a rima de uma palavra no singular com outra no plural: - UM DESMAZELO! Quem tem bom gosto não usa. É como, na prosa, sujeito no plural e predicado no singular e vice-versa. Salvem-se as exceções. Hodiernamente se fazem poemas e poesias com rima, sem rima, e/ou mistos. Mas, na literatura clássica, as rimas classificadas pelo som, são: consoantes (perfeitas ou não), imperfeitas, toantes, além das chamadas rimas ricas e pobres. Toantes, as mais contestadas, são como as que aparecem neste poema de Henriqueta Lisboa: “Ângulos e curvas se ajustam / formando um volume, um TODO / somos uma coisa única, / eu e a lembrança do MORTO”). 

Na escritura de modo geral (poema ou prosa),  fica claro o sobrelevo  da rítmica. E os ritmos são variadíssimos nas formas clássicas e mais ainda nas modernas - tão pessoais quanto intransferíveis - indo ao encontro do estilo de cada um.

Mas quanto esta crônica, meu caro amigo, está virando técnica, hem!? Além do mais, uma colcha de retalhos. E se assim é, assim não seja: Quero terminá-la referindo o seu exemplo, meu interlocutor, que continua sendo Roosevelt Silveira - o maior colecionador de minha obra e possuidor da melhor e mais completa biblioteca de literatura de sua região. Mora em Guaçuí – ES, bela cidadezinha. Lá visitamos até um Cristo Redentor, réplica ao que há no Corcovado, diante de um panorama ecológico esplendoroso. Se hospitaleiro é o lugar, mais hospitaleiro é o coração do amigo, pois nos recebeu (eu e Mécia) e convidou-nos a ficar uma semana. Viajávamos para o Rio de Janeiro. Faz muitos anos, não é? Irmanados pelo Banco do Brasil e, nas horas vagas, também pela literatura, Roosevelt Silveira tem uma natureza tão legal que chego a pensar não haja no mundo outra pessoa tão receptiva. A bondade é irmã da sabedoria, eu creio. Passamos, eu e Mécia, dias tão felizes com o casal Roosevelt x Edinea e filho que, durante o resto do nosso passeio, sempre nos vinham à lembrança. E hoje é a saudade. Faz tantos anos, não é!?

Um comentário:

CHIICO MIGUEL disse...

Caro Amigo Roosevelt,
Mandei, hoje, por e-mail, xerox da crônica/artigo publicado no jornal O DIA, Teresina,em 25-1-2014. Se gostar, pode reproduzir em seu blog.
Recomendações à família com abraços ao Roney e ao outro que não me lembro do nome.
Disponha do sempre
chico miguel

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