sexta-feira, 4 de outubro de 2013

TENHO UM EGO DE POETA: - VIVO

Francisco Miguel de Moura
 Poeta e prosador brasileiro
e membro da APL e da IWA.



        Sou tão egoísta que aceitei fazer este depoimento. Sou poeta, sim. Vivo. E tão egoísta quanto qualquer criatura humana. E o “ego” das pessoas, de modo geral, só é conhecido pela inveja e pelo orgulho que todos trazem no íntimo, escondidos, vícios estes somente curáveis com a humildade. Não tenho respostas, tenho opiniões. 

         Mesmo que eu não fosse poeta, meu “ego” ainda seria grande, embora menos evidente. Quando comecei a escrever, tinha ânsia de ser original, não imitar nem repetir ninguém. Depois vi que originais somos todos enquanto criaturas; mas, enquanto pessoas, eu percebia a grandeza e a miséria da antítese espírito x carne de que somos feitos. Então, como seres sociais pela educação, ética, estética, ou pela carência de uma ou de todas as manifestações humanas – vivemos. Somos uma pequena parte de Deus, representantes dele.  Deus é poesia, música, doçura. Gozamos e sofremos. Mas, quem fez a dor foi o demônio, o Nada, o contrário de Deus (outra contradição). Quando a dor nos fere transforma-nos em morte, destruição, falta de harmonia. Contra essa dor (seja material ou espiritual) tenho lutado em minha poesia, com maldições, e às vezes até peco perdendo a paciência, como em meu poema “DÚVIDA”: 

“É mais triste que possa parecer 
o sofrer do inocente. Estou confuso! 

Se Deus existe, tudo me faz crer
seja um ente tão sádico e orgulhoso 
que só nos cria para o seu prazer.

Algumas vezes penso deoutra sorte: 
um velho deus coitado a padecer 
 arrependido por ter feito a morte”. 

        Francisco, nosso papa de Roma, em entrevista de 25 de setembro, disse: “A procura de Deus é sempre acompanhada por incertezas”. E todos o procuram. E o procuramos também quando negamos como os materialistas, ateus, anarquistas e de qualquer tipo de ideologia. 

       Outros que procurem os grandes filósofos. Eu procurei o papa, meu xará (xará também do grande poeta Francisco de Assis). Não o procurei, repito, ele me caiu à mão. Na entrevista citada, ele continua: “Se alguém tem resposta para todas as perguntas, essa é a prova de que Deus não está com ele. É um falso profeta”. Minhas dúvidas demonstram que não quero ser um profeta nem um falso poeta. 

        Retomando o barro humano do diálogo sobre a poesia, os poetas e seus “egos” crescidos, vale lembrar que poesia é cultura como tudo que o homem faz; o poeta é um ser social com todos os defeitos e qualidades da criatura, mas o seu grito e a sua palavra abrem feridas e mostram bálsamos salvadores. O poeta não fala apenas por si. O “si” do poeta é só um personagem. A poesia é ficção em busca da verdade do “eu” e do “outro”.  Mas, se nada encontra ao escrever seu poema, “sua inspiração fugaz” vale-se do “ego”. A criatura (o indivíduo) não mente, acredito. Já a pessoa, jungida pelas circunstâncias sociais, pode ser mentirosa, pecar e cair na anti-poesia, no preconceito, no formalismo desgastante. Poeta não tem partido nem preconceito. Poeta eu sou, não tenho vergonha de sê-lo, em qualquer lugar e tempo. Mas não me acredito maior nem melhor que ninguém. Isto de classificação pertence à sociedade, à mídia, à história. Eles julgam, eu não. Sou poeta do tempo e no tempo me consumo. Quando termino de construir um poema e creio que disse o que tinha a dizer em palavras e orações novas, ou pelo menos renovadas, me sinto “egoísta”, me acho um pequeno deus. E isto todos nós somos, sem precisar de religião, partido, filosofia, nada. Penso estar fazendo o bem, contribuindo com o meu dever – e fazer o bem é um poema bem feito, é uma obra de beleza, é trabalhar na construção do mundo, da paz, da alegria, da felicidade, no caminho da luz.

         Creio, sim, que Deus, como poeta que é, convoca todos os poetas para os céus, ele não tem preconceito. Não há poeta anarquista, nem filósofo, nem construtor da ficção do poder de mando, por ações e palavras que, no fim de contas, são mentiras. Esforcei-me para mostrar minha “cauda de poeta”. E este é o tamanho do meu “ego”. Assim, creio que sou mais humano, mais que o barro de que fui feito. E não me estenderei mais. É preciso que os outros pensem e debatam o ser da poesia e o “ego” dos poetas, ambos necessários desde que com ciência e consciência. 

         Endereço este depoimento aos poetas Álvaro Pacheco e Diego Mendes de Sousa, do meu querido Estado do Piauí, pois gostaria que fossem os primeiro a se manifestarem.
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*Meu e-mail: é  franciscomigueldemoura@gmail.com e meu endereço postal é Avenida Rio Poty, 1870 – CEP: 64049-410 – Teresina, Piauí, Brasil.

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