Começou no seio do show,
Boate de classe improvisada,
Bilhete a prestação, pelo cartão.
Por quase nada - um favor de quem
Ninguém sabe, mas alguém entrou.
Começado o barulho lá por dentro,
Um cheio enorme e só falta de ar
Silenciava a rua lá por fora.
Os cartões saltaram no palco,
Vestidos, sapatos, calcinhas,
Cuecas... E até de camisinhas
Encheu-se o recinto.
Diante do levante:
- Ninguém dança, ninguém toca.
Ninguém se toca, abriram-se os casais.
Todos corriam, ninguém se abraçava.
Os instrumentos voaram pelo ar:
Trombones, zabumbas, guitarras,
Feito andorinhas que se espantaram
Da torre da igreja dos pecados.
Em seguida, como um relâmpago,
Veio a bomba que consumiu a todos,
De tal forma a cinza era tão cinza
Que não foi possível identificar os corpos.
Depois, impossível saber
Quem era sombra de gente ou de roupa.
E as pessoas que ali entraram,
E não saíram, onde estão?
Quem sabe se lá no céu
Aonde sobem todas as fumaças?
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*Francisco Miguel de Moura, poeta das pessoas e das coisas, amando as primeiras e suportando as últimas.
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