terça-feira, 23 de julho de 2013

QUEM SÃO OS LÍDERES DESPOJADOS?

José Maria Vasconcelos, cronista.
 josemaria 001@hotmail.com


    De tempos em tempos, surge avalanche de neologismos, às vezes, totalmente deturpados no sentido tradicional e etimológico. A década de 1960 foi pródiga em neologismos e significados exóticos (psicodélico, prafrentex, engajado, alienado, esquerda, direita, long-play, inserido no contexto, anticoncepcional, sex-appeal, brasa, mora!, tira (militar), amizade colorida, hippie). Anos 70-80, pouca invenção. Nas últimas décadas, avanços tecnológicos e a "internet"(olha aí o novo), centenas de neologismos e esquisitices verbais invadiram as comunicações. É o caso da palavra "despojado". 

    Descobri, em  loja do centro comercial de Teresina, anúncio que dizia: "Alugamos e vendemos  looks(olha o novo) de luxo despojados para noivas." E se inspirava em desfiles chiques de marcas famosas. Apaixonados por motos turbinadas e caras criaram, no Rio, a "tribo"(olha de novo o novo) dos "Despojados do Asfalto". 

    No programa televisivo,"Pequenas Empresas, Grandes Negócios", a empresária exibia "perucas despojadas" a preços acima de 10 mil reais, além dos serviços de "cachos despojados". E por aí vai colando o vocábulo em todo produto bom e caro. 

    Desidério Murcho, filósofo e escritor português, escreveu o livro, "Os Despojados", sobre utópica organização política e social em um planeta fértil e imaginário. Uma colônia de anarquistas, sem dinheiro, sem classes sociais, sem leis. Aos poucos a sociedade dos despojados começa a utilizar princípios  comunistas e capitalistas. O termo "despojado", neste caso, adequa-se à terminologia.

    Finalmente, qual o verdadeiro significado do termo "despojado"? Vamos ao latim clássico, "spoliare", em português vulgar, virou "esfolar", extrair as tripas. Daí, o sentido figurado, "roubar", e, em português erudito, "espoliar. Por fim, o sentido cristão de "tirar de si e oferecer",  "simples", "desambicioso", "enxuto", "informal". Nos evangelhos, Jesus ensina o despojamento da vaidade, do sentar-se nos primeiros lugares, do exibir-se em prejuízo dos mais humildes e excluídos. Despojar-se da soberba nos banquetes e ceias, de exigir lava-pés da submissão. Despojar-se de avançar no cônjuge alheio. "Nisto conhecerão que sois meus discípulos."

     A verdadeira liderança se conquista com o exercício do despojamento, através da generosidade, espírito público, ética, transparência. Na hora da eleição, é o candidato mais lembrado. Toda espiritualidade, especialmente cristã, ensina a se despojar do excessivo apego ao material. A comunidade agradece e venera. Louvável exemplo, Papa Francisco, conquista cristãos e não  cristãos.

    Políticos por aí posam de despojados, abraçando povo humilde, rezando fervorosos, comendo panelada com os pobres. Que despojamento? Esfolando o alheio e a própria consciência? Portanto, não colar a palavra em produto de fantasia comercial, em desfavor da pureza e do exercício cristão.
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Nota: Esta matéria foi postada por Francisco Miguel de Moura, com autorização do autor, José Maria Vasconcelos

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