sexta-feira, 21 de setembro de 2012

EDUCAÇÃO: OLHAR PARA DENTRO

 
EDUCAÇÃO - OLHAR PARA DENTRO

 Francisco Miguel de Moura*   



                Curso de formação 
de professores índios Pará


             Samuel Pessoa, que não se considera nenhum intelectual, mas apenas mestre de Física e doutor em Economia, chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia, na Fundação Getúlio Vargas, diz que “o maior erro dos governos dos últimos tempos é a negligência com a educação”, verdade gritante que entra por nossos olhos e sai pelos nossos ouvidos. Tudo isto por causa de uma orientação que, de modo geral, tem sido seguida desde muitos anos da democracia brasileira: “A gente olhava para fora; o problema da educação tem que ser olhado para dentro”. O economista Samuel Pessoa faz justiça quando diz reconhecer o esforço do governo Lula para melhorar a educação. A passagem do ministro Fernando Haddad, no Ministério da Educação foi positiva. Mas, de modo geral a esquerda tem visto que o mal do Brasil é a exploração internacional, daí preocuparem-se mais com a indústria do que com a educação.  O gozador Joãozinho Trinta arrebenta na frase de “quem gosta de indústria e chão de fábrica é intelectual”. Na mesma entrevista à revista Época (Rio, 3/9/2012), o Dr. Pessoa elogia a visão dos economistas Eugênio Gudin e Carlos Langoni, no passado, quando serviram a governos diversos, por uma orientação mais equilibrada entre os dois polos de problemas entre os quais se debate nossa Nação: - A quem dar prioridade, para o país crescer, à economia ou à educação?  Na mesma entrevista crítica o Prof. Celso Furtado, “uma pessoa que passou a vida inteira pensando porque o Brasil é subdesenvolvido, escreveu mais de trinta livros sobre o tema, mas nunca tratou da educação”.
          As esquerdas do Brasil, nação em condições historicamente subdesenvolvida no que se refere à instrução e educação de seu povo, enquanto o país construía Brasília, estavam nas ruas defendendo “o petróleo é nosso”, a quitação da dívida externa, etc. e esqueceram de movimentar-se em defesa da escola pública de qualidade, gratuita, para todos os brasileiros. Não houve nenhum grito.  Estatísticas atuais afirmam que continuamos gastando 70 vezes mais com cada aluno de nível superior do que, comparativamente, com os demais.

       Nossos governos nunca levaram a sério uma decisão político-administrativa considerando e empreendendo a educação fundamental, gratuita, de qualidade, para todos os brasileiros. Depois desse desprezo, em nome de uma liberalização para o ensino, em qualquer nível, em estabelecimentos particulares, a escola virou um negócio, o aluno, um objeto e o pai do aluno, um cliente. Por essa via torta, ficaram melhores as escolas particulares (quando o modelo deveria ser a escola pública), preferidas pelos ricos e pela classe média alta nos cursos de primeiro e segundo graus. O superior, onde os governos investiram mais, também os ricos e médios festejam-na por ser gratuita, tomando as vagas dos pobres e negros e índios.  Agora, a quota de 50% das vagas nas Universidades Públicas, para negros, pobres e índios, mais parece um remendo podre em roupa já de bastante uso.  Os governos têm protelado com a ilusão de que é possível “tapar o sol com uma peneira”. Aqui tudo foi pelo avesso do que aconteceu na Coréia do Sul: - O milagre econômico foi começado pela escola como necessidade urgente e para todos, de alta qualificação. “É a única vez na história que uma sociedade iletrada dá origem a filhos com ensino secundário de alto nível e a netos com educação superior de boa qualidade”, declara o Prof. Samuel Pessoa, na entrevista. Eles se deixaram possuir pela “febre da educação”, dando exemplo para o mundo moderno.

          Sem família, sem escolas, apenas com palavras na tevê, ou, no máximo, medidas paliativas tomadas às pressas, sem sério planejamento para enfrentar a infância abandonada, nosso Brasil há muito tempo virou “um país de coitadinhos”, um país de miseráveis. Educar é libertar. Mas não se educa sem, primeiro, oferecer uma família aos que não na têm, depois ensinar a ler, escrever e contar, a partir de cuja estrutura e conhecimentos, a pessoa começa a reconhecer seus direitos, mas também seus deveres sociais e as obrigações de ter um trabalho para completar o que se chama realmente liberdade, alcançando a verdadeira cidadania, alvo dos regimes democráticos.

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*Francisco Miguel de Moura -Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, Piauí, Brasil - e-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com
 

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