sábado, 12 de fevereiro de 2011

HUMOR E ORIGINALIDADE

 

Francisco Miguel de Moura*

        Numa revista literária de Portugal, o escritor Fábio Lucas, crítico de renome internacional, referindo-se a meu livro «Linguagem e Comunicação em O. G.Rego de Carvalho», disse, entre alguns elogios, que eu tinha bastante bagagem para firmar-me sobre meus próprios pés e que era desnecessário citar tantos autores e fontes como eu fiz, naquele trabalho.

        Mutatis mutandi, eu digo a quem sem mete a humorista:  Evite citar outros em demasia, pois, se não tem capacidade de criar, humorista não é. Aliás, só se escreve, se não se é um profissional no verdadeiro sentido, quando haja necessidade de comunicar algo novo, em qualquer assunto e através de forma justa e bela. Algo novo não significa apenas informação, notícia, fato. Nada disto.  O poeta, tradutor e crítico literário José Paulo Paes, repetindo Valéry, comentou recentemente que «os acontecimentos lhe aborrecem». Além de serem repetitivos, amanhã sua essência se  perdeu no fumo das banalidades mais comuns. Hoje, mais do que nunca, esse pensamento tem sentido.

        Os poetas, filósofos e humoristas já estão cansados de saber que algo novo pode vir com esforço. Normalmente, não vem.  É a forma de dizer algumas coisas indizíveis, impensáveis, insubstituíveis, ou seja, personalíssimas. É o que chamamos de originalidade, uma sensação forte que vem do interior, da alma de cada um, do seu inconsciente, da sua raiz insubstituível.

        Poucos são os criadores no mundo, pouco são os inventores e descobridores. A grande massa é dos que repetem. Repetir não é o problema,  pior é repetir sem avisar que está repetindo, ou  encobrir que não é seu e assinar como sendo, proclamar-se dono do que não é dono. Anti-ético, enti-religioso (no sentido mais elevado), anti-humano.

        O novo não é a novidade. Novidade é repetição com outra roupagem, como a moda  e os modismos. É através da intuição que o que é novo aparece.  Ele se  cria a partir de quase nada, à imagem e semelhança de Deus.
        O vazio se instala com uma sensação de inutilidade, de falta de capacidade para criar. Isto, sim, é falta de inteligência. Não falta propriamente dita. Nenhum homem é desprovido de inteligência, de tal forma que não encontre meios de subsistir com honra, a menos que seja doente ou incapaz.

        Outra balela é dizer-se que quem tem senso de humor significa obrigatoriamente ser inteligente. Quem tem senso de humor sente o humor dos outros, não é fazedor de humor. Quem faz humor é criador. Quem  tem senso de humor, consome-o. São duas ações totalmente diversas. Felizmente, é uma confusão tola e dos tolos. Não vamos insistir.  Humor é um tipo de temperamento, dentro dele ainda vamos encontrar  variações, o humor negro é a mais conhecida. Desse tipo de humor foram bem dotados os escritores Nelson Rodrigues e Graciliano Ramos.

        A vontade de ter humor a todo custo (e um certo esforço para fazê-lo) é o que há de mais sem graça neste mundo. É óbvio que a simplicidade, a naturalidade (como nas crianças), a variedade, as diferenças e as semelhanças (nos adultos) são qualidades que fazem uma besteira ter graça e outra não, uma palavra trocada provocar riso e outra não, um adjetivo deslocado provocar certa vontade de rir sozinho, alegrando o estilo, e outro não. 

        Grandes humoristas foram Machado de Assis e Eça de Queroz, cada um a sua maneira, pois quanto mais verdadeiro o humor, mais original, mais diferente.

        Não queira, pois, ninguém apresentar-se como o que não é. É falsidade, é mentira. Os falsos e mentirosos (e a maior mentira é aquela que pregamos a nós mesmos), hoje ou amanhã serão descobertos e terão que pagar com a vergonha pública os seus crimes. Ninguém fugirá à verdade. Quando não em vida, lá na história (se a história lhe conceder o visto) ninguém escapará. Por isto, confessemos aos homens, diante de Deus. Para a nossa própria felicidade.
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NOTA: Não sabemos a origem, mas a ilustração é uma foto  colhida no Google (internet).   
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras(APL) e da International Writers and Artists Association (IWA), com sede nos Estados Unidos – USA.


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