segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CIDADANIA, O QUE É ISTO?

                            
Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

Neste nosso questionamento não podemos nos cingir apenas à origem da palavra cidadania, que, como sabemos, vem do latim “civitas”, e quer dizer cidade. Na Roma antiga, ela foi usada para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer, em contraposição aos demais (os camponeses). Mas, Dalmo Dallari, intelectual competente, inspirado na sabedoria do direito, da ética e da política diz muito bem que “a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.

         No Brasil, estamos ainda a construir tudo, inclusive nossa cidadania.  Vejamos: - Mesmo que a gente se restringisse apenas ao campo político da cidadania, o que seria uma restrição muito grande – com base nas últimas eleições veria o grande buraco da nacionalidade, como diria o excelente cronista Graciliano Ramos, começando pelo Nordeste, onde a maioria de votantes é representada por funcionários públicos (mais estaduais e municipais), vemos que é balela dizer que o voto é livre. Muitos e muitos, com raríssimas e honrosas exceções, votam no partido do Governo, forçados pelas circunstâncias. Há pressões de todos os lados e de todas as formas (promessa de perder o emprego, de não ser atendido em empréstimos, de perseguição à família e parentes que tenham bolsa família, por exemplo). Pressões para que votem a favor. Dessa forma, o Nordeste não cresce economicamente, nem em cidadania, nem em estudo/educação, nem em saúde, nem em indústrias, nem nas suas atividades no campo (que muito precisam de financiamento com o tipo de lavoura empresarial vigente).  Pra não citar que o grosso da população que vota é simplesmente para receber bolsa família, bolsa escola e quantas outras bolsas sejam criadas como já foram, cujos nomes dispenso-me de citá-las por ser muito cansativo. Então, que cidadania tem um chefe de família, homem ou mulher, que vive de esmolas do governo? E eles vivem assim por que querem? Ou porque o Nordeste não lhes cria oportunidades de emprego? E por que não cria, mesmo tendo um presidente nordestino como foi o Luís Inácio? A cidadania não pode nem deve estar desligada da ética, dos bons costumes, da educação, da saúde e da segurança do povo.  Porém, que fizeram os governantes do passado e o que termina o mandato, o Luiz Inácio, para que a situação não tivesse agravamento? Enriqueceram em poucos anos e compraram votos, consciência, vontade, dignidade.

     É verdade que o Brasil deu passos importantes com o processo de redemocratização e a Constituição de 1988. Mas, ainda engatinhamos, mesmo no cumprimento da referida Carta Constitucional, a mesma que o atual Presidente se recusou a assinar. Somos obrigados a votar e pagar impostos, muitos impostos. Quando tivermos a cidadania política completa não precisaremos de tantas leis e decretos nem de uma burocracia tão burocratizada a ponto de ela mesma fazer as leis com suas portarias e regulamentos. Não precisaremos ser obrigados a votar. Votar passaria a ser um direito da cidadania. “Nascemos sob o signo da cruz e da espada, acostumados a apanhar calados, a dizer sempre “sim senhor, a «engolir sapos”, a achar “normal” as injustiças, a termos um “jeitinho’ para tudo, a não levar a sério a coisa pública, a pensar que direitos são privilégios e exigi-los é ser boçal e metido, a pensar que Deus é brasileiro e se as coisas estão como estão é por vontade Dele” – escreveram outros ante de mim. Mas, até quando ficaremos assim? Até quando?

Um comentário:

Luciene Rroques disse...

Olá, Interessante texto. Há muitas palavras em nossa lingua ditas apenas em segundos, mas com siguinificado ainda em construção por longos periodos de tempo. Cidadania palavra bem forte, com siguinificado ainda desconhecido por muitos. Por outro lado a beleza de estar vivo consiste exatamente em procurar tais siguinificados e usá-los conscientemente não é mesmo? Até quando? Está ai outra expressão intrigante. Quanto tempo leva o tempo em cada um de nós?

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