domingo, 12 de dezembro de 2010

Dª. NEVINHA – UMA PROFESSSORA PICOENSE

O antigo Grupo Escolar "Coelho Rodrigues", hoje abriga o Museu Ozildo Albano

Francisco Miguel de Moura*

Não sei por que tenho sido solicitado, nos últimos tempos, a escrever sobre pessoas com quem não tive ligação estreita, parente e ou não. O primeiro foi meu tio Euclides Borges de Moura. Agora é a vez de Dª. Nevinha. Não sei de seus dados biográficos, mas a Profª Maria das Neves (Dª. Nevinha), que por conta do casamento ganhou o sobrenome dos Santos – uma das mais tradicionais e importantes famílias de Picos – era baixinha, morena e bonita, por isto, no início, pensei em tratá-la carinhosamente de professorinha. Conheci-a vagamente, visto que eu morava no interior, mas deu pra entender que se tratava de uma pessoa de muita personalidade. Vendo-a atravessar as ruas da cidade, com aquela segurança de quem sabe o que quer e o que faz, ninguém poderia pensar de outra forma.  Esposa de Adalberto de Moura Santos (Prefeito de Picos de 1938 a 1945), mais conhecido como Bertinho Santos, um dos Prefeitos que, a seu jeito, amava muito aquela cidade, por isto queria vê-la sempre limpa. Chegou ao exagero de proibir que os “feirantes” atravessassem as ruas centrais que cruzam com a Praça Félix Pacheco, edificada em seu próprio mandato, logradouro que ficou famoso naquele tempo, quando os jovens da melhor sociedade passeavam por ela todas as noites de verão – costume dos maiores burgos do Piauí, inclusive a capital (Teresina). Não sei se como anedota, ou para provar a energia e dureza de Bertinho Santos no comando da municipalidade, contam que certo dia seus guardas impediram o próprio Coronel Francisco Santos, seu pai e maior chefe político daquela região do Piauí, de passar a cavalo, vindo da fazenda para sua própria casa, aliás, um casarão que ficava em frente à referida praça.

Mas estamos a falar é de D. Nevinha, senhora de respeito e cerimônia, não obstante ser um pouco morena para a cor da pele da maioria da população de Picos, especialmente a família Santos. E por quê? Pelas qualidades de inteligência e educação. Ela está entre as três primeiras professoras formadas a irem lecionar em Picos, numa escola oficial (Grupo Escolar “Coelho Rodrigues”, fundado em 1938, cujo prédio ainda está de pé e conservado). Iniciaram a educação primária nos moldes mais modernos do Piauí, naquele tempo, pois vinham de ser formadas pela Escola Normal de Teresina. Falamos dos anos 1930 e começo dos 1940. Sua condição e a cor de sua pela não foi nenhum obstáculo para esposar o filho querido do Coronel Francisco Santos, o Chefão de Picos, nos anos da Ditadura de Getúlio, pois não era Bertinho Santos nenhum preconceituoso neste sentido. E se havia preconceito na cidade, nunca ninguém soube. Aliás, Picos ficou conhecido como um lugar de muita liberdade, desde os primórdios de sua formação agrícola, onde o latifúndio não prosperou e isto veio a contribuir para uma certa igualdade de classe.

Mãe de muitos filhos, todos educados com qualidade, como soe acontecer com as mães educadoras, haja vista o exemplo de Airton Santos, personalidade conhecida demais em Teresina. Tinha ele, praticamente minha idade, na época em que passei a residir na cidade. E lembro ainda que fizemos a campanha para eleger o Presidente Juscelino Kubtscheck, varando os povoados e vilas da redondeza de Picos e chegando até fazer aqueles fáceis discursos eleitorais, cheios de chavões e de palavras de ordem. Mas foi um aprendizado. Daí por diante, nunca deixei de fazer parte do rol de amigos de Airton, embora que vivêssemos algum tempo distanciados geograficamente. Por ele, tomei conhecimento de que a Profa. Nevinha deixou alguns escritos, artigos e crônicas, Como filho querido e mais velho – ele me falava em publicá-los em livro. E, neste sentido, sempre contou com o meu incentivo, porque sou daqueles que acreditam muito na palavra escrita. Um escritor, cujo nome não me vem à baila, disse, para o mundo: “Tudo o que aconteceu e não foi escrito passará como se não tivesse acontecido”.    

Agora, vamos poder ler algo do que ficou de D. Nevinha, que muito deve ter escrito. Mas, o que se salvou pelo caminho da vida, muitas vezes tão vária que ninguém sabe mesmo porque assim acontece, está aqui, editado com o zelo de Luis Airton Santos.
Este meu trabalho é de um observador das pessoas que passaram por meus olhos e por minha admiração. É para isto que vivemos: para celebrar e sermos celebrados. Naquilo que os outros merecem e que nós possamos merecer. Naquilo que nossos parentes, amigos e conhecidos guardam na lembrança. Falo em parente, sim, porque Luiz Airton Santos, como toda a família Santos, de Picos, teve origem em Francisco Santos-PI (antigo povoado Jenipapeiro), onde o bisavô de Airton (Simplício Pereira dos Santos) foi morar, casando com uma irmã de minha bisavô materna – primeiro casamento; e no segundo – com uma irmã de minha bisavó paterna.  Em Picos, me sentia à vontade, pois estava entre familiares. Como nesta crônica, em louvor à mãe de meu primo distante, Airton – primo e amigo. Filho muito amado como Airton tem que ter vindo de uma mãe muito generosa e cheia de outras virtudes. Eis a importância do que me ficou dos contatos que tive realmente com D. Nevinha. 

Tudo isto é também parte da minha história de Picos.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras (Teresina), da União de Brasileira de Escritores (UBE-SP) e da IWA – International Writers and Artists Association, Estados Unidos.

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