Francisco Miguel de Moura*
Mundica
Fontes, artista plástica,filha de Pebinha
Amanheci com um desejo louco de rever Picos, talvez tenha sonhado com seus morros e suas várzeas. A vontade de voltar a lugares onde a infância e a juventude nos marcaram a vida é natural, na velhice. Não nos damos conta, entretanto, depois de rever esses espaços, que eles estão lá, apenas nominalmente, porque o tempo já se foi, e tempo não volta, e com ele as ligações afetivas, os acontecimentos e boa parte dos nossos, parentes, amigos e colegas. A isto chamo de memória, recordação ou saudade, que, como reflexão passo, neste instante, a Mundica Fontes, escritora, historiadora, teatróloga, pintora, membro da Academia de Letras da Região de Picos (ALERP) – nesta forma suave que encontro para apresentar-lhe meus sentidos pêsames, extensivos à família toda, pela morte de seu querido pai, poeta Pebinha (Antônio de Moura Ibiapina), em Picos, na manhã de 10 de setembro de 2010. Pebinha nasceu a 8-2-1926, em Lagoa Grande, município de Picos. Era o caçula do casal Pedro de Moura Ibiapina e Raimunda Fontes de Moura, de cuja união nasceram quatro filhos, dentre os quais o consagrado escritor piauiense Fontes Ibiapina. (Nonon). Nas famílias Fontes x Moura x Ibiapina, muito interligadas, há outros artistas e intelectuais nobres, inteligentes e pessoas boníssimas. Para o efeito desta crônica do tempo e da saudade, lembro o senhor João Fontes, um deles. Não sei que parentesco tinha com Fontes Ibiapina e com Pebinha, mas sei que é bem próximo. João Fontes me apareceu em Francisco Santos (Jenipapeiro) e hospedou-se na pensão de “De Moça”, da qual eu era também hóspede, lá pelo comecinho do ano 1950. E, à noitinha, na tertúlia de depois do jantar, ele começou a recitar vários poemas de Hermínio Castelo Branco (“Lira Sertaneja”). Aquilo, para mim, foi uma maravilha, admirei-lhe a memória, o gosto pela poesia. Meu pai me dissera depois que os Fontes eram nossos parentes. Ia eu pelos 17 anos e já começava a escrever poesia. Logo mais publicaria, em Picos, meu primeiro poema e depois, já em Teresina, o livro “Areias” (estreia) com prefácio de Nonon. Àquela altura, Nonon já havia publicado 3 ou 4 obras e era membro da Academia Piauiense de Letras.
Mas esta já é outra história. Voltemos a Picos dos anos 1951/1952, quando me mudei de Jenipapeiro pra cidade e me tornei amante dessa cidade maravilhosa, por meus laços de família, pelo trabalho e pela inteligência dos seus habitantes. Morava na casa de seu Abraão Conrado. Período colegial. Todos os dias, indo para o colégio ou para trabalho (cartório, depois delegacia de Polícia), eu passava em frente da oficina de Pebrinha e não podia deixar de ouvir seus versos, anedotas, piadas, histórias, que ele sabia de cor, numa conversa agradável, bem humorada, de temas variados, pois estava sempre de bem com a vida. Era uma figura – Pebinha! Trabalhador, amigo, exemplar pai de família, grande memória, recitador, poeta (também improvisava as suas poesias, pois era um poeta popular). Ser poeta! Deve ter deixado algo escrito em seus cadernos de anotação. Mas não necessitamos escrever cem livros. Há os poetas que escrevem e os que são poetas na vida. Pebinha é um exemplo destes.
Hoje, lembrando disto, tenho saudades daquele tempo – e por isto, vejo como a morte de alguém com quem convivemos causa tristeza, uma falta impreenchível. É o caso da de Pebinha, que faz muita falta à vida e à gente de Picos. Picos ficou menos alegre, Picos perdeu um dos seus poetas populares mais versáteis, melhores em termo de ética, moral, ciência do povo e humanismo cristão. Pebinha permanecerá na memória e no coração dos familiares e dos picoenses de modo geral como uma figura humanamente histórica e sábia, de um saber que não existe mais.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras (APL) e
da Academia de Letras da Região de Picos (ALERP), email:franciscomigueldemoura@superig.com.br
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