sexta-feira, 26 de março de 2010

EM DEFESA DE AMARANTE

CRIME AMBIENTAL E CULTURAL

Alberto da Costa e Silva*




Chega-me a notícia de que se pretende afogar nas águas de uma represa a cidade piauiense de Amarante. O autor da desastrada idéia não deve saber o que é belo ou lhe ter horror. Assemelha-se a quem planejasse destruir, em Minas Gerais, Mariana ou Tiradentes, ou aterrar, no Rio de Janeiro, a enseada de Botafogo.

Amarante é um dos mais felizes matrimônios que conheço da natureza com as obras dos homens. Do alto da escadaria Da Costa e Silva, a visão é de tirar o fôlego. Um espetáculo inesquecível, como me repetem todos aqueles que, em minha companhia, de lá correram os olhos sobre o casario entrecortado de árvores, a descer para o rio Parnaíba e, na outra margem, a praia branca e os chapadões do Maranhão. Tampouco lhes sai da memória o passeio pelas ruas do centro histórico, com suas casas oitocentistas ou do início do século XX, algumas delas traduções sertanejas de estilos da belle époque, outras a nos mostrarem em sua simplicidade de linhas como pela via humilde se pode atingir a mais alta beleza.



Há poucos meses, exibiu-se no Teatro R. Magalhães Júnior, da Academia Brasileira de Letras, para cerca de 300 pessoas, o filme O retorno do filho, de Douglas Machado. O público, formado majoritariamente por escritores, artistas e amantes das letras e das artes, ficou, primeiro, surpreso, e, depois, deslumbrado com as imagens de Amarante. Não faltou quem me dissesse que não podia sequer imaginar que no Piauí houvesse uma cidade tão linda e tão diferente como paisagem, e não foram poucos os que se prometeram cumprir o dever de visitá-la. A reação dos que viram o filme confirmou em mim ser Amarante um dos sítios com maior vocação turística do Piauí sendo dois outros Oeiras e o delta do Parnaíba.
Quem não cuida do que foi inventivo, afortunado e harmonioso em seu passado não merece o futuro. Amarante foi um dos mais importantes ancoradouros do Parnaíba, quando o rio era o caminho que ligava o litoral ao sertão. Pelo plano inclinado que continua até as águas a rua principal da parte antiga da cidade desciam e subiam, arrastadas ou sobre roletes, as mercadorias que lhe animavam o comércio. Nesse pano inclinado, nessa rua e também nas vizinhas, brincou, menino, o maior poeta do Piauí.

Foi a conviver com esse casario e com o fluir do Parnaíba, que ele descobriu que sua terra natal era um céu, se havia um céu sobre a terra, "um céu sob outro céu tão límpido e tão brando / que eterno sonho azul parece estar sonhando", a Amarante da qual jamais se apartou emocionalmente no exílio.

O poeta seguramente se indignaria, se soubesse que se planeja inundar a sua cidade bem-amada. E ficaria ao nosso lado, ao considerar um despautério que se tenha, para construir uma usina hidrelétrica, de destruir um conjunto arquitetônico invulgar, que é um dos sítios mais importantes do patrimônio cultural e histórico do Piauí.
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(*) Alberto da Costa e Silva, escritor, poeta e ensaísta, mora no Rio de Janeiro, filho do poeta Da Costa e Silva. Émembro da Academia Brasileir de Letras.

2 comentários:

Judson Barros disse...

A construção de um complexo hidrelétrico no rio Parnaíba - 5 HE de pequeno porte - não pode ser coisa séria. Para iniciar a obra 2,2 bilhões. Mas quanto vai custar mesmo? Uns 5 BI talvez. Num ano eleitoreiro.
40 mil pessoas atingidas diretamente. Qual o custo de indenização? Isso se houver. Uma inundação de 10 mil km2, de Teresina a Ribeiro Gonçalves. Qual o custo ambiental dessa desgraça?
Não acredito que a intenção do Governo seja a obra. Acredito sim que seja mais um esquema para desviar dinheiro publico para comprar mais uma vez a eleição.

Anônimo disse...

Fundação Águas Ajuíza Ação Civil Pública Contra Hidrelétrica no Parnaíba

A Fundação Águas do Piauí ajuizou ação na Justiça Federal contra o IBAMA, CHESF e as empresas privadas ENERGIMP S/A, CNEC Eng. S/A E A Construtora Queiroz Galvão, pedido liminarmente a suspensão imediata do processo de licenciamento para a construção de cinco hidrelétricas no rio Parnaíba. A Fundação busca também, no pedido principal, que o Judiciário determine pela não construção das hidrelétricas.

O IBAMA é órgão da Administração Pública responsável pela liberação do licenciamento. A CHESF juntamente com as empresas formam o grupo de empreendedores responsáveis pelo Estudo de Impacto Ambiental e pela construção do complexo hidrelétrico.

As usinas serão construídas nos seguintes locais: Ribeiro Gonçalves, Uruçuí, Floriano (Cachoeira), Amarante (Estreito), Palmeirais (Castelhano) e produzirão por volta de 400 MW de energia elétrica.

De acordo com o advogado da Fundação Águas, Ivaldo Fontenele, o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório é superficial e apresenta grande inconsistência jurídica, está eivado de vícios e ilegalidades. Com base no EIA/RIMA é que a Fundação Águas – FUNAGUAS ajuizou a ação. “A obra não se justifica nem ambientalmente, nem socialmente, nem economicamente, diz o advogado.

Veja alguns aspectos ilegais e imorais levantados pela Fundação na Ação Civil Pública:

“A mobilização para as audiência foi executada com tanta negligência que podemos dizer que a população não foi consultada para tomar uma decisão tão importante que diz respeito à vida de milhões de pessoas”.

“As medidas mitigadoras explicitadas no EIA/RIMA é “coisa para inglês ver”.

“A inundação provocada pelo Complexo de Hidrelétrica do Rio Parnaíba terá uma extensão de aproximadamente 800 km (Teresina a Ribeiro Gonçalves)”.

“Consta do RIMA, na página 44; “a bacia hidrográfica do rio Parnaíba é relativamente pobre em peixes”; e continua: “as condições ambientais do rio não são boas para o desenvolvimento de peixes”; e mais: as águas turbulentas e barrentas do rio Parnaíba colabora para que haja menor quantidade de tipos e de número de peixes”. É tanta informação absurda e desordenada, que se pode imaginar até mesmo que esse EIA/RIMA talvez não tenha sido realizado no rio Parnaíba”.

“O abastecimento de água de vários municípios que se localizam na margem do rio é feito através do rio Parnaíba. Em Teresina, por exemplo, quase a totalidade da água consumida provém deste curso d’água. No estudo não consta desse aspecto de extrema importância para as populações que se vivem dessa água”.

De acordo com o Presidente da ONG FUNAGUAS a obra tem meramente cunho eleitoreiro, pois justamente neste ano o Governo inventa de fazer cinco usinas hidrelétricas no rio Parnaíba. O Presidente afirma que com a metade do orçamento inicial, de 2,2 bilhões, que está previsto para as obra é possível construir um parque eólico com a mesma capacidade de geração de energia, causando muito menos impactos ambientais. “Essa obra tem finalidade de desviar dinheiro público para financiar a campanha de 2010”. Conclui Judson Barros.

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