Nelson Hoffmann*
Livros e autores revelam a fertilidade literária e cultural do Piauí
Um dia irei ao Piauí. Em lá chegando, vou direto à procura do Adrião Neto. Este eu sei que sabe tudo, conheço-o, com ele me acerto. Abraço-o e batemos um papo. Ele fala-me do Piauí, da geografia, da história, economia, política. Do turismo, é claro, também: do Delta do Parnaíba, do Parque Nacional. De sua querida Luís Correia…
E eu conto-lhe do interesse que a fertilidade do Piauí está provocando por aqui, no Sul.
- Fertilidade?
Isso, fer-ti-li-da-de. Não houve engano, não, está certo, a palavra é “fertilidade” mesmo. Fertilidade, em dois sentidos, até.
Em sentido natural, de solo, terra; e em sentido cultural, de inteligência, arte. Quanto ao natural, daqui, de minha região missioneira, de Santa Rosa e arredores, está havendo verdadeira corrida para os lados do Piauí, para o sul do Estado, para os domínios de Bom Jesus, Uruçuí. Para lá vão os nossos colonos, em nova cruzada de fé e esperança por dias melhores, o que lhes é garantido pela infra-estrutura das agrovilas e opulência das terras.
Quanto ao lado cultural, eu direi ao Adrião Neto que, antes de conhecê-lo, eu sequer sabia que o Esdras Nascimento, o O. G. Rego de Carvalho e outros, de minha leitura, eram do Piauí. De lá, de tão longe, só mesmo o Assis Brasil; e isto, graças ao Prêmio Walmap, que destacou o fato.
O Adrião Neto, com o seu Literatura Piauiense para Estudantes, fez de mim um estudante do Piauí. Passei a interessar-me, o livro era por demais chamativo. Havia curiosidades muitas, eu estava sendo convidado para um mundo desconhecido. Embarquei. O Adrião guiou-me, mandando o seu Dicionário Biográfico de Escritores Piauienses de Todos os Tempos. E acrescentou-me o seu Dicionário Biobibliográfico de Escritores Brasileiros Contemporâneos. E somou Coletânea de Escritores Brasileiros Contemporâneos em Prosa e Verso. E adicionou Cordéis – Passeio pelo Jardim da História. E remeteu uma “De Repente” atrás de outra. E…
Eu mergulhei fundo na fertilidade dessa Literatura tão pouco conhecida por estas bandas sulinas.
Lá pelas tantas, um dia, encontrei o Herculano Moraes. Este apresentou-me a sua monumental Visão Histórica da Literatura Piauiense, em três tomos e sucessivas, revisadas e atualizadas edições. A obra é um panorama completo da Cultura Literária Piauiense, desde suas origens até os dias de hoje. Cada movimento literário, nacional e mundial, é delineado, a situação local é caracterizada e, a seguir, o autor é enquadrado. Cada autor é biografado, tem um texto selecionado e é criteriosamente analisado. Uma obra definitiva.
Um paralelo? Entre os livros do Adrião Neto e a obra do Herculano Moraes?
Já está nos títulos. Excelentes, cumprem tarefas diferentes.
A tarefa literária é tarefa estética. A estética vincula-se à sensibilidade e busca a perfeição. É uma atividade espiritual. Suprema.
No Piauí, um jovem poeta cumpre essa tarefa com rara competência. Dilson Lages Monteiro é o autor de Colméia de Concreto e Os Olhos do Silêncio. Os dois são livros da mais pura poesia. Um signo, um gesto, um pulsar desapercebido, qualquer existência, tudo é captado e motiva a sensibilidade do poeta. Apreendida a essência, surge a construção nova. Original. Com o mínimo de palavras e o máximo de significados.
Isto é poesia, isto é arte.
Como são da melhor arte, os textos desse grande poeta e prosador que é Francisco Miguel de Moura. A prosa do Chico Miguel, como é conhecido, é das coisas mais saborosas de que se tem notícia por aqui, como vindo de lá, do quase outro extremo desse imenso país. E A Vida Se Fez Crônica e Por Que Petrônio Não Ganhou o Céu são livros que a gente lê de uma assentada só. E se diverte. E se delicia. E se angustia. E se vive.
Francisco Miguel de Moura parece-me o próprio Piauí.
E, olhe, que eu não mencionei o Oton Lustosa, com o seu excelente Meia-Vida, nem o José Ribamar Garcia e o seu belo Além das Paredes. Também não comentei a intensa atividade literária da Presidente da ALVAL, Maria do Socorro de Carvalho, e o entusiasmo sem fim da escritora Francisca Miriam. Ainda…
Sim, sim. Sei. Tem a Literatura de Cordel, a revista “De Repente”, o…
É muito, perco-me. O Piauí é-me tão distante e figura-me tão diverso que desando. Reconheço que preciso conhecê-lo melhor. O jeito é ir até lá, não vejo outro. Preciso ir. Irei, um dia.
Abril/2000 - Página republicada em 30/03/2009, no site LetraSelvagem
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*Nelson Hoffmann, escritor brasileiro, contista, cronista, crítico literário e romancista, autor do romance “A Bofetada” EDIURI, Santo Ângelo-RS, 2008. Mora em Roque Gonzalez, RS.
Um dia irei ao Piauí. Em lá chegando, vou direto à procura do Adrião Neto. Este eu sei que sabe tudo, conheço-o, com ele me acerto. Abraço-o e batemos um papo. Ele fala-me do Piauí, da geografia, da história, economia, política. Do turismo, é claro, também: do Delta do Parnaíba, do Parque Nacional. De sua querida Luís Correia…
E eu conto-lhe do interesse que a fertilidade do Piauí está provocando por aqui, no Sul.
- Fertilidade?
Isso, fer-ti-li-da-de. Não houve engano, não, está certo, a palavra é “fertilidade” mesmo. Fertilidade, em dois sentidos, até.
Em sentido natural, de solo, terra; e em sentido cultural, de inteligência, arte. Quanto ao natural, daqui, de minha região missioneira, de Santa Rosa e arredores, está havendo verdadeira corrida para os lados do Piauí, para o sul do Estado, para os domínios de Bom Jesus, Uruçuí. Para lá vão os nossos colonos, em nova cruzada de fé e esperança por dias melhores, o que lhes é garantido pela infra-estrutura das agrovilas e opulência das terras.
Quanto ao lado cultural, eu direi ao Adrião Neto que, antes de conhecê-lo, eu sequer sabia que o Esdras Nascimento, o O. G. Rego de Carvalho e outros, de minha leitura, eram do Piauí. De lá, de tão longe, só mesmo o Assis Brasil; e isto, graças ao Prêmio Walmap, que destacou o fato.
O Adrião Neto, com o seu Literatura Piauiense para Estudantes, fez de mim um estudante do Piauí. Passei a interessar-me, o livro era por demais chamativo. Havia curiosidades muitas, eu estava sendo convidado para um mundo desconhecido. Embarquei. O Adrião guiou-me, mandando o seu Dicionário Biográfico de Escritores Piauienses de Todos os Tempos. E acrescentou-me o seu Dicionário Biobibliográfico de Escritores Brasileiros Contemporâneos. E somou Coletânea de Escritores Brasileiros Contemporâneos em Prosa e Verso. E adicionou Cordéis – Passeio pelo Jardim da História. E remeteu uma “De Repente” atrás de outra. E…
Eu mergulhei fundo na fertilidade dessa Literatura tão pouco conhecida por estas bandas sulinas.
Lá pelas tantas, um dia, encontrei o Herculano Moraes. Este apresentou-me a sua monumental Visão Histórica da Literatura Piauiense, em três tomos e sucessivas, revisadas e atualizadas edições. A obra é um panorama completo da Cultura Literária Piauiense, desde suas origens até os dias de hoje. Cada movimento literário, nacional e mundial, é delineado, a situação local é caracterizada e, a seguir, o autor é enquadrado. Cada autor é biografado, tem um texto selecionado e é criteriosamente analisado. Uma obra definitiva.
Um paralelo? Entre os livros do Adrião Neto e a obra do Herculano Moraes?
Já está nos títulos. Excelentes, cumprem tarefas diferentes.
A tarefa literária é tarefa estética. A estética vincula-se à sensibilidade e busca a perfeição. É uma atividade espiritual. Suprema.
No Piauí, um jovem poeta cumpre essa tarefa com rara competência. Dilson Lages Monteiro é o autor de Colméia de Concreto e Os Olhos do Silêncio. Os dois são livros da mais pura poesia. Um signo, um gesto, um pulsar desapercebido, qualquer existência, tudo é captado e motiva a sensibilidade do poeta. Apreendida a essência, surge a construção nova. Original. Com o mínimo de palavras e o máximo de significados.
Isto é poesia, isto é arte.
Como são da melhor arte, os textos desse grande poeta e prosador que é Francisco Miguel de Moura. A prosa do Chico Miguel, como é conhecido, é das coisas mais saborosas de que se tem notícia por aqui, como vindo de lá, do quase outro extremo desse imenso país. E A Vida Se Fez Crônica e Por Que Petrônio Não Ganhou o Céu são livros que a gente lê de uma assentada só. E se diverte. E se delicia. E se angustia. E se vive.
Francisco Miguel de Moura parece-me o próprio Piauí.
E, olhe, que eu não mencionei o Oton Lustosa, com o seu excelente Meia-Vida, nem o José Ribamar Garcia e o seu belo Além das Paredes. Também não comentei a intensa atividade literária da Presidente da ALVAL, Maria do Socorro de Carvalho, e o entusiasmo sem fim da escritora Francisca Miriam. Ainda…
Sim, sim. Sei. Tem a Literatura de Cordel, a revista “De Repente”, o…
É muito, perco-me. O Piauí é-me tão distante e figura-me tão diverso que desando. Reconheço que preciso conhecê-lo melhor. O jeito é ir até lá, não vejo outro. Preciso ir. Irei, um dia.
Abril/2000 - Página republicada em 30/03/2009, no site LetraSelvagem
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*Nelson Hoffmann, escritor brasileiro, contista, cronista, crítico literário e romancista, autor do romance “A Bofetada” EDIURI, Santo Ângelo-RS, 2008. Mora em Roque Gonzalez, RS.
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