Resenha
Francisco Miguel de Moura*
De Paris, com base em comunicado da Academia Francesa de Ciências, terça-feira, 3 de novembro, o mundo foi informado do falecimento do sociólogo e educador Clude Levi-Strauss, belga, de pais judeu-franceses, nascido em Bruxelas, em 28-11-19008.
Strauss é considerado o último grande pensador francês, cujo centenário foi festejado no mundo inteiro. Filófoso de formação, pioneiro do estruturalismo, sua obra correu mundo, inclusive pelo Brasil, onde foi professor convidado, depois nomeado, da Universidade de São Paulo (USP), quando do início da instituição univesitária entre nós. Em 1935, viajou para o Brasil, onde chefiou várias missões etnológicas na Amazônia e em Mato Grasso. Essa experiência foi explorada e explicitada sociológicamente no seu famoso livro "Tristes Trópicos" (1955).
Trabalhou em prol da reabilitação do pensamento primitivo, muitas vezes com o olhar de moralista. Foi essa a tendência que predominou em sua obra, especialmente depois das pesquisas no Brasil, e demonsrou que não há diferença entre o pensamento primitivo e o moderno, como analisa e demonstra em obra editada em 1962:
"Não se trata do pensamento dos selvagens e sim do pensamento selvagem. É uma forma que se atribui a toda a humanidade e que podemos encontrar em nós mesmos, mas preferimos, no geral, buscá-la nas sociedades exóticas".
A amiga e especialista em sua obra, Catherine Clément, escreveu: "Cada um de seus livros é um manual do pensamento que força a inteligência a se abrir, e uma espécie de evangelho laico que ajuda a se comover diante da vida".
Silhueta delgada, cabelos brancos e olhar agudo, Claude Lévi-Straus era "intimidamente tímido", isto é, um tímido que não se deixava intimidar, disse o jornalista que escreveu a notícia de sua morte. Grande capacidade de ouvir, pouco preocupado com a posteridade, por isto não escreveu memórias.
Foi Vice-Diretor do Museu Hisórico do Homem, em Paris; ocupou a cátedra de Antropologia Social do Colégio da França, onde ficou até sua aposentadoria (1982); doutor honoris-causa de várias universidades de prestígio como Oxford, Yale e Havard; e o primeiro etnólogo eleito membro da Academia Francesa, em 1973.
Além de "Tristes Trópicos", publicou uma vasta obra que é referência mudial em filosofia e sociologia; cite-se em primeiro lugar: "Estruturas Elementares do Parentesco" , "Mitológicas" (uma série de 4 volumes, na qual se encontra "O Cru e o Cozido") e "Antropologia Estrutural I e II". Recebeu influência do linguísta Roman Jakobson, por sua convivência com ele, quando refugiado nos Estados Unidos, na época da Segunda Grande Guerra.
Para finalizar, comentamos um dos seus estudos, onde afirma que no plano de uma lógica abastrata, cada cultura é incapaz de emitir um juízo verdadeiro sobre outra, pois uma cultura não pode evadir-se de si mesma, a menos que reconheça que tal juizo cai na arapuca do relativismo. Mesmo assim, Claude Lévi-Strauss reconhece a superioridade da civilização ocidental, nestes termos: "Tal como Diógenes provava o movimento andando, é o próprio progresso das culturas humanas que, desde as imensas populações da Ásia até as tribos perdidas na selva brasileira ou africana, prova por uma adesão unânime sem precedentes na história, que uma das formas da civilização humana é superior a todas as outras: a ocidental. O que os países 'insuficientemente desenvolvidos' reprovam nas assembléias internacionais não é o fato de os países mais desenvolvidos os ocidentalizarem, mas o de não lhes darem bastante rapidamente os meios de o fazerem"
Enfim, relevando algumas aparentes contradições e a dificuldade que temos em interpretá-lo, na profusão e profundidade de seus trabalhos, depois de uma vida frutuosa, por isto edificante, o mundo intelectual reconhece e lamenta a sua perda.
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Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, compilou esta resenha, com base em informações do jornal "Ultimo Segundo", http:www.ig.com.br
Strauss é considerado o último grande pensador francês, cujo centenário foi festejado no mundo inteiro. Filófoso de formação, pioneiro do estruturalismo, sua obra correu mundo, inclusive pelo Brasil, onde foi professor convidado, depois nomeado, da Universidade de São Paulo (USP), quando do início da instituição univesitária entre nós. Em 1935, viajou para o Brasil, onde chefiou várias missões etnológicas na Amazônia e em Mato Grasso. Essa experiência foi explorada e explicitada sociológicamente no seu famoso livro "Tristes Trópicos" (1955).
Trabalhou em prol da reabilitação do pensamento primitivo, muitas vezes com o olhar de moralista. Foi essa a tendência que predominou em sua obra, especialmente depois das pesquisas no Brasil, e demonsrou que não há diferença entre o pensamento primitivo e o moderno, como analisa e demonstra em obra editada em 1962:
"Não se trata do pensamento dos selvagens e sim do pensamento selvagem. É uma forma que se atribui a toda a humanidade e que podemos encontrar em nós mesmos, mas preferimos, no geral, buscá-la nas sociedades exóticas".
A amiga e especialista em sua obra, Catherine Clément, escreveu: "Cada um de seus livros é um manual do pensamento que força a inteligência a se abrir, e uma espécie de evangelho laico que ajuda a se comover diante da vida".
Silhueta delgada, cabelos brancos e olhar agudo, Claude Lévi-Straus era "intimidamente tímido", isto é, um tímido que não se deixava intimidar, disse o jornalista que escreveu a notícia de sua morte. Grande capacidade de ouvir, pouco preocupado com a posteridade, por isto não escreveu memórias.
Foi Vice-Diretor do Museu Hisórico do Homem, em Paris; ocupou a cátedra de Antropologia Social do Colégio da França, onde ficou até sua aposentadoria (1982); doutor honoris-causa de várias universidades de prestígio como Oxford, Yale e Havard; e o primeiro etnólogo eleito membro da Academia Francesa, em 1973.
Além de "Tristes Trópicos", publicou uma vasta obra que é referência mudial em filosofia e sociologia; cite-se em primeiro lugar: "Estruturas Elementares do Parentesco" , "Mitológicas" (uma série de 4 volumes, na qual se encontra "O Cru e o Cozido") e "Antropologia Estrutural I e II". Recebeu influência do linguísta Roman Jakobson, por sua convivência com ele, quando refugiado nos Estados Unidos, na época da Segunda Grande Guerra.
Para finalizar, comentamos um dos seus estudos, onde afirma que no plano de uma lógica abastrata, cada cultura é incapaz de emitir um juízo verdadeiro sobre outra, pois uma cultura não pode evadir-se de si mesma, a menos que reconheça que tal juizo cai na arapuca do relativismo. Mesmo assim, Claude Lévi-Strauss reconhece a superioridade da civilização ocidental, nestes termos: "Tal como Diógenes provava o movimento andando, é o próprio progresso das culturas humanas que, desde as imensas populações da Ásia até as tribos perdidas na selva brasileira ou africana, prova por uma adesão unânime sem precedentes na história, que uma das formas da civilização humana é superior a todas as outras: a ocidental. O que os países 'insuficientemente desenvolvidos' reprovam nas assembléias internacionais não é o fato de os países mais desenvolvidos os ocidentalizarem, mas o de não lhes darem bastante rapidamente os meios de o fazerem"
Enfim, relevando algumas aparentes contradições e a dificuldade que temos em interpretá-lo, na profusão e profundidade de seus trabalhos, depois de uma vida frutuosa, por isto edificante, o mundo intelectual reconhece e lamenta a sua perda.
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Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, compilou esta resenha, com base em informações do jornal "Ultimo Segundo", http:www.ig.com.br
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