sexta-feira, 30 de outubro de 2009

NILTO MACIEL - CONTOS REUNIDOS I*



RESENHA




Francisco Miguel de Moura*



Conheço o Nilto Maciel em pessoa desde o ano 2000, quando viajamos a Cuba. Íamos conhecer a Ilha de Fidel, de regime socialista, antes que voltasse ao sistema comum, capitalista. Fidel ainda não morreu nem a Ilha deixou completamente de ser socialista. Mas isto é outra história. Antes já conhecia o Nilto das revistas O SACO e LITERATURA, de livros e de algumas cartas.

Mas foi a partir da viagem à Ilha de Fidel que nossa amizade estreitou-se, enlarguecendo o nosso conhecimento mútuo através das nossas leituras recíprocas e do trabalho de divulgação do legado literário nosso e de outros.

Assim, é uma satisfação enorme receber o primeiro volume de CONTOS REUNIDOS (Itinerário, Tempos de mula preta e Punhalzinho cravado de ódio). Escrevi um artigo sobre seus primeiros contos, se não me engano já em segunda edição, pois nele encontrei um escritor com muita força, muito trabalho de linguagem, muito desejo de inovar no conto, sem, no entanto, descer dos padrões da literatura universal: o cuidado com o idioma e com a beleza das imagens, eloqüentes pelo que adaptavam o texto ao contexto como quem veste uma roupa de bom talhe.

Seu trabalho de contista e romancista, mas no conto principalmente, continuou num crescendo que não admira ser ele, hoje, talvez um dos 4 ou 5 melhores contistas do país, em igualdade com Moreira Campos, no passado, e com Augusto Ferraz, no momento, para citar apenas dois nordestinos.

Sobre o CONTOS REUNIDOS, nada melhor que ler sua prefaciadora, Liana Aragão: "Nilto se diz fora do mercado. Engano do tão lúcido autor. Ele não figura, de fato, entre os pares famosos, os da moda, nem também entre os clássicos. Não está, portanto (e por enquanto) entre os mais vendidos. E não quer estar. Ele publica seus próprios livros, mantém blogs, democratiza o acesso aos seus escritos. Por prazer puro. É esse o lugar que aquele jovem com ressalvas éticas frente ao mercado encontrou para si e é nele que quer permanecer.

Voltar a um Nilto que não se conhece – seu primeiro livro é de 1974, acréscimo do resenhador – com a republicação de Itinerário, Tempos de mula preta e Punhalzinho cravado de ódio, juntos, é como se dispor a um requintado prazer inteiramente novo, porém com a garantia de que será bom. É voltar ao novo Nilto, conhecendo o velho."

Se há uns 15 anos eu o comparava com Jorge Luís Borges, não era pra indicar nenhuma filiação. Nilto é muito mais fantástico e à nossa maneira (Brasil). Agora posso dizer que foi apenas uma referência dentro da literatura universal, para afirmar que sua arte, seu conto e seu romance são excelência. Enquanto haja quem gosto de ler a bela literatura, a que vem plena de criatividade e emoção, a sua não morrerá. E creio que vai demorar muito, apesar da internet (ou mesmo por causa dela).
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*Nilto Maciel, contista e romancista brasileiro, nascido em 1945, Contos Reunidos, Editora Bestiário, Porto Alegre, RS, 2009 - www.bestiário.com.br
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*Francisco Miguel de Moura, poeta e escritor brasileiro, resenhador da matéria.

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