quinta-feira, 30 de julho de 2009

BOLSA CULTURA, O QUE É ISTO?

Francisco Miguel de Moura*


Como cidadão comum, confesso que a nova invenção do Governo, a tal de bolsa-cultura, não me comoveu nem um pouco. Primeiro, já existe uma inflação de bolsas, em nosso país, nos últimos tempos. Por conta disto e de outras ações, o Governo mete a mão em nosso bolso, o pobre bolso do contribuinte, que sofre com a maior carga tributária de todos os tempos, sobre cujo fenômeno só se pode fazer comparação do Brasil com os países mais pobres deste e de outros continentes.

Onde foi que eu peguei a notícia quente? Na internete, o jornal de todos, sem censura e quase de graça. O comentarista Vannildo Mendes, da agência Estado, começa com estas palavras duras, mas verdadeiras: “Em tempos de orçamento apertado, o governo pretende lançar uma espécie de Bolsa-Cultura. De acordo com a proposta do Ministério da Cultura, trata-se de um vale-cultura que vai juntar-se ao tíquete-alimentação e ao vale-transporte, no pacote de benefícios trabalhistas existentes no País. A medida está prevista no projeto de revisão da Lei Rouanet (Lei nº 8313) que o Ministério da Cultura pôs em consulta pública, a partir deste mês, em sua página da internete, por um prazo de 45 dias. Depois deste prazo, o Governo acolherá ou não as sugestões e encaminhará o texto final do projeto ao Congresso.”.
Aqui cabe informar ao leitor que o vale-cultura, com o limite de R$ 50,00 mensais, para uso no cinema, teatro, “chous” e espetáculos em geral, será pago com os seguintes recursos: 50% pela empresa, 30% do Governo e 20% do trabalhador.

Que há um “apartaide” cultural em nosso país, como referiu o Presidente, a maioria dos brasileiros sabe. Mas sabe também que não é com medidas eleitoreiras, de proteção e esmolas que vamos combatê-lo. O atual governo não fez e nem faz nada pela educação: escolas mal aparelhadas, professores ganhando uma miséria de salário, nenhum incentivo a que se reciclem fazendo novos cursos, etc. E cultura tem que começar pela educação. Não me venham com outra. Por estar em consulta o que quer o Presidente, transcrevemos o comentário jocoso e anônimo inserido no mesmo jornal “O Estadão”, de 24 do corrente:

“Ao governo, que tanto se preocupa com as necessidades vitais do povo brasileiro, sugiro que sejam criadas as seguintes bolsas: Bolsa-baile funk, bolsa-rap/hip hop, bolsa-sambão e bolsa-forró, para que os mais necessitados possam ter o direito ao lazer assegurado. (Os demais estilos musicais não precisam de bolsa, porque são estilos musicais da elite). Bolsa-cinema pornô ou bolsa-casa da luz vermelha, pois pobre também tem direito a umazinha... de vez em quando; bolsa-revista Caras, porque pobre fala mal, mas adora ver festa de rico; bolsa BBB-Brasil, para todos assistirem a uma programação que acrescenta muita cultura ao espectador; bolsa-cachaça, pois tomar uma ‘mardita’ é cultura obrigatória, tanto que o presidente mantém a tradição (...) Com essas bolsas, além de ajudar o acesso à ‘cultura’, vai aumentar ainda mais a popularidade do presidente e assegurar a vitória da companheira na eleição do ano que vem.”

Minha conclusão não pode ser outra: Sou contra o projeto, porque não vai trazer nenhum resultado positivo ao país e a nossa cultura. Negativamente, sim. Vejamos: Vai causar e incentivar compra de votos, corrupção, pobreza, alienação e mais ignorância ao povo brasileiro.

Esta mania de bolsas me faz lembrar a frase já tão comum entre a malandragem e os foras-da-lei: “Ou a bolsa ou a vida!”

Desculpem-me os que se sentirem atingidos.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro:
e-mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br

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