sábado, 31 de maio de 2008


A VOZ DOS GALOS

Francisco Miguel de Moura*

Uivos caninos acordam nossos nervos,
na madrugada,
repetidos, remoídos como as cordas
das redes da varanda.

Fria, a madrugada machuca,
enrola-se em cobertas: uma, duas, três...
Nenhuma em cima dos olhos,
Que sentem, escutam, vêem.

Corpos estremecem, luzes acendem,
o frio é quem levanta em vez do amor.
E os lobos, em consoada, uivam pro ar.

Acordar é sério, levantar é trágico.

Sequer um galo testemunha o fim
da noite, em sua voz toante.

Só nós, eu e os cães, uivamos,
e nem ouvimos as dores, ao lado,
e o cuco martelando a frígida manhã.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí.

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