quinta-feira, 29 de maio de 2008


POR QUE PETRÔNIO NÃO GANHOU O CÉU

Ozildo Batista de Barros*

Se este artigo demora um pouco mais, não seria o 18º mas 19º ou o 20º livro de Chico Miguel. Aliás, em outra oportunidade já falei da intensa produção literária de Francisco Miguel de Moura, este picoense de quatro costados, nascido a 16 de junho de 1933, no povoado Genipapeiro (hoje município de Francisco Santos), onde estudou o primário com seus pais. O seu pai, Miguel Guarani, como se sabe, foi um Mestre-Escola, que naquelas épocas era quem distribuía o saber em Picos e arredores. Esta instituição, o Mestre-Escola, por si só, merece artigos e mais artigos. Já o Mestre-Escola Miguel Guarani, de seu turno, foi objeto de crônicas do filho escritor. Mas só isto não basta. A história da educação do povo sertanejo precisa ser melhormente contada. E nesta ocasião há de se dar o devido reconhecimento a professores como o pai de Chico Miguel. Este, como eu ia dizendo, fez o primário antigo na escola doméstica e apenas com 21 anos retomou os estudos, já agora na cidade de Picos, no Ginásio Estadual Picoense, depois na Escola Técnica de Comércio de Picos, e, finalmente, em Teresina, na Faculdade Católica de Filosofia do Piauí. Fez curso de pós-graduação em “Crítica de Arte” pela Universidade Federal da Bahia, em Salvador. Quando cursou a Faculdade já era funcionário do Banco do Brasil e havia servido em Picos, no interior da Bahia e no Rio de Janeiro, nesta última cidade por mais ou menos um ano. Aposentou-se por tempo de serviço, como bancário, em Teresina e, ali, lecionou língua e literatura e escreveu a maior parte dos seus livros, tendo recebido prêmios importantes em poesia, conto, crônica, romance e crítica. Não é jornalista mas colabora com artigos nos jornais da terra, semanalmente. Participou de diversas antologias de poemas, do Ceará ao Rio Grande do Sul, e também em Portugal, Espanha e Estados Unidos. Até então é mais conhecido como poeta e crítico literário, tendo sido incluído no livro “A Crítica Literária no Brasil”, de Wilson Martins, e em “A Literatura no Brasil”, organizada por Afrânio Coutinho, e em vários dicionários e enciclopédias de literatura. Membro da UBE, da Academia Piauiense de Letras e, por três mandatos, eleito para o Conselho Estadual de Cultura. Dirigiu a revista “Cadernos de Teresina” por algum tempo e editou a revista “Cirandinha” – ambas de feição literária.

Falando das obras, apenas por enumerar: – Areias, poemas, Ed. Correio de Timon, Maranhão, 1966; – Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho, ensaios, Ed. Artenova, Rio, 1972; 2ª edição, Editora da Universidade Federal do Piauí, 1997; – Pedra em Sobressalto, poemas, Ed. Pongetti, Rio, 1974; – Universo das Águas, poemas, Ed. Cirandinha, Teresina, 1979; – A Poesia Social de Castro Alves, ensaio, Ed. do Escritor, São Paulo, 1979; – Piauí: Terra, História e Literatura, estudo e antologia, Ed. do Escritor, São Paulo, 1980; – Bar Carnaúba, poemas, Ed. Univ. Federal do Piauí, Teresina, 1983; – Os Estigmas, romance, Ed. do Escritor, São Paulo, 1984; – Quinteto em mi(m), poemas, Ed. do Escritor, São Paulo, 1986; – Eu e Meu Amigo Charles Brown, contos, Projeto Petrônio Portela, Teresina, 1986; – Sonetos da Paixão, poema, Ed. Cirandinha, Teresina, 1988; – Laços de Poder, romance, Projeto Petrônio Portela, Teresina, 1991; – Poemas Ou/tonais, poemas, Gráfica e Editora Júnior, Teresina, 1991; – Ternura, romance, Ed. Universidade Federal do Piauí, Teresina, 1993; – Poemas Traduzidos, poemas, Gráfica e Editora Júnior, Teresina, 1993; – E a Vida se Fez Crônica, ficções, Gráfica e Editora Júnior, Teresina, 1996; – Poesia in Completa, poemas, Fundação Cultural Mons. Chaves, Teresina, 1997.

“Por que Petrônio não Ganhou o Céu”, contos, Edições Cirandinha, Teresina, 1999. Este é o 18º livro de Francisco Miguel de Moura. Mas não é o último. Já está no prelo Literatura do Piauí, história e crítica, Edição da A. P. L., Teresina, que será lançado ainda no decorrer deste ano. E por aí já vem o romance XICOTE. É o que tenho dito: – Francisco Miguel de Moura é um escritor em franca atividade; um patrimônio vivo da cultura nacional, com atuação eminentemente piauiense. E, para gaudium dos que amam a terrinha, ainda por cima é picoense. Que bom para a nossa auto estima!

“Por que Petrônio não Ganhou o Céu” , 144 páginas, contém 18 contos. Coincidência apenas? Disse-me o autor que sim, aliás, nem havia atentado para a simbologia do número: dezoito livros, dezoito contos. Cada livro uma história contada, um conto. Dezoito também é a maioridade. Há os que querem com apenas dezesseis. Desligado destas particularidades, Chico vai escrevendo e publicando. E trabalhando diuturnamente. Agindo sempre em prol da cultura. Agora mesmo está de malas arrumadas para viajar a Cuba, integrando grupo de escritores da América Latina, de cuja excursão resultará a publicação de uma antologia em espanhol e português.

Diz Massaud Moisés que “a Literatura, caminhando antes da vida, lhe vai insinuando os rumos que pode trilhar. Deste modo, o homem se aperfeiçoa com as experiências ficcionais antecipadoras ou reveladoras de dimensões e situações para além de seu mundo comum.” Desse modo, quem pratica literatura, mesmo como simples leitor, se aperfeiçoa com a assimilação de experiências ficcionais antecipadoras ou reveladoras de dimensões e situações para além de seu mundo comum. A Literatura Piauiense, e particularmente a obra de Francisco Miguel de Moura, é um exemplo do que afirmou Massaud Moisés: antecipou e revelou, através de experiências ficcionais, a crise de Estado que o Piauí está vivendo. Assim, ler não é apenas viver. É, literalmente, nos dias de hoje, uma questão de vida ou morte.

A obra de Francisco Miguel de Moura é uma revolução cultural.

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*Ozildo Batista de Barros, advogado, professor, poeta e cronista brasileiro, nasceu em Picos – PI, onde hoje mora, porém já exerceu a política, tendo sido vereador em sua cidade. Autor de vários livros entre os quais dois de poesias.

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