quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

EUTANÁSIA, O QUE É ISTO?


Francisco Miguel de Moura*

Na Europa, o assunto eutanásia é debatido de vez em quando. Na Holanda já é permitida por lei, não sei se em outros países também. O filme “Mar Adentro”, de Alejandro Aménabar, vencedor do Oscar para melhor filme estrangeiro em 2005, veio pôr mais fogo. Conta a história (verídica) de Rámon Sampedro, tetraplégico que lutou anos, na justiça, para que lhe concedesse o direito de morrer em paz. Outros casos semelhantes se contam. O mais conhecido é o de Inmaculada Echeverría, cujo estado de paralisia física chegou a não poder mover-se, exceto com a ponta dos dedos dos pés e das mãos e, em parte, os músculos da cara.

Em Portugal, o Dr. Rui Nunes, do Serviço de Bioética e Ética Médica, da Universidade do Porto, propõe que o assunto seja objeto de referendo, visto que a população está confusa quando o assunto é tocado. Invocando o seu combate ao sofrimento e à dor, Dr. Nunes se declara favorável à eutanásia, “desde que estabelecida uma prática profissional adequada, digna e inteligente” a cujos procedimentos chama de “ortonásia”. O difícil está aí. Se isso fosse possível! Sabemos como são as leis e os homens, sejam de ciência ou não. A interpretação de uma lei, a obrigatoriedade gerará certamente muitas contradições, muitos mal-entendidos, e este estado de coisas acenderá dogmas ético-religiosos e outros.

Leitor apaixonado de Albert Camus, lembro agora o mestre e sua contundente frase com que começa o seu “O Mito de Sísifo”: “Só existe um problema filosófico sério: o suicídio.” E como o suicídio não deixa de ser uma espécie de eutanásia, abreviação da própria vida – discordo dele. O problema sério do homem é a morte, que jamais a entenderá. E como poderia, se nem a vida consegue entender? Por não entender a morte é que discordo da eutanásia, do aborto, da pena de morte.

De duas raízes gregas, eu + tanatos, cuja composição significa boa morte, a eutanásia não está nas minhas cogitações. Sei que alguns doentes querem ter sua morte abreviada. E, sendo moléstia incurável, os médicos devem dispor de meios para satisfazer a parte. Eles, afinal de contas, são médicos para satisfazer, de uma forma ou outra, seus pacientes. Mas, fazer-se uma lei geral baseada em casos especiais e tornar possível, com pedido ou sem pedido do interessado, abreviar-lhe a vida eu acho um absurdo. Os contraditórios são grandes: religião, filosofia, ética e mesmo a ciência, ou parte dela. Minha visão é a de que a ciência, ao aceitar a eutanásia, demite-se de sua obrigação, como ciência, de procurar formas de tratamento para todas as doenças. Do ponto de vista da razão humana, a eutanásia é um atraso. Doentes sem cura, alguns viram com alegria chegar um procedimento novo ou mesmo um experimento que os salvaram, escapando da “morte anunciada”. Filosoficamente, a gente pensa assim: – Se Deus (ou a natureza) criou a vida, não seria natural deixar que quem a criou se encarregasse de sua transformação?

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*Francisco Miguel de Moura, Membro da Academia Piauiense de Letras.

Um comentário:

Alessandro Palmeira disse...

Há silêncios em nossas palavras. Espero contato, abraços.
alessandropalmeira@hotmail.com

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