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sábado, 20 de dezembro de 2008

JOSÉ AFRÂNIO MOREIRA DUARTE - BIOGRAFIA

por Francisco Miguel de Moura



Biografia:

José Afrânio Moreira Duarte nasceu em Alvinópolis-MG, em 8 de maio de 193l e faleceu em 3 de junho de 2008. Nos seus 77 anos completos só fez o bem, pois era uma pessoa culta, simpática e boa, ciceroniando os escritores e artistas que iam a Belo Horizonte, lendo os estreantes e escrevendo na imprensa seus bem desenhados e pensados artigos sobre a cultura brasileira, especialmente a literária. Conheci-o nos anos 70, quando publicara “A Muralha de Vidro” (1971) e eu surgia como um novo crítico no território literário brasileiro, com “Linguagem e comunicação em O. G. Rego de Carvalho”. Recebendo seu livro de contos, fiz um artigo pequeno mas positivo. Foi através de O. G. Rego que nossa amizade literária praticamente começou. Nem sabia eu, em 1971, que o contista José Afrânio havia publicado Fernando Pessoa e os caminhos da solidão “(1968), da maior importância para a cultura brasileira – crítica consciente e sentida, nos moldes da nova crítica, e que havia estreado no conto com “O Menino do Parque” (1966), coincidentemente no mesmo ano da minha estréia. Outras obras que José Afrânio escreveu e publicou: “Alvinópolis e a literatura” (antologia), 1973; “Tempo de Narciso”, (poesia), 1975; “De conversa em conversa” (entrevistas), 1981; “Opinião literária”, (crítica), 1981; “Impressões críticas” (crítica), 1991; “Henriqueta Lisboa: poesia plena” (crítica), 1996 e “Azul: Estranhos caminhos” (contos), 2003.
Participou de várias antologias. As mais importantes: “Brasil, Terra & Alma: Minas Gerais”, organizada por Carlos Drummond de Andrade, e “Flor de Vidro”, organizada por Wagner Torres, ambas de contos. Tradutor de “Las Siete Palabras”, do chileno Juan Antonio Mafrone, prêmio de melhor tradução publicada no Brasil em 2002, da União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro – Ed.Kelps, Goiânia-GO.

Contista, poeta, crítico literário, formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, e funcionário público federal. Excetuados alguns anos em Juiz de Fora onde continuava seus estudos, desde que saiu de Alvinópolis-MG, sua cidade natal, sempre morou em Belo Horizonte, onde faleceu. Tal qual a maioria dos escritores, sua vida corria mais por conta do espírito que da matéria. Por isto a literatura, atividade a que deu grande impulso em Minas e por que ficou conhecido em todo o Brasil, e as artes, especialmente o teatro, tomaram lugar de destaque. Assim, ganhou vários prêmios literários e tornou-se membro da UBE (União Brasileira de Escritores), da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e da Academia Mineira de Letras. Dos 28 prêmios que recebeu, os que mais se destacam são o “João Alphonsus”, o “Pandiá Calógeras” e o “Sílvio Romero”, este, da Academia Brasileira de Letras.
Inquieto literariamente, embora parecesse muito tranqüilo na vida social, ficou conhecido no Brasil inteiro por sua colaboração em jornais de todo o Estado e de muitos outros do país, e por causa dos verbetes em enciclopédias e dicionários famosos como o Dicionário Literário Brasileiro, de Raimundo de Menezes, na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa e na Grande Enciclopédia Delta Larousse, além de em inúmeras publicações destinadas apenas aos contistas como Bibliografia do Conto Brasileiro, de Celuta Moreira Gomes e Tereza da Silva Aguiar, O Conto Brasileiro e sua Crítica, das mesmas autoras. Também seu nome e sua obra circularam no exterior, especialmente na França e nos Estados Unidos. Sabia falar espanhol, francês e italiano. Leu desde cedo os clássicos, de onde fluiu sua escrita séria, envolvente e sábia, e seu estilo que, conquanto romântico em matéria/conteúdo, é seguro, sereno e quase apolíneo.

Embora as biografias sejam concretas, específicas e cheias de dados que têm o fim de provar que o autor tem merecimentos, esta merece muito mais ainda. Referência de caráter sentimental é a que o poeta Gabriel Bicalho, mineiro, contemporâneo, que me fez, via internet, após o falecimento de José Afrânio: “Caríssimo amigo Francisco Miguel de Moura: O José Afrânio faleceu no dia 3 de junho, e fiquei sabendo através da comunicação de outros amigos escritores. Eu sabia que ele estava doente e já pressentia o seu passamento. Por isto, datei a “ELEGIA PRESSENTIDA” com a data de 3, porque a fiz no exato momento em que soube da notícia que me chegou pela poetisa Tânia Diniz, ontem dia 4. Então, amigo, perdemos o nosso grande incentivador de escritores novatos! Lembro-me de que, em 1970, ao ganhar um prêmio literário em Barbacena-MG, tive o primeiro contato com José Afrânio, por carta e mais adiante, pessoalmente, quando foi visitar a sua terra natal, Alvinópolis, tendo chegado a Ponte Nova – MG, que fica próxima da cidade para onde ia, visitando-me. Ficamos amigos e a generosidade do José Afrânio muito contribuiu para que eu desse continuidade aos meus trabalhos literários, apresentando-me a escritores já consagrados e que me estimulavam a produção: como fazia com tantos outros jovens escritores ou novatos nos meios culturais, chegando a ser reconhecido como “Embaixador da Cultura Mineira”, porque divulgava com dedicação a produção de todos os escritores que chegou a conhecer. Assim, amigo, ficamos mais pobres na área literária, perdendo um grande escritor e incentivador de talentos! Agradeço-lhe o contato, que não deverá limitar-se a apenas este: remeta-me novos trabalhos seus para o “Jornal Aldrava Cultural” cujo site é www.jornalaldrava.com.br/ veja todos os números editados de forma impressa, comente comigo a respeito, pode sugerir-me o que fazer para melhorá-lo. Volte a Minas e avise-me quando chegar, para que possamos bater um papo. Saudações a sua família. Meu abraço fraterno: Gabriel Bicalho.”

Agora falta a transcrição do poema “ELEGIA PRESSENTIDA”, de Gabriel Bicalho, dedicada a José Afrânio Moreira Duarte e mencionado acima:

“quando a borboleta negra / pousa em nossas trilhas / fecha-se o sol e o girassol // amigo / irmão / josé afrânio: / não faz escuro a teu redor! // anjos dialogam tua serventia / e o brilho que solitário emanas / transpõe fronteiras além céu: // é que deus convoca os puros / a espargirem luzes pelo cosmo! // estás definitivo e belo feito / estrela de primeira grandeza //: em absoluto silêncio / para o equilíbrio telúrico / de nossos quatro elementos! // e choro a indesejável surpresa / de tua ausência antes pressentida // agora // pelas alamedas da tristeza / os ciprestes se curvam / à tua eternidade! // e não faz ventania!”

Poeta Bicalho, um brado de bravura ao grande José Afrânio!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

AS ACADEMIAS DE LETRAS E A VIDA ACADÊMICA



José Afrânio Moreira Duarte*

Como é público e notório, a primeira academia que se tem notícia foi fundada na Grécia Antiga. O herói grego Academus fez construir um ginásio num bosque situado nos arredores de Atenas. Nele Platão fundou uma escola de ensino filosófico em que dialogava com os alunos, isto no ano 385 Antes de Cristo. Como o lugar era conhecido como Jardim Academus, a escola de Platão ficou sendo chamada Academia Platônica. Ela instituiu também o culto, às figuras mitológicas, nas quais todos criam, de Apolo e das Musas. Desde então um grupo que se reúne para estudos de temas literários ou mesmo diversos ficou sendo conhecido como componente de uma academia. Etmologicamente a palavra vem do grego Akadêmia, via língua latina.

No terreno literário propriamente dito, embora hajam existido outras antes, a importância suprema fica mesmo é com a Academia Francesa, fundada em 1626 pelo Cardeal de Richelieu, visto que a partir dela as academias do mundo inteiro, na quase totalidade, passaram a seguir seu modelo, ou seja, têm quarenta cadeiras, cada qual com seu patrono.

À proporção que vão morrendo os fundadores, já que o cargo é vitalício, são eleitos os sucessores. Há numerosas academias em muitos países, principalmente na Itália e nos Estados Unidos da América do Norte. Neste último país citado quase todas são Academias de Ciências, Letras e Artes, não cuidando apenas de literatura.

Como na França a principal entidade do gênero não se chama Academia Francesa de Letras, mas apenas Academia Francesa podem integrá-la intelectuais não escritores, embora os literatos predominem. Uma outra particularidade da Academia Francesa é que não se exige a nacionalidade francesa para o ingresso de um acadêmico, basta que ele escreva suas obras em francês. Marguerite Yourcenar, a célebre autora das obras primas “Memórias de Adriano” e “A Obra em Negro”, entre diversos outros livros, era belga naturalizada norte-americana. Foi a primeira e até hoje a única mulher a ingressar na Academia Francesa.

Outra academia de grande repercussão internacional e a Academia Sueca, pois ela é que concede, entre outros, o Prêmio Nobel de Literatura, o mais importante do mundo no gênero.

No Brasil a entidade mais notável, literariamente falando, é a Academia Brasileira de Letras, fundada por um grupo de escritores, liderados por Lúcio de Mendonça, em 15 de dezembro de 1896. Machado de Assis, para mim o maior escritor brasileiro de todos os tempos, foi unanimemente aclamado presidente. Embora fundada em 1896, a sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras só ocorreu em 20 de julho de 1897.

Por influência da Academia Brasileira de Letras foram aparecendo através do país outras entidades congêneres, estando entre as primeiras delas as do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, São Paulo e Minas Gerais. Com a Academia Mineira de Letras houve uma particularidade visto que não foi fundada na capital e sim em Juiz de Fora, então a mais importante cidade do Estado, no dia 25 de dezembro de 1909. Somente em 1916 foi transferida para Belo Horizonte.

Segundo penso, a confraternização nos meios acadêmicos é de muita importância, principalmente porque, embora existam, não são comuns às famílias de escritores, ficando cada um com que isolado literalmente do meio familiar. Existem grupos de escritores que na maioria dos casos se reúnem em bares, mas a vida acadêmica é a que me parece ideal para o convívio literário, exposição de planos, troca de idéias sobre livros literários e assim por diante. Isto sem contar a realização de concursos literários, palestras, pequenos cursos e tardes ou noites de autógrafos, entre outras coisas mais. A grande maioria da população respeita as academias e valoriza os acadêmicos, mas justamente nos meios literários, mormente entre escritores jovens, é moda menosprezar e tentar desmerecer as academias. Em muitos casos, contudo, com o passar dos anos os antiacadêmicos mudam de posição. Por exemplo, é do conhecimento de todos que a semana de arte moderna realizada no Teatro Municipal de São Paulo em 1922 tinha entre seus objetivos primordiais “investir contra o marasmo das academias”. Alguns dos participantes mais entusiasmados eram os então jovens Menotti Del Pichia, Cassiano Ricardo e Guilherme de Almeida, indubitavelmente uma tríade de grandes poetas. Pois bem, mais tarde, já na maturidade, todos três cometeram o exagero de ingressar na Academia Paulista de Letras, e, como se não bastasse, na Academia Brasileira de Letras, também.

Ao entrevistar Jorge Amado perguntei-lhe: “Dizem que quando jovem você era frontalmente contra as Academias de Letras, mas, afinal, terminou sendo acadêmico. Como é mesmo que foi isto?” Eis a resposta: “Com a idade e a experiência a gente deixa de ser maniqueista. Felizmente”.

Eu também fui anti-acadêmico na juventude, mas depois concluí e até escrevi que o certo é cada qual escolher e seguir seu próprio caminho, respeitando sempre os caminhos dos outros. Hoje considero justo motivo de orgulho para mim ser membro da Academia Mineira de Letras e da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, além de sócio correspondente de outras em Minas Gerais, ou em Belo Horizonte.

Parece-me que o anti-academismo é uma doença sem gravidade que ataca principalmente os moços, como as espinhas.

Felizmente, na maioria dos casos, o mal tem cura. É só deixar o tempo ir passando...

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*José Afrânio Moreira Duarte, escritor brasileiro, poeta, contista, crítico literário e membro da Academia Mineira de Letras, morava há muitos anos em Belo Horizonte, onde faleceu no dia 03-06-2008. Originário de Alvinópolis-MG, onde nasceu 8-5-1931, publicou “O menino do parque” (contos, 1966), "Fernando Pessoa e os caminhos da solidão" (ensaio, 1968), “A muralha de vidro” (contos, 1971), entre outras obras, tendo recebido importantes prêmios de instituições de Minas, Rio e São Paulo.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

A VOLTA BREVE AO ROMANTISMO

  Francisco Miguel de Moura* 
      – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras.

Na publicação de “Um depoimento pós-moderno” Edições, Cirandinha, 1989, eu dizia já prever a volta do romantismo no começo do séc. XXI, porque poetas e leitores não vivem sem poesia. 
Acabo de receber um e-mail do grande poeta renovador mineiro, Márcio Almeida, que nas décadas passadas, melhor dizendo desde os anos 1960, revoluciona a poesia brasileira com seus livros e ações em torno dos movimentos poéticos, através do também poeta mineiro Paschoal Motta, amigo dele e meu, cujo teor é o seguinte:
“Meu caro Paschoal, ‘Não panfleteie ideologia, / não holografe em atari, / não louversonhe as maras, / não palavre: Signatari” (Márcio Almeida, Assassigno, 1987). Em homenagem ao Décio Pignatari, n. 20-8-1927 (Jundiaí) – f. 02-12-2012 (São Paulo), para quem o poema é o “disigner” da linguagem, que conheci em evento, quase um fracasso absoluto, em Belo Horizonte, juntamente com Carlos Ávila, que também perdeu o pai faz pouco tempo, escrevi a quadra acima, inclusa no Assassigno, cujo revival agora está de volta na publicação de “Leituras indesejáveis”, que você receberá nesta semana. Outro dia você me mandou um e-mail que também me deixou um pouco perplexo. É que as pessoas boas estão morrendo, os jornais mal e porcamente registram e rapidamente caem em esquecimento quando não no silêncio cínico, caso dos nossos Henry, Adão, Duílio (Gomes), José Afrânio Moreira Duarte e tantos outros que se vão e pronto. E assim será, com toda certeza, também conosco.      Temo pelo absoluto ostracismo em menos de uma década após a nossa morte. Meus filhos nunca me perguntaram o que estou produzindo, nunca leram artigo meu publicado em jornais, não conversam comigo sobre Literatura, nunca me perguntaram sobre a qualidade de um livro que lêem. Amanda já anunciou que quando eu morrer vai dispor de minha biblioteca em dois tempos: a chegada e a saída do caminhão para doar tudo para uma entidade. Isto, comigo. Não tenho referência se existe uma biblioteca com o nome do Adão que o reverencia, idem com o Henry e assim sucessivamente. O neoliberalismo com sua forçada equiparação “por baixo” faz com que as pessoas se achem todas no mesmo nível e assim todas se dão o direito de serem rigorosamente iguais em tudo. Dia desses quase rompi com um amigo porque ele estava espalhando via internete que para produzir miniconto o conhecimento da gramática era inútil, desnecessário. Sou pessimista em relação à sobrevivência da Literatura do futuro-já, mormente com a expansão do tablete e você lerá eu já tratando do assunto em “Leituras indesejáveis”. As pessoas (bem menos do que hoje) continuarão lendo, mas textos curtos, impactantes, encomendados. O que chamamos de Literatura tornar-se-á “cult”, arte devocional de apreciadores muito especiais. É um palpite. Sem uma “Sociedade dos Poetas Mortos”, sem uma “sociedade” que nos lembre a todos, indistintamente, além de virarmos pó, nossos nomes serão apagados de quase tudo. Seremos lembrados historiograficamente: ou porque, no seu caso, foi editor do SLMG (Suplemento Literário do Minas Gerais), ou porque foi professor de uma faculdade em DV, ou porque nasceu SPF e construiu uma biblioteca. Quantas pessoas se lembraram de um poema nosso? E quando essas pessoas morrerem? Lembra-se do filme “Farenheit 45”, do François Truffault? Não é à toa se ele é um dos meus prediletos. Sou mesmo veementemente contra Academia, mas ela tem uma vantagem: respalda vida e obra dos autores; conserva sua memória, vira e mexe, traz à tona o legado daqueles que realmente tem valor. Outro dia li na “Folha de São Paulo” que amigos cariocas do Bartolomeu Campos de Queirós iam prestar homenagem a ele no Rio, com exibição de documentários, exposição de suas obras etc. Está claro que sua morte ainda é recente, mas foi lembrado. Dinorah Maria do Carmo me enviou e-mail ontem à noite convidando para a leitura de poemas de Bueno da Rivera, em Santo Antônio do Monte, que também está sendo lembrado. O que falta mesmo é uma sociedade que preserve a memória dos autores, não os permita serem esquecidos, os mantenha vivos para os pósteros, pois em vida foram lidos, premiados, serviram de exemplo, dignificaram o Estado”.

Na resposta do poeta Paschoal Motta há jóias como: “Há muito que fazer, Márcio, e principalmente pela humanização da Poesia Escrita, começando com a retomada do lirismo.”
Aquela volta ao romantismo de que falei no início não é mais do que o lirismo poético de um Márcio Almeida, autor deste depoimento fabuloso que nos enviou, assim como o do próprio Paschoal Motta, numa linguagem nova, com originalidade, por isto mesmo querendo que o fogo da Literatura seja passado à frente como o das tochas Olímpicas. Todos os povos são românticos quando querem sobreviver, pelo menos no nome, por ter feito alguma coisa boa. E os escritores, justo porque escrevem, naturalmente pensam na escrita, na prosa e na poesia, no nome, como forma de sobrevivência histórica.  No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. (Evangelho, segundo São João). Nisto eu acredito. Como acredito que fim também é o Verbo e o Verbo é Deus. E Deus é poesia.  
 Tudo isto é linguagem, tudo isto é poesia, tudo isto é romantismo.
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*Francisco Miguel de Moura é um dos poetas contemporâneos que mais produzem, tendo cerca de 42 livros publicados, entre poesia, crônica, conto, romance e crítica literária, matéria em que é versado e foi lembrando pelo grande crítico Wilson Martins, em sua "História da Crítica no Brasil".

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A VOLTA BREVE AO ROMANTISMO

                      

     Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras.

            As correntes filosóficas praticamente se esgotaram e os filósofos desapareceram. Ficaram apenas a poesia e seus poetas. Na publicação de Um depoimento pós-moderno, Edições, Cirandinha, Teresina, 1989, eu dizia já prever a volta do romantismo no começo do séc. XXI, porque poetas e leitores não vivem sem poesia.
           Acabo de receber notícia do grande poeta renovador mineiro, Márcio Almeida, que conheci pessoalmente, nas décadas 1960/1970. Como disse, ele revolucionava a poesia brasileira com seus livros e ações em torno dos movimentos poéticos. A notícia veio por intermédio do também poeta mineiro Paschoal Motta, amigo dele e meu. Leiamos o teor:
             “Meu caro Paschoal, ‘Não panfleteie ideologia, / não holografe em atari, / não louversonhe as maras, / não palavre: Signatari’ (Márcio Almeida, Assassigno, 1987). Versinhos em homenagem ao Décio Pignatari, n. 20-8-1927 (Jundiaí) – f. 02-12-2012 (São Paulo), para quem o poema é o disigner da linguagem, que conheci em evento, quase um fracasso absoluto, em Belo Horizonte, juntamente com Carlos Ávila, que também perdeu o pai faz pouco tempo, escrevi a quadra, inclusa no Assassigno, cujo revival agora está de volta na publicação de Leituras indesejáveis, que você receberá nesta semana. Outro dia você me mandou um e-mail que também me deixou um pouco perplexo. É que as pessoas boas estão morrendo, os jornais mal e porcamente registram e rapidamente caem em esquecimento quando não no silêncio cínico, caso dos nossos Henry, Adão, Duílio Gomes, José Afrânio Moreira Duarte e tantos outros que se vão e pronto. E assim será, com toda certeza, também conosco. Temo pelo absoluto ostracismo em menos de uma década após a nossa morte. Meus filhos nunca me perguntaram o que estou produzindo, nunca leram artigo meu publicado em jornais, não conversam comigo sobre Literatura, nunca me perguntaram sobre a qualidade de um livro que lêem. Amanda já anunciou que quando eu morrer vai dispor de minha biblioteca em dois tempos: a chegada e a saída do caminhão para doar tudo para uma entidade. Isto, comigo. Não tenho referência se existe uma biblioteca com o nome do Adão que o reverencia, idem com o Henry e assim sucessivamente. O neoliberalismo com sua forçada equiparação por baixo faz com que as pessoas se achem todas no mesmo nível e assim todas se dão o direito de serem rigorosamente iguais em tudo. Dia desses quase rompi com um amigo porque ele estava espalhando via internete que para produzir miniconto o conhecimento da gramática era inútil, desnecessário. Sou pessimista em relação à sobrevivência da Literatura do futuro-já, mormente com a expansão do tablete e você lerá eu já tratando do assunto em Leituras indesejáveis. As pessoas (bem menos do que hoje) continuarão lendo, mas textos curtos, impactantes, encomendados. O que chamamos de Literatura tornar-se-á cult, arte devocional de apreciadores muito especiais. É um palpite. Sem uma Sociedade dos Poetas Mortos, sem uma ‘Sociedade’ que nos lembre a todos, indistintamente, além de virarmos pó, nossos nomes serão apagados de quase tudo. Seremos lembrados historiograficamente: ou porque, no seu caso, foi editor do SLMG (Suplemento Literário do Minas Gerais), ou porque foi professor de uma faculdade em DV, ou porque nasceu SPF e construiu uma biblioteca. Quantas pessoas se lembraram de um poema nosso? E quando essas pessoas morrerem? Lembra-se do filme Farenheit 45, do François Truffault? Não é à toa se ele é um dos meus prediletos. Sou mesmo veementemente contra Academia, mas ela tem uma vantagem: respalda vida e obra dos autores; conserva sua memória, vira e mexe, traz à tona o legado daqueles que realmente tem valor. Outro dia li na Folha de São Paulo que amigos cariocas do Bartolomeu Campos de Queirós iam prestar homenagem a ele no Rio, com exibição de documentários, exposição de suas obras etc. Está claro que sua morte ainda é recente, mas foi lembrado. Dinorah Maria do Carmo me enviou e-mail ontem à noite convidando para a leitura de poemas de Bueno da Rivera, em Santo Antônio do Monte, que também está sendo lembrado. O que falta mesmo é uma sociedade que preserve a memória dos autores, não os permita serem esquecidos e os mantenha vivos para os pósteros, pois em vida foram lidos, premiados, serviram de exemplo, dignificaram Minas” (e-mail de 03-12-2012).
         Na resposta do poeta Paschoal Motta há jóias como: “Há muito que fazer, Márcio, e principalmente pela humanização da Poesia Escrita, começando com a retomada do lirismo.”
               São três depoimentos em favor da volta da poesia mais suave, mais doce, mais amiga, mais gente falando que desenhos e figuras. Esse é o lirismo poético de um Márcio Almeida, autor deste depoimento fabuloso que nos enviou, assim como o do próprio Paschoal Motta. Romantismo numa linguagem nova, com a originalidade de cada um para todos. O fogo da Literatura deve ser passado à frente como o das tochas Olímpicas. Todos os povos são românticos e querem sobreviver por terem feito alguma coisa boa. E os escritores, justo porque escrevem, naturalmente pensam na escrita, na prosa e na poesia e no próprio nome, como forma de sobrevivência histórica.  “No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. (Evangelho, segundo São João). Acredito também que no fim também é o Verbo e o Verbo é Deus. E Deus é poesia.  E tudo isto é linguagem, tudo isto é poesia, tudo isto é lirismo e romantismo.
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