PRECISAMOS CONVERSAR PARA NÃO ADOECER
Francisco Miguel de Moura –
escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras
“Nenhum homem é uma ilha” - começo
citando uma frase famosa, que já nem se precisaria declinar o nome do autor. Se
o nosso povo fosse leitor dos clássicos!... Mas, foi através do filósofo
francês Jacques Maritain(1882-1973) que ela
nos chegou. É possível que seja originária de outro filosofo, Thomas
Merton, por exemplo. Como o brasileiro não lê e quando vai ler, escolhe o pior,
nem perco o tempo citando os grandes best-seller que existem expostos em todas
as poucas livrarias das cidades grandes.
Livros se tornaram filmes. Às vezes a pessoa diz que leu livro tal tendo
assistido apenas ao filme, o que não é a mesma coisa. A arte das letras, a literatura, é uma arte
da palavra escrita, ou melhor do jogo da palavra com seus infinitos sentidos,
enquanto o cinema e as demais artes cinéticas exploram as imagens físicas,
pouco do psicológico humano. Precisamos conversar. Mas conversar com quem?
Conversar em casa, na família; conversar na rua com as pessoas que temos
algumas relações, mesmo que apenas de troca, mercado, compra e venda; e
precisamos conversar com os amigos.
Mas onde estão os amigos? Na minha própria
percepção de psicólogo prático desta vida, penso que os homens são criaturas
bem diferentes uns dos outros, umas das outras, se queremos enfatizar o sexo.
As mulheres são mais “dadas”, como se dizia antigamente, são mais amigueiras do
que os homens. Os homens só se juntam, na bebida, no futebol e falando das
mesmas profissões que tenham – que todos
conhecemos por colegas. Homens e
mulheres normalmente não são amigos e amigas quando são jovens ainda, tudo
corre mais para o lado do sexo, nem sempre fazem uma amizade desinteressada.
O homem é uma espécie esquisita. Não
há uma pessoa igual, homem, mulher, menino,menina, adolescente, etc. Todos têm
seus gostos, seus gestos, suas maneiras, suas qualidade e defeitos.
Encontrarem-se uns com outros somente através de um objeto fora deles: - a
festa por exemplo, a dança, a balada, o carnaval, e hoje a extensão do grande
público para assistirem um ou outro artista (cantor), nas noitadas, quando
rolam bebida, droga, cigarro e sexo, no meio de toda essa confusão de saltos
e danças individuais. Nos intervalos, conversas há de todo tipo. Está
visto que não é um lugar muito apropriado para arranjar-se amizades duradouras.
Mas precisamos conversar, se não
falamos, cria-se como que um vazio que será preenchido por pensamentos de todos
os tipos. Quem descreve bem o que são os nossos pensamentos é o médico,
escritor e psicólogo Augusto Cury. Fica claro, nas suas lições, que não há
paradas psicológicas em nosso cérebro, pois está trabalhando sempre. E se não
temos amigos, se não vamos a festas, se não nos encontramos com pessoas, se não
convivemos diariamente com os “semelhantes”, as doenças aparecem, normalmente o
chamado “mal do século”, a depressão. E
que mal terrível! Faz com que a pessoa viva sem vontade, sofra sem ninguém
saber, um inferno. A solidão leva, algumas vezes ao suicídio, por falta do
gosto de sentir, do gosto de viver.
Vivemos e precisamos continuar
vivendo, mas ter uma vida agradável é o que de melhor podemos alcançar. Assim,
dentro de todo esse pandemônio de mundo é que – por uma força natural e pela
força psicológica – o amor, o sexo, o casamento aparecem em nossas vidas. E é
bom, pois está provado que os solteiros vivem menos, principalmente se do sexo masculino. Falo do
casamento homem x mulher, porque dos demais nada conheço e acho que muito pouca
gente sabe como será. Melhor, pior?
Precisamos conversar, e muito. E
chegamos num ponto que explica, em parte, porque as mulheres vivem mais do que
os homens. As mulheres falam mais. Precisam conversar. O homem também, mas pela
sua própria natureza nem sempre está disposto a fazê-lo como devia.
Um pequeno esclarecimento: Esse tal de
relacionamento “online”, através das redes de comunicação por internet e/ou
celular, não é um relacionamento inteiramente humano. É feito por gente, mas o
meio dificulta muito a comparação com o relacionamento vis-a-vis. Não satisfaz.
Ter milhares de amigos pelo “facebook”
ou por outras redes semelhantes, até mesmo por e-mail, não satisfazem em nada a
necessidade de comunicação, a necessidade de falar e ser ouvido e,
respectivamente, ser ouvido e falar. Essa troca, sim, é rica, riquíssima. Só
que está cada vez mais difícil de acontecer entre as pessoas devido a chamada
“vida moderna”. Então, hoje, os amigos
de verdade são poucos, muito poucos mesmo. Mas os amigos são praticamente nossa
riqueza. Amigo vale. Portanto, quem tiver amigo/os trate-o/os bem deles, pois
uma amizade quebrada não volta e quando volta já é sem a mesma confiança de
antes. Amigo é sempre uma pessoa que nos ouve, nos estima, na presença e na
ausência, não deixando que ninguém fale mal dele. O amigo é sempre capaz de
avalizar a ação do outro. Não é necessário que se tenha a mesma opinião. Às
vezes temos pensamentos e opiniões muito diferentes. Os amigos são para ouvir os amigos em
dificuldade, quando há problemas de qualquer ordem, de qualquer natureza. Os
amigos sempre são amigos da família, formam uma comunidade. Não falo naqueles
amigos de bar, falo nos amigos que conhecemos ou fomos apresentados em lugar que
frequentamos como clubes ou igrejas, escola ou oficina de trabalho.
Lembro o poeta Francisco Hardi Filho.
Que grande amigo eu perdi com o seu falecimento! Assim aconteceu também com o
romancista O.G.Rêgo de Carvalho, outro que faleceu recentemente. Cito os dois
casos por serem bem específicos. Do Hardi Filho, tomei conhecimento através da
poesia e da apresentação de Tarciso Prado, no Banco do Brasil, sabendo que era
funcionário público federal (IBAMA). Orlando Geraldo Rego de Carvalho conheci
no mesmo Banco do Brasil, eu e ele empregados daquela outrora grande casa
bancária. Lembro a frase do Hardi Filho a meu respeito: - “Somos tão diferentes em tudo; no
entanto, somos grandes amigos”. E essa frase pode ser aplicada aos dois,
sem dúvida nenhuma. No entanto, fomos amigos na literatura e amigos na vida.
Certamente, lá no céu nos encontraremos para as nossas boas conversas,
amigáveis e cheias de amabilidades, e discordantes como se para apimentar a
amizade, que era cimentada pela confiança.
Por minha parte, confesso: O. G. Rego
de Carvalho, eu já o conhecia através da leitura de seu livro “Ulisses entre o
amor e a morte”. Quanto a Hardi Filho vim conhecer sua poesia posteriormente,
mas não muito posteriormente, através da leitura do livro “Cinzas e Orvalhos”.
Que belas amizades!
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