Foto: Renata Pallotinni
POEMA
DO SILÊNCIO
Renata Pallotinni*
Sim,
foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei
frases em volta.
Cego
de angústia e de revolta.
Foi
em meu nome que fiz,
A
carvão, a sangue, a giz,
Sátiras
e epigramas nas paredes
Que
não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi
quando compreendi
Que
nada me dariam do infinito que pedi,
-
Que ergui mais alto o meu grito
E
pedi mais infinito!
Eu,
o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis
a razão das épi trági-cómicas empresas
Que,
sem rumo,
Levantei
com sarcasmo, sonho, fumo...
O
que buscava
Era,
como qualquer, ter o que desejava.
Febres
de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham
raízes banalíssimas de egoísmo.
Que
só por me ser vedado
Sair
deste meu ser formal e condenado,
Erigi
contra os céus o meu imenso Engano
De
tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor
meu Deus em que não creio!
Nu
a teus pés, abro o meu seio
Procurei
fugir de mim,
Mas
sei que sou meu exclusivo fim.
Sofro,
assim, pelo que sou,
Sofro
por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro
por não poder fugir.
Sofro
por ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor
meu Deus em que não creio,
Porque
és minha criação!
(Deus,
para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor
dá-me o poder de estar calado,
Quieto,
maniatado, iluminado.
Se
os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca
os usei nem usarei,
Se
nada do que levo a efeito vale,
Que
eu me não mova! que eu não fale!
Ah!
também sei que, trabalhando só por mim,
Era
por um de nós. E assim,
Neste
meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava
um homem pela humanidade.
Mas
o meu sonho megalómano é maior
Do
que a própria imensa dor
De
compreender como é egoísta
A
minha máxima conquista...
Senhor!
que nunca mais
Meus
versos ávidos e impuros
Me
rasguem! e meus lábios cerrarão
Como
dois muros,
E
o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E
sobre mim de novo descerá...
Sim,
descerá da tua mão compadecida,
Meu
Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E
uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão
a minha fome.
__________________
*Renata Pallotinni, poeta,
dramaturga, romancista,
professora e escritora da
literatura infantil, nasceu
em São Paulo (SP), 20-01-1931, e faleceu em 08-07-2021,
na mesm cidade de São Paulo (SP).
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