Clássico é o que perdura ante os
descaminhos do tempo. O alto nível de elaboração de uma peça literária marca a
memória, bem como alimenta o coração. Li muito cedo, “Mensagem”, de Fernando
Pessoa, poeta português de linguagem formidável e moderna, que ficou registrado
nos meus impulsos de leitor voraz.
A arquitetura armada por Fernando
Pessoa, em “Mensagem”, é de força épica, todavia, a sua beleza advém do extremo
lirismo que salta a cada movimento verbal pensado e/ou sentido pelo bardo.
Da visão dos castelos, “Mensagem”
abre-se imagética, com a personificação geográfica da Europa. A obra é repleta
de versos brilhantes: “Os Deuses vendem quando dão.”; “O mito é o nada que é
tudo.”; “Louco, sim, louco, porque quis grandeza.”; “Deus quer, o homem sonha,
a obra nasce.”; “Tudo é disperso, nada é inteiro.”.
Nesse jogo de joias raras, eis que o
mar do país natal do eu lírico aparece pleno, sendo, para mim, o seu enlevo
maior, a sua realização consagradora. O enigma das águas salgadas rasga a eternidade,
e quanta sabedoria guarda o seu fundamental poema “Mar Português”:
Ó
mar salgado, quanto do teu sal
São
lágrimas de Portugal!
Por
te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos
filhos em vão rezaram!
Quantas
noivas ficaram por casar
Para
que fosse nosso, ó mar!
Valeu
a pena? Tudo vale a pena
Se a
alma não é pequena.
Quem
quer passar além do Bojador
Tem
que passar além da dor.
Deus
ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas
nele é que espelhou o céu.
Comovente, Fernando Pessoa proporciona
uma viagem encantatória pelos mistérios da grande poesia. Relendo agora os seus
bravos lemes poéticos, toca-me deveras a sua “Prece”, que calha verdades e
emoções inteiras, dentro de mim. Saudade, que palavra arrebatadora e única! E
sinto como a dose alada da Estética é primorosa!
Senhor,
a noite veio e a alma é vil.
Tanta
foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos
hoje, no silêncio hostil,
O
mar universal e a saudade.
Mas
a chama, que a vida em nós criou,
Se
ainda há vida ainda não é finda.
O
frio morto em cinzas a ocultou:
A
mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o
sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia -,
Com
que a chama do esforço se remoça,
E
outra vez conquistaremos a Distância –
Do
mar ou outra, mas que seja nossa!
A obra-prima de Fernando Pessoa
espelhou os meus cantos em “Velas Náufragas”, onde o destino imaginário se
reinventa, pois a perenidade está exatamente na ressurreição do que nos deixa
mudo, já que “o sonho é ver as formas invisíveis”.
__________
*Diego Mendes Sousa, poeta brasileiro, que eu chamo
de “ Poeta-Menino, não por sua poesia, que é enorme, mas pela sua idade. Escrevam:
este vai ser um dos maiores poetas brasileiros do futuro. Da Parnaíba, para o
Brasil e para o Mundo.
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