segunda-feira, 20 de março de 2017

BRASÍLIA, ALÉM DOS JABUTIS

Manoel Hygino*

Enganam-se redondamente os que apenas veem em Brasília a sede administrativa e política do país. É o que se depreende da antologia de “Nós poetas de 33”, organizada por Joanyr de Oliveira, autor mineiro nascido em Aimorés e que na sede do governo, viveu, por muitos anos, para ser sepultado cercado pelo carinho, a amizade e o respeito de quantos com ele conviveram.

A vitalidade literária da capital federal se pode aferir pela primeira coletânea de seus poetas em 1962. Era a pioneira obra no campo das letras ali editada, conforme Napoleão Valadares.

Em seguida, imaginou-se editar duas novas coletâneas, uma do próprio Joanyr, reunindo “Poetas de 33” (os nascidos naquele ano) e “Poetas dos Anos 20”, como concebera Fernando Mendes Vianna.

Ambos não puderam assistir ao resultado de seu projeto, pois falecidos respectivamente em 2009 e 2006.

Para resgatar a esplêndida contribuição dos escritores da capital federal, decidiu-se por lançar, em 2014, “Nós - poetas de 33”, ao ensejo do quinto aniversário de morte do idealizador da antologia. Nela, apresentam-se em plenitude Fernando Mendes Vianna, Francisco Miguel de Moura, Hugo Mund Júnior, Joanyr, José Jerônimo Rivera, Lupe Cotrim Garude, Maria José Giglio, Miguel Jorge, Murilo Moreira Veras, Octávio Mora, Olga Savary e Walmir Ayala, nomes expressivos de nossa poesia, embora alguns não tão conhecidos como se impõe.

A edição se tornou possível graças ao empenho de Kori Bolivia, ex - presidente da Associação Nacional de Escritores, e ao decisivo apoio da Editora Thesaurus, isto é, Victor Alegria, seu diretor. No empreendimento, ressalte-se a participação de Anderson Braga Horta, “grande vate de 1934, amigo de todos os poetas e o maior dentre todos nós que nos tornamos brasilienses”.

O volume lançado, já sem a presença física de autores notáveis na poesia, é uma relíquia a ser guardada em área nobre para consulta pelos amigos do bom e do belo, que existem, sim, em nosso país. E, antes que me escape o raciocínio, que se advirta para a exposição crítica de Anderson (filho de pais poetas), mineiro de Carangola com todas as honras, sobre a obra de Joanyr e Mendes Vianna, com observações da maior importância para avaliar o legado de ambos autores e que inspira o livro.

Embora não restrito a vates de Brasília ou lá residentes, agora e antes, o “Poetas de 33” resulta da dedicação de Anderson à produção dos autores nascidos no já distante 1933. Resume o sentimento do escritor carangolense com relação àqueles que fazem da cidade inventada por Juscelino uma metrópole muito acima do unicamente material.

As vozes do planalto central se sintetizam na expressão de três poetas maiores, Joanyr, Mendes Vianna e Ánderson, talvez saudoso dos “dias empoeirados dos pioneiros. Do luar, dos bichos, das sujas botas, dos tratores em guerra sem tréguas com o mundo desértico e esquivo que o homem veio dominar para todo o sempre”.

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*Manoel Hygino, jornalista mineiro, responsável pelo site “Hoje em dia”, de onde tiramos o presente artigo publicado em 04/06/2015. sobre o livro “Nós, poetas de 1933”, antologia organizada por pelo poeta Joanyr de Oliveira, publicada em Brasília-DF

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