sábado, 11 de fevereiro de 2017

APRESENTAÇÃO DO LIVRO POESIA (IN)COMPLETA DE F. M. MOURA

                                                                                                                            Miguel Júnior*

Sr. Presidente da Academia Piauiense de Letras, Nelson Nery Costa, autoridades presentes, senhoras e senhores acadêmicos, meus familiares, amigos e demais convidados, minhas senhoras e meus senhores, peço a permissão, inicialmente, para dividir minha alegria, como apresentador, com todos aqui presentes, que me concedem o prazer da companhia e a honra do comparecimento a esta solenidade de lançamento do livro: Poesia (in) Completa, 2ª edição, revista e aumentada, de Francisco Miguel de Moura, da Coleção Centenário da Academia Piauiense de Letras.
Quando recebi o convite para apresentar o lançamento do livro pensei que seria fácil, pois sou seu filho e cinquenta e dois anos de convivência me daria uma certa tranquilidade. Logo percebi que a imparcialidade seria uma barreira a ser vencida. Minha fala estaria cheia de subjetividades. Afinal, meu pai é referência em tudo em nossa família. Honesto, ético, amigo, responsável, sempre cultuou bons hábitos. Como escritor, obstinado! Francisco Miguel de Moura ama o que faz e por isso faz bem feito, com maestria. Respira e transpira literatura. Na maioria das vezes, se a conversa não for sobre livros, silencia. Para não se isolar do mundo, então, transforma tudo ao seu redor em arte, num processo de lapidação das impressões do meio exterior, imprimindo-lhe os sentimentos pessoais, através do seu estilo e criação. Na verdade, briga com as próprias escolhas, entre o feijão e o sonho, busca o equilíbrio. Sobreviveu como bancário e vive como escritor.
Todo escritor enfrenta pelo menos três problemas: escrever, publicar e ser lido. Escrever não é fácil, pois muitas vezes as palavras são frutos do sofrimento, marca inevitável da personalidade do artista. Não importa, por mais que se esquive, não consegue libertar-se totalmente do seu mundo conflitual. Todo esse processo é um trabalho árduo, onde o sucesso e o fracasso andam de mãos dadas. Escrever é, primeiramente, vencer a si mesmo, sem medo, resignado e apto a transferir os conflitos pessoais às personagens.
O segundo grande problema enfrentado pelo escritor é uma missão quase impossível no Brasil, publicar um livro. Não por falta de editores, mas por falta de leitores. Os custos da publicação e distribuição de um livro são extremamente altos e apenas uma pequena parcela da população possui renda para comprá-los com regularidade e uma parcela menor ainda possui o hábito da leitura. Parte dessa falta de hábito é cultural. Muitas escolas não incentivam a leitura, obrigam os alunos a ler apenas determinados livros, quando não resumos, para que possam ser aprovados em determinados exames.
O terceiro problema que o escritor tem que enfrentar é como fazer para ser lido. Talvez o maior medo do autor, em todos os tempos, é lidar com a ausência de leitores, principalmente, se for poesia. É na criação verbal que reside a genialidade. Não pode ser hermética. Encurtar a distância é que possibilita a realização completa do escritor, pois não basta escrever, é preciso ser lido.
Francisco Miguel de Moura soube enfrentar os três problemas e sem deixar o Piauí. Venceu os três desafios e outros mais impostos ao escritor. Saiu de um ambiente inóspito, rodeado de miséria e fome. Estudou em escola pública e leu à luz do candeeiro, sem os recursos que se tem hoje. Era para dar errado, mas não deu. Nunca deixou de escrever, publicar e ser lido. Aos 83 anos de idade, com mais de trinta livros publicados e esgotados, em sua grande maioria, tem fôlego para muito mais. Incansável, divulga suas obras na internet através do blog que idealizou e criou franciscomigueldemoura.blogspot.com.br.
É fato que não podemos separar, na origem, o escritor de sua criação. Assim, apresento-lhes, de forma sintética, primeiramente, o criador. Francisco Miguel de Moura nasceu na fazenda “Curral Novo”, em Jenipapeiro, hoje Francisco Santos, que pertencia ao município de Picos, sertão do Piauí, aos 16 de junho de 1933. Técnico em Contabilidade, graduado em Letras pela Faculdade Católica de Filosofia do Piauí e pós-graduado em Crítica de Arte pela Universidade Federal da Bahia. Foi comerciário, funcionário do Banco do Brasil, escrivão de polícia, radialista, professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Aposentou-se para se dedicar, exclusivamente, à literatura. É poeta, romancista, ensaísta, cronista, contista e colabora em diversos jornais do país e do exterior. É sócio efetivo da União Brasileira dos Escritores e membro da Academia Piauiense de Letras.
Estreou na poesia, em 1966, com o livro Areias. Publicou em seguida: Pedra em Sobressalto, Universo das Águas, Bar Carnaúba, Quinteto em mi(m), Sonetos da Paixão, Poemas Ou/tonais, Poemas Traduzidos, Poesia in Completa, Vir@gens, Sonetos Escolhidos, Antologia de Poemas, Tempo contra Tempo (em coautoria com Hardi Filho), Arfogo – romance da revolução e Cinquenta Sonetos.
Em prosa é autor dos romances Os Estigmas, Laços de Poder, Ternura, e D. Xicote. Dos contos: Eu e meu Amigo Charles Brown, Por que Petrônio não Ganhou o Céu e Rebelião das Almas. Na crônica, é autor de E a Vida se Fez Crônica, A graça de cada dia e O menino quase perdido. Como crítico literário escreveu Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho, A Poesia Social de Castro Alves, Um Depoimento Pós-Moderno, Assis Brasil, Castro Alves e a Poesia Dramática e Moura Lima: do romance ao Conto. Escreveu ainda, Piauí: Terra, História e Literatura, Literatura do Piauí e Miguel Guarani, Mestre e Violeiro.
Francisco Miguel de Moura é um dos escritores mais produtivos do Piauí. Premiado em vários concursos literários, tem sua obra recebido manifestação positiva da crítica, vinda de escritores de todo o país, como João Felício dos Santos, Olga Savary e outros. Por isso não podemos deixar, neste momento, de registrar as impressões de alguns de seus ilustres leitores e que atestaram a sua importância no desenvolvimento da literatura do seu Estado.
Fontes Ibiapina revela, ao prefaciar Areias, “Impressiona pela simplicidade do termo, emprestando, numa comunicabilidade impressionante, muito de simpatia ao leitor bem avisado. Em todo o conteúdo da obra, encontra-se uma intimidade contagiante familiarizando e irmanando, na tela da padronagem do seu pano de fundo, - o poeta, o livro, a terra. ”
H. Dobal destaca “Li seu livro e não foi surpresa encontrar a boa poesia que eu esperava. A surpresa foi realmente uma questão de grau: os poemas são ainda melhores do que previa a minha expectativa. ”
O poeta e crítico Francisco das Chagas Val, assim delineou a personalidade e o talento de Francisco Miguel de Moura “é um escritor que exerce o seu ofício com bastante competência e, em qualquer página por ele escrita, lá estão as qualidades intrínsecas que são as marcas a destacá-lo como uma legítima vocação literária inconfundível, em meio aos outros escritores de sua geração. ”
Hardi Filho, em artigo publicado no jornal O DIA, se pronuncia: “Francisco Miguel de Moura, que, por via de sua arte de padrão tecnicamente elevado, tornou-se conhecido e considerado pelas elites culturais. ”
O. G. Rego de Carvalho ao ler a poesia de Francisco Miguel de Moura se rende ao talento e sentencia: “Poeta de corpo inteiro, senhor e não servo das palavras, conhecedor profundo e sofrido de nosso interior, mais telúrico de que Fontes Ibiapina na sua prosa, piauiense no assunto e universal na transfiguração do tema, Francisco Miguel de Moura cresceu na minha admiração e hoje o posso citar como um dos três maiores poetas do Piauí, ao lado de Da Costa e Silva e H. Dobal. ”
Gostaria de encerrar esta apresentação dizendo para aqueles que não são escritores ou que queiram apenas ser leitores, não se intimidem com as impressões dos doutos, apenas inspirem-se. Façam uma leitura atenta, analise os detalhes, demorando-se em cada palavra, saboreando lentamente o poema e por fim o livro. Não precisa procurar o que está por trás do texto, basta aquilo que está nele, que faz dele o que ele é. Então, será o despertar e a essência se mostrará.
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*Miguel Júnior, brasileiro, baiano, escritor, advogado, bancário, mora em Teresina, filho de Francisco Miguel de Moura, discurso lido na solenidade de lançamento de “Poesia in Completa”, dia 12/11/2016, na Academia Piauiense de Letras.

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