Roberto de Queiroz*
A maioria dos estudantes
brasileiros dos níveis fundamental e médio é reprovada em avaliações externas.
Isso é fato veiculado pela mídia. Há quem afirme que, nesse caso, a
responsabilidade é do professor. Em se tratando de professor que trabalhe em
escola que lhe ofereça todo um suporte infraestrutural e pedagógico, essa
afirmação pode ser verdadeira. Caso contrário, ela deixa de fazer sentido, ou
seja, a responsabilidade deixa de ser apenas do professor.
É importante ter senso de
realidade em relação aos programas de ensino antes de adotá-los (ou não). Os
municípios precisam analisar cuidadosamente os programas de ensino que aplicam,
a adequação do material didático e os mecanismos de apoio ao professor. “Mas,
principalmente, parar de atrapalhar a escola criando e recriando programas”
(João Batista Araujo e Oliveira).
Como professor da rede pública,
há mais de quinze anos na educação básica, convivi/convivo com esses programas
“criados” e “recriados”, aos quais João Batista se refere. Muitos deles com
metodologias que se antagonizam, como é o caso do Alfa e Beto (usa o método
fônico e é indicado para o pré-escolar I e II) e o Alfabetizar com Sucesso (usa
o método silábico e é indicado para os anos inicias do ensino fundamental),
adotados por alguns municípios brasileiros. Há casos em que, paralelo aos
programas sobreditos, acrescenta-se o programa Via Escola (usa o método global
e é indicado para os anos inicias do ensino fundamental).
Não defendo a tese de que os
métodos usados por esse ou aquele programa sejam ineficientes. O problema é que
os governantes não visam o alvo. Atiram aleatoriamente para todos os lados. Por
que não ouvir os gestores, os coordenadores pedagógicos e os professores, a fim
de saber qual programa se adéqua melhor à realidade dos estudantes? Ou por que
não dar autonomia aos municípios para que eles construam seu próprio currículo
pedagógico, em consonância com as características locais e as diretrizes
nacionais?
Afinal, passou da hora de tomar
medidas enérgicas aptas a controlar a qualidade do ensino público brasileiro.
Para tanto, impõe-se abandonar o faz de conta e olhar de frente o gargalo da
educação básica: infraestrutura precária, material didático deficitário e
excesso de programas com metodologias antagônicas. Quer dizer, sem dar
condições ao professor para desempenhar sua função, ninguém pode
responsabilizá-lo pelo mau desempenho da maioria dos estudantes dos níveis
fundamental e médio em avaliações externas.
_____________________
*Professor de Português, especialista em Letras e Gestão Escolar.
Autor de “Leitura e escrita na escola: ensino e aprendizagem”, Multifoco, 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário