quarta-feira, 13 de abril de 2016

O TEMPO E A CRÔNICA, NA MÃO DO ESCRITOR

Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras


Escrever crônicas é escravizar-se ao tempo, não há cronista que tenha ficado célebre apenas por ser cronista. Quando faz como Machado de Assis, que, aliás, já nasceu feito, inventa, reinventa e entre crônicas e artigos que são mistos faz-se o pintor dos costumes políticos de Império.

Porém, Machado é único, e nós outros penamos entre escrever a nossa crônica – nossa vida, nossa memória, nossa vivência mais que comum – e participar da vida do país, fazendo, acentuando seus vícios, seus pecados, sua miséria. De qualquer forma, presos ao tempo.

Leio no romance “A cidade do sol”, best-seller do escritor Khaled Rossein, autor do famoso “O caçador de pipas”, - uma frase intrigante com relação ao título. Quero destacá-la: “O tempo é o mais inclemente dos incêndios” (pg.161). Acabo de ler o referido romance, como li o primeiro, e gostei imensamente, mas não vou fazer, aqui, uma crítica a ele: Para mim, o romance termina na pg. 328, quando ele conta a execução pelos talibãs da personagem principal: Mariam. O demais, embora tenha eu gostado da leitura, seria dispensável, pois que dedicado a outra personagem, Laila, que considero secundária, aproveitando-se para contar como começou o bombardeamento do Afeganistão, pelos Estados Unidos, logo após a derrubada das Torres Gêmeas pelos terroristas comandados pelo Bin Laden.]

Mas, voltando à vaca fria, como diziam nossos avós, se a conversa ficava muito espalhada, lembrando também um provérbio chinês que casa bem ao tema desta matéria, ser cronista é duro. Você não é jornalista, não é protegido pelas mesmas leis da imprensa. E daí, estendendo demais, cai nas esparrelas de mexer com uma e outra personalidade do momento, com fatos que você não prova que aconteceram (você não jornalista investigativo), e daí cai na pior: sem proteção de lado nenhum. O melhor mesmo é ficar na moleza, diz e não diz, diz e desdiz, inventa uma metáfora e enquadra-se bem no provérbio chinês que lhes prometi, meus leitores. É ele assim: “É melhor ficar três dias sem comida que um dia sem chá”. O chá alimenta a alma, o chá é o jeito inocente de fazermos nossas crônicas.
    Se bem lidas e bem observadas, as crônicas não dizem nada e dizem tudo. No Brasil de hoje, então! Quem entende o que está acontecendo nos altos escalões políticos, que, se duvidarmos, estão indo abaixo? Melhor fechar o parágrafo, sem falar em “impeatchment”, cujo nome não sei escrever, imagine interpretar. Sem falar nos que vão votar e julgar... Porque, afinal de contas,os altos escalões de hoje, do momento, são o povo, não eles, somos nós, ora! Mas estamos sofrendo “como couro de pisar fumo”, amassados em impostos e inflação, sem perspectivas para o futuro. E ainda somos obrigados a assistir o blá-blá-blá de partidinhos que nem sabíamos existir, dizendo-se os melhores. Mas nós nem sabemos pra onde vão, o que querem (ou sabemos?) – agarrar um pouco do bolo que os governos atuais já roeram, roeram, fizeram um buraco tamanho, não há mais como tampá-lo a não ser recorrendo ao exterior. O que fizeram com a nossa poupança interna? Além de acabarem com a vaca de ouro que era a Petrobrás, entraram pelos bancos de desenvolvimento nacional como o BNDS e, de posse – ilegítima – sem  amparo da aprovação do Congresso Nacional, de mão de toda essa dinheirama enorme, entregaram-no à Bolívia, à Venezuela, à  Cuba, aos paisinhos da África e ninguém sabe mais aquém.

    Acabou-se! “A Ilha de Santa Cruz”, que outrora se chamou “Vera Cruz”, foi desmanchada inteirinha, afundada no “Mar de Lama”, no “Arquipélago das Tormentas”, pela corrente malvada da corrupção – esta praga que corre desde “o bolsa família”, até as propriedades e empresas da lulada, até o porteiro do Palácio Governo, em Brasília. Talvez? Porque, dos grandes, ninguém sabe nada: “Tudo foi feito corretamente, tudo andou pela forma da lei, não houve desvio nenhum. Todas essas conversas de corrupção é invenção da imprensa – e desse maldoso Juiz Sérgio Moro” – E TOCAM ISTO NOS OUVIDOS DE TODOS E DE TODAS. PODE?

    Ainda, por cima, vem um idiota, do alto escalão da Presidência da República, dizer-nos que “EM POLÍTICA PODE TUDO”.

    Na crônica também, embora não possa tudo, pode dizer tudo. Com nomes supostos ou impostos, com indignação.  O tempo e a crônica, na mão de um bom escritor, são um castigo corporal semelhante às esporas que são usadas para fustigar o cavalo. Se o cavalo morrer de engasgo ou de queda (queda bem do alto), sobram as esporas e o cavaleiro indômito, destemido, decente, que dará um pulo sobre o abismo. Esse cavaleiro seria o cronista, seria o próprio povo? Assim esperamos. A esperança é a última que não morre.  Pode ser também a nossa terra, a terra de Pindorama, sempre à cavaleiro, como no início.

          Perguntas, sim, nós fazemos muitas. Domingo (dia 17/04/2016), quando o efeito ou a leitura desta crônica tiver passado, pode haver tudo de bom e de ruim, ou não haver nada. Mas nesse não haver nada é que começa o Apocalipse, a guerra, onde os justos pagarão pelos pecadores, mas, segundo as profecias e os evangelhos – os justos, os bons terão seu lugar no céu. Distante ainda, mas sempre uma esperança, depois não só esperança: fé mesmo, porque Deus não abandonará os bons pelos maus: esses que nos mentem tanto. A mentira é o maior pecado do mundo. Quem mente, furta, rouba, mata, pratica todos os delitos, é incrível. Mas, é assim.

    Domingo vindouro é a encruzilhada, quando uma nova história brilhará.

Um comentário:

José Pedro Araújo disse...

Parabéns pelo excelente texto, Chico Miguel!Permita-me que o trate assim, como os amigos o tratam. Como temos a mesma origem ( a região picoense), mesmo lá nos seus preâmbulos, tomo à mão esse direito. Depois porque já, desde algum tempo, tenho a Revista Cirandinha na lista dos meus favoritos. Portanto,voltando ao texto, gostaria muito de tê-lo escrito, de encerrá-lo com a minha assinatura, posto que coaduno com todas as afirmações nele contidas. E finalizo solicitando a sua autorização para publicá-lo no meu humilde blog Folhas Avulsas(josepedroaraujo.blogspot.com.br).
Saudações
José Pedro de Araújo Filho

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