segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Romances piauienses - Abdias Lima


Abias Lima, crítico e romancista*
                          
Enquanto “O Coronel e o Lobisomem”, romance de José Cândido de Carvalho, passou seis anos para tornar-se conhecido em todo o Brasil, o “Somos Todos Inocentes”, de oeirensse O. G. Rego de Carvalho obteve logo a sua justa projeção, mal saiu do prelo. E como há um encadeamento das cousas, tanto no mundo físico como no mundo do espírito, surge agora, também no Piauí um crítico que faz o levantamento de toda a obra ficcional ogerreguiana.

Francisco Miguel de Moura analisa a novela “Ulisses Entre o Amor e a Morte” (1953) e os romances “Rio Subterrâneo”, (1967) e “Somos Todos Inocentes” (1971) com a percepção de que fala Curtius: “o dom de penetrar a fundo na criação artística”.

Dignidade e deslumbramento diante das belas criações espirituais — eis a maior característica desse jovem crítico piauiense. E Antônio Cândido já disse que a “crítica da prosa de ficção é a pedra de toque para se reconhecer o verdadeiro crítico, que funde sensibilidade com poder de analisar”.
Por outro lado, se os romances de O. G. Rego de Carvalho não tivessem atingido os cumes da beleza e da Arte, Francisco Miguel de Moura não nos brindaria com um ensaio de interpretação tão lúcido. Porque seu livro “Linguagem e Comunicação em O.G. Rego de Carvalho”, transborda, abrange o Romance em geral, isto é, a estruturação do Romance. Fico pensando o que não faria esse moço se conhecesse outros estudos sobre esse gênero literário, além dos citados em seu livro.
Em todo o ensaio há fecundas e vigorosas passagens que levam o leitor para o conhecimento da ficção ogerreguiana.

“Para Euclides da Cunha, o verdadeiro romance teria que ser épico; para Graciliano Ramos, dramático. O. G. Rego não é exclusivamente épico ou dramático; o lirismo é o tom dominante, embora que bem dosado com fundos heróicos (em “Ulisses”), com notas de tragicidade (em “Rio Subterrâneo”), com dramas (em “Somos Todos Inocentes”)”. (P. 17).
“Como quer que seja, em técnica, em apuro de linguagem, musicalidade, aprofundamento psicológico, “Rio Subterrâneo” não é uma experiência, é uma obra incomum, talvez insuperável dentro da literatura brasileira moderna”. (P. 58).

“Mais ainda: nesse conto, cremos, e por isto afirmamos, encontra-se toda a gênese não só da problemática ogerreguiana: tristeza, solidão, amor, medo, loucuras, sombras e sonhos, como também dos símbolos: o rio, a montanha, a fazenda, o velho, a cidade decadente, a família, o jovem ensimesmado”. (P. 64).

Hindemburgo Dobal, na “orelha” do volume alude à assombrosa dedicação à literatura do festejado romancista O. R. Rego de Carvalho e acrescenta que as suas histórias poderiam localizar-se em qualquer parte, não só em Teresina envolvida em névoa, lembrando uma cidade inglesa, como em Oeiras, decadente como uma cidade medieval.

Esse romancista de ressonância universal encontra o seu primeiro intérprete em proporções mais vastas. Não é só uma página de análise, mas todo um ensaio brilhante, criterioso para encontrar os caminhos reais na extasiante floresta romanesca do escritor piauiense.
___________________
(Este texto foi copiado do livro "Radiografia Literária", Ed. Henriqueta Galeno, Fortaleza - CE, 1979, pgs. 140/141, de autoria de Abdias Lima, escritor cearense) e se refere aos romances de O. G. Rego de Carvalho analisados e criticados por Francisco Miguel de Moura - os dois últimos, piauienses.                      
   

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...