"A
massificação é capaz de apagar a consciência, inibindo a crítica e a
autocrítica".
Francisco Miguel de Moura*
Na verdade, não há leituras boas nem más: - De todas,
a gente querendo, alguma coisa aproveita. As obras todas deveriam ser sempre
éticas, sem preconceitos. Mas, quem escreve são seres humanos, e seres humanos
pensam, e cada qual pensa e sente a vida, o mundo e a si mesmo á sua maneira;
cada um sofre a influência do seu tempo e de seu meio. As leituras dos livros
que se fizeram e se fazem no mundo são as mais variadas possíveis, desde
Gutemberg. Num blogue da internet,
datado de 01-09-2010, encontrei uma matéria com o título de “7 LIVROS QUE FERRARAM A HUMANIDADE”. Não citarei todos nem acho que a
escolha e a classificação andem próximas do que seria de justiça. Ou melhor,
não acredito que livro nenhum mude a humanidade. Para que ler então? Para nele
nos encontrarmos e dele tirarmos algum conhecimento ou satisfação pessoal, pois
ler é uma das atividades mais prazerosas.
Dos sete, “O homem delinqüente”, de Lombroso,
1876 e “Minha luta”, de Hitler, de 1925, foram os
dois primeiros apontados. Ao final, os pesquisadores, todos professores de
universidade, colocaram a seguinte explicação: “Não incluímos na lista os livros que foram simplesmente mal
interpretados. A “Bíblia” é um exemplo disto. “O Capital”, de Karl Marx, também
tem a ver com as interpretações equivocadas: Esse livro é um grito ético
humanista e tem todas as características para ser um livro anti-atrocidades”.
Para o autor da explicação citada, os massacres que governantes socialistas
promoveram não podem ser atribuídos à obra de Marx.
No evolver da história, os homens se guerreiam e
praticam realmente atrocidades, hecatombes. São de maior lembrança o holocausto
dos judeus, na Alemanha de Hitler, a caça às bruxas, as vítimas da Inquisição
da Igreja, e mais recentemente, o extermínio dos índios americanos pelo branco
“civilizador” e o de tribos africanas inteiras dizimadas por brigas entre si.
Diz-se que “a história do homem é a
história de suas guerras”. Diz-se também que as guerras são oportunidades
para desenvolvimento e novas descobertas - no que não quero acreditar. A ciência
segue sua trajetória com guerras ou sem elas. As perguntas da ciência é que
fazem o mundo progredir, repete a mídia “global”, e o homem por si mesmo
vive perguntando. Pergunta à natureza próxima, ao passado, ao presente e ao futuro;
pergunta aos pergaminhos, aos
monumentos, aos astros; pergunta aos hieróglifos;
pergunta aos livros, depois de Gutemberg; pergunta à internete, agora, na
pós-modernidade.
Por mais que alguns livros façam mal, mesmo assim
livros devem continuar sendo escritos livremente, tal como os cientistas devem
continuar pesquisando e inventando livremente. Precisamos é de boas
interpretações, e isto só é possível com muita leitura da natureza e do homem,
inteligência e sapiência. O mal maior que uma obra escrita pode fazer depende mais
do modo de divulgação. Se a divulgação é feita em massa, maiores os riscos. A
massificação é capaz de apagar a consciência, inibindo a crítica e a
autocrítica.
E é preciso dizer ainda que a escolha de livros e
leituras depende muito do gosto e da vontade de quem vai ler. Procuramos ler
aquilo que se afina com o nosso gosto ou a nossa inocência. A educação
doméstica e a escolar devem cuidar de tudo isto: da boa interpretação, da
consciência do melhor, mostrando às crianças e jovens o caminho do bom senso,
da ética e da moral, acreditando sempre que os valores maiores do homem são a
vida, a liberdade e o amor.
Minha divergência maior com relação à lista dos “7 LIVROS QUE FERRARAM A HUMANIDADE” é
com relação à inclusão nela do cientista e médico Cesare Lombroso. Não me
refiro às características do tipo “lombrosiano”,
um acaso, um pequeno acidente em sua obra. Mas a pesquisa de Lombroso traz
muito mais do que isto. Já há uma espécie de volta a Lombroso, na modernidade,
com relação à herança genética. Há bem pouco tempo os educadores achavam ser
possível transformar o caráter do educando apenas com o bom ensino e o exemplo
– a parte social. Esta ênfase caiu bastante em descrédito, no momento em que a
família, por isto ou aquilo, quase se desintegra e as adoções de crianças cada
vez mais se avolumam. Psicólogos e psiquiatras já entendem que a parte
genética, a herança dos pais é muito forte para ser transformada apenas pela
educação social e a convivência.
(Esta matéria foi publicada no jornal “O DIA”,
31-8-2012)
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*Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de
Letras, Teresina, Piauí, Brasil. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com
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