Que coisa é o amor?
Francisco Miguel
de Moura*
Foto: Mécia e Chico na Europa
O amor é um dos mais universais sentimentos do homem e também um
dos mais complicados. Em seu famoso soneto, Luiz Vaz de Camões assim
disserta sobre o amor:
“Amor é fogo que arde sem arder;
“Amor é fogo que arde sem arder;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.”
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.”
E
assim segue nos demais versos do poema. A dificuldade do poeta em
conceituar o amor, posto que um sentimento complexo, como dissemos
acima, faz com que a definição se dê por paradoxos. No último terceto
faz a pergunta:
“Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos
amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Ora o Amor se
confunde com a passividade, ora com o ódio, e em ocasiões diversas ele
parece tão puro! Na juventude, quando as paixões avassaladoras
transformam o comportamento da criatura quase por total, chegamos a
duvidar que a criança seja a continuação do ser que até então se
pensava conhecer. Quando, então, se estabeleceria o nascimento da
pessoa? No momento da geração no ventre materno, no nascimento ou
depois da adolescência? Ao aportar os primeiros indícios da
adolescência – dizem os biólogos, pela explosão dos hormônios sexuais
(estrógeno, progesterona e testosterona), os quais fazem a nítida
distinção entre macho e fêmea, a criatura se sente outra e não sabe quem
é, razão talvez do seu comportamento revoltado e do afastamento dos
pais e adultos para construíram uma visão diferente do mundo, em vista
principalmente dos desejos sexuais, os amores outrora românticos e hoje
nem tanto. Cheios de outros problemas.
Aí pelo meio, há as
indecisões e indagações, do próprio sexo, onde se encontram os
homossexuais, ainda hoje mistério para a ciência. Estes também amam, mas
sofrem mais, segundo me parece.
O amor das crianças, desta
forma, ainda não é bem entendido pelo adulto. Nelas o sexo está inibido,
os interesses são as brincadeiras, as aventuras e a fertilidade dos
sonhos e imagens.
Há também o amor desinteressado. É o amor à
humanidade, a generosidade de uma idéia ou ideal. Os artistas, os
santos, os mártires estão nessa categoria, na qual chega-se às vezes ao
estremo: o amador dar a vida (literalmente) por seu objeto, ou pessoa,
ou ideal amado.
Uma indagação que, neste ponto se faz, é se há
possibilidade de viver sem amor, sem amar. Talvez,sim, mas não será
alguém sadio que o fará. Há os doentes psíquicos que só fazem mal a si
mesmo, os maníacos, etc. Mas há uma classe pessoas que não podemos
considerá-las sãs: os psicopatas. Nem todos os que se enquadram nessa
categoria são violentos, completamente prejudiciais à sociedade, pessoas
do mal. Algumas, quando o são em pequeno grau, conseguem viver sem
trazer grandes problemas. O difícil é a gente conhecer esse tipo de gente: vivem
como todo o mundo, não apresentam grandes diferenças de comportamento.
Mas quando o grau é elevado já é possível desconfiar-se: mentem muito e
não têm a menor vergonha de serem desmascarados, praticam crimes como
furtos roubos e estelionatos, assassinam de forma simples ou com
requinte de crueldade. Parecem ser pessoas inteligentes, mas já foi
detectado que não são bons alunos, não são corretos no emprego, não
gostam de trabalhar. Aliás, “eles não vão ao trabalho, vão à caça de
quem eles querem alguma coisa, seja prestígio, dinheiro, poder, e para
isto praticam todas as formas anti-éticas de viver em sociedade,
escandalizam, etc. Não têm caráter, não têm vergonha, não têm medo.
Indivíduos sem consciência do que é bom ou mão, conscientes e, como são
maus, para isto trabalham e só para isto. Há na política, na arte e em
atividades digamos que tratam de economia, muitas espécimes. Esses
seriam os indivíduos sem dúvida, sem amor. Verdadeiramente ser amor
porque conscientes. Não são propriamente doentes, são maus.
Parece-me
que é difícil saber o que é o amor, pois há muitas formas de amar, como
atestam os poetas. Mas não é possível ignorar a classe dos que não têm
amor, embora dela não nos possamos livrar, nem haja remédio para isto.
(Publicado na página de Opinião do jornal O DIA, em 24-06-2012)
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*Francisco Miguel de Moura, poeta e escritor, escreve no jornal "O Dia", todos os sábados. Salvo desta vez que saiu no domingo, tendo em vista que o jornal necessitou do espaço para colocar matéria especial.
2 comentários:
Amo amar e ser amada de qualquer forma.
Te amo meu querido amigo.
Um grande bj e brinde a nossa amizade amorosa.
Um amor assim é inesquecível, leva-se pra onde se vai. Assim, assim ali, assim. Mas acho tão difícil viajar, boa amiga, que não sei, se iremos nos conhecer pessoalmente.
Abraço junto do peito
chico
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