sábado, 24 de setembro de 2011

CONVERSAS DO DIA A DIA

 Francisco Miguel de Moura


Outrora eu me aborrecia quando tratava com uma pessoa e o único assunto dele era o tempo. Hoje é diferente, a conversa mais banal e mais de todos os dias é a violência. Poderia deixar de ser? Acabo de ter a noticia, pela tevê, que o aluno de uma escola em São Paulo deu um tiro na sua professora e em seguida suicidou-se. Portanto, não há como não desejar a volta ao passado, quando a professora era a primeira namorada do aluno, divina namorada, uma deusa: – um namoro bem platônico.


Falar da violência pela violência, na verdade é muito chato, embora todos nós estejamos vivendo com medo. Presos em nós próprios e nas nossas casas. Imagine, leitor, o que acontece quando se pensa de sair de casa para ir ao banco: - O coração se sobressalta. Na frente das casas bancárias e mesmo dentro estão alguns olhos maus, vidrados em você, no que você faz, em como você anda, com quem anda, para onde vai, de quê anda. Cadê nossa privacidade, cadê a tranqüilidade do cidadão? Irrita-nos profundamente saber que os poderes públicos não estão nem aí para quem é assaltado (já que eles nos assaltam também na cobrança dos impostos). Os jornais normais e virtuais estão cheios de casos, os mais espetaculares de furtos, roubos, assassinatos, seqüestros e o que mais seja que venha por conta da violência. Noticiar por noticiar é um dever dela, a imprensa, porém acredito que devemos ir além do dever por ofício. E o dever moral como ser e como cidadão? As páginas de opinião são muito importantes para isto, os articulistas enfrentam as vicissitudes de serem pouco lidos, mas quando o são, vale a pena, porque eles apontam as feridas sociais, a covardia social, o desprezo dos poderes públicos, recolhedores de impostos para custearem a saúde, a educação e a segurança.


           De vez em quanto sai um cientista – estão na moda os sociólogos, essa gente que acha que o governo deve dar tudo a quem não tem, tirando naturalmente dos que têm, sem exigir nada daqueles. E que o mundo assim irá para frente. E que isto é inclusão. E as exclusões que isto pode fazer em pouco tempo?


            O psiquiatra e psicanalista David Levisky, vice-presidente do Instituto São Paulo Contra a Violência, se manifesta com opinião de base, que é levada ao público pela jornalista-free-lance Iara Biderman, como está no jornal virtual “Folha”: “A fragilidade e a transitoriedade de valores que criam a identidade do indivíduo são os responsáveis por esse novo caráter da violência”.  E prossegue no mesmo raciocínio: "A pessoa não encontra valores que a dignifiquem, seja na família, na escola ou nas instituições públicas. Dessa maneira, grupos se formam não em torno de uma ideologia, de uma ética comum - caso de gangues como a dos carecas e dos surfistas de trem. O que os une é a manifestação da violência em qualquer grau. É a forma que encontram para expressar suas tensões e angústias, para dizer eu existo”, diz o psiquiatra.


    Outro que se manifesta é o educador Ubiratan D'Ambrósio, da Universidade de Campinas (Unicamp), e explica: "Educação inclui mostrar que o diferente não é o nosso inimigo, não representa o perigo. O medo da violência gerou uma paranóia coletiva em que as relações humanas passam a ser de desconfiança, de animosidade”.


Mas são poucos os jornalistas dessa estirpe. A maioria emprega toda sua força e seu trabalho em narrar os fatos com os mínimos detalhes e entrar pelas minúcias das estatísticas. É preciso mesmo meter o dedo na ferida, sarjá-la até sair todo o pus: - Os poderes públicos são os responsáveis diretos por tudo isto. É preciso insuflar a opinião pública, a sociedade civil, para que façam movimentos com visibilidade midiática e forcem para que as verbas cheguem a seus destinos e, com toda honestidade, sejam transformadas em infra-estrutura e serviços para a sociedade. E contas sejam pedidas do resultado, com todo o rigor, a verdade em seus pormenores. Mas, não.  No Brasil o público mistura-se com o privado de tal maneira que ninguém sabe quem é quem. Eis o primeiro motivo da corrupção. Quem perde é a sociedade como um todo.


Esta é que dever ser a conversa do dia-a-dia.

Imagem copiada da internet: http://donnapoesias.blogspot.com 

Links:
 franciscomigueldemoura.blogspot.com 
abodegadocamelo.blogspot.com

5 comentários:

MARILENE disse...

E que conversa! Atual e procedente. E nem permite opiniões divergentes, porque ataca o verdadeiro mal e conclama que contra ele se insurjam os conscientes.
Não aprecio alguma abordagens da mídia, embora reconheça seu valor, quando talentos jornalísticos são responsáveis pelas matérias.
Outro aspecto que abordou, o gratuíto. Se os pais não podem dar tudo aos filhos, para que aprendam a lutar por seus ideais, porque o governo há que oferecer prêmios, através de tantas bolsas, que só servem para levar o indivíduo ao comodismo?
Seu espaço é fascinante. Parabéns!

CHIICO MIGUEL disse...

Obrigado Marilene, tava com falta de quem me dissesse alguma coisa e veio voce com suas opiniões batendo com as minhas até certo ponto. E uma alegria. Venha sempre. Estive no seu blogo e achei alguns poemas muito gostos, simples,fáceis de interpretação, mas profundo no sentido do conhecimento do ser e da alma das pessoas, de nós poetas, de todos.
Abraços
Chico Miguel de Moura

MARILENE disse...

Eu me encantei com sua presença e com as belas palavras que me deixou.
Obrigada!
Certamente, estarei a ler sua preciosa revista.
Abraços

MARILENE disse...

Que lindo poema! Sua borboleta ficou encantadora. Obrigada!
Abraços

CHIICO MIGUEL disse...

Marilena,
Este poema foi musicado, perdi a partitura. Mas era lindo. A letra está pra você julga.
Abraço afetuoso
francisco miguel de moura


A JÓIA RARA

Francisco Miguel de Moura*


Luz e sombra dão na mesma cor
dos olhos e do carinho.
Dizem que amor não some,
renasce do lodo, mansinho.

Mas preciso agora escutá-lo,
não abandono o que ganhei,
neste momento, sobretudo,
quando tentam riscar o passado.

Lábios e corações, ó, não se fechem,
os olhos têm a última esperança.
Que reste sempre um fio de cabelo
no tempo de cada um, nas entranhas.

Um vintém de qualquer aventura
para os que não conseguem
nessa margem se perder.


_________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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