quarta-feira, 13 de julho de 2011

A MENTIRA DE NARCISO E OUTROS POEMAS

Teresinka Pereira*


A MENTIRA DO NARCISO

Qual foi a mentira
que pôs uma barreira
no caminho
onde a liberdade morria
no meio do verso?


De agora em diante a poesia
vai ficar delicada
como um beijo de despedida.


Para que desejar que tudo
fosse diferente, e que a vida
desse uma grande patada
em alguém que se põe
de joelhos para rezar?


Não há nenhum deus no céu
e a soberbia de quem confiou
em seu nome, cai sem armas.
Sou poeta, assim que morra,
        serei imortal.


Estes versos não têm sol nem alegria.
Estou enamorando-me
de mim mesma como um Narciso
perdido no fervor dos tempos.


A NOITE


Todos falamos do tempo
e queremos nos esquecer
que a madrugada
é irreversivel.


Quem sabe se o verso
que desconhece o calendário
e ignora o tiquetaque do relógio
pode desafiar a noite
e transpor a viagem dos dias
sem medo da escuridão,
sem medo do pecado,
certificando-se em cada minuto
que vivemos o escolhido
e único paraíso do amor?


ANOITECER


Chove dentro
e fora de minha alma.


O carteiro chega sem poesia
e me diz descaradamente
que ainda sou jovem.


Se o fosse,
não seria preciso dizer.


Era a tua poesia
que me mantinha jovem.


Agora, começa a anoitecer.


ESPELHO


Hoje meu zelo
uma vez mais
destruiu a morte
precisamente
quando sussurrava
uns fragmentos
sobre o destino.


Voltei-lhe
o olhar errante
e despedacei
seu véu rutilante
deixando-a nua
diante do espelho.


IMPROVISO - 2008
   (Para F. M. M., nos seus 75 anos)     


Em junho,
Mando as cores do arco-íris
E das flores de meus desejos
Para que encontres
A fonte da alegria,
O badalar dos sinos do amor,
As montanhas douradas
Do prazer
E sons de guitarras
Arrulhando as canções
De feliz aniversário
Em todas as línguas
E em todas as palavras
Das tradições.
E mais: liberdade,
Alvoradas de luz,
Ocasos e lindos horizontes
Ao por do sol,
poesia e beleza, inteligência
e longa vida.


NÃO MORREMOS
   
Na distância me contagiaste
Com tua febre sem barreira
E me inundaste com um calor
Sem verão na regueira
De neve caída sobre minha casa.


Tu és um rei fanático
Confiscando os mistérios
Da vida e da morte
Para acondicionar ciências
Amorosas que dão golpes
Na minha fronte.


Não me assombro.
Já me acostumei
Ao querer sem fronteiras
E estou reabilitada
Porque, dentro de nós
Repregam  sem terminar
As absurdas fragrâncias
Da esperança.


O MOMENTO
   "enquanto a vida rola"
      Helvio Lima


O momento é teu
e podes usá-lo como a rosa
ou fazê-lo durar como o carvalho.


O presente será sempre
precioso e profundamente
insensível e desmemoriado.


Outros dizem que
a momentânea rosa
só existe para ocultar
os espinhos da paixão.


Desfruta a etérea
esperança da flor
que se mergulha no tempo
sem ao menos tocar
o seu desejo.


ESPERANÇAS


Um momento, por favor!
A noite dorme tranquila:
porque queres devorar
o silencio do infinito?
Deixa a minha angustia em paz!
Deixa que me proteja
de tuas pérfidas esperanças!


EU SOU DE ÁGUA
         
“Eu sou de água”*.
Sou também de flor
e de sol.
Sou uma corola
mordida de esperança.
Mas se chegas
a ferir a minha alma,
eu me faço de pedra
e me precipito
sem compartilhar
o meu único sonho.


ESTA TRISTEZA


Esta tristeza é como
um calice de vinho vazio,
como uma voz adormecida
que nao alcanc,a a sair de mim
e que nao deixa a cintura do tempo
bailar em minha alma
uma nova canção de amor.


Esta tristeza ja filtrou
as madrugadas mais sublimes
de imaginadas paixoes
com teu corpo sobre o meu,
fogo e doce brisa essencial,
palpitante entrega, delírio clássico
do amor ate a morte.


 MIGRANT BLACKBIRD


Blackbird comes
from faraway
and stays overnight
under the moon.


He comes as a migrant
traveler
looking for grain,
for the sun,
for the sand of a river.
Tired from the trip
he complains about
sad shadows,
winds, rain, mountains,
insecure nights,
his own shouts,
blades of air
hurting while in space.
    
       OLHO O POEMA            
          Como destravar o poema
                             olho-poema, poemolho?                    
                 francisco miguel de moura


Olho o que temo
iluminando o meu desatino:
um poema transformado
na mão que oferece
no rosto que aparece
no jovem que se foi...


O poema já me pesa
nos olhos, nas mãos,
no peito, nos ombros,
e principalmente na boca.
O poema ficou desafiando
o meu presente e o meu futuro.


Juro que este poema
foi um erro de cálculo,
um erro de tempo, de eco,
uma exibicão de rima
um diminuto querer
que já se acabou.


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*Teresinka Pereira, poetisa brasileira e internacional, tradutora, ensaísta,  mora nos Estados Unidos, onde foi professora de Literatura Brasileira. Atualmente dirige a IWA - International Writers na Artists Association. Endereço: P. O. Box 352048, Toledo OH 43635-2048, USA.

2 comentários:

Gisa disse...

Gostaria de te oferecer o selinho do blog. Passa lá e pega, está no alto à esquerda.
Aproveito também para agradecer sempre a tua companhia.
Obrigada querido e especial amigo
Um grande bj

CHIICO MIGUEL disse...

Vou passar querida amiga e ver se consigo pegar o selo. Eu sou ainda muito fraco em internet. Muito obrigado. Boa dia com um abraço no coração
chico miguel de moura

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