quinta-feira, 7 de julho de 2011

PERMÍNIO ASFORA - EXPRESSÃO DO MODERNISMO - PIAUÍ


LITERATURA - MODERNISMO PIAUIENSE






Capa do livro Vento Nordeste








Permínio Ásfora, Romancista, Nasceu em Valença, Piauí,1913 e faeceu no Rio de Janeiro, RJ, 2001

Formou-se em Direito pela Faculdade do Recife. Exerceu a atividade jornalística, fundou jornais e revistas. Durante o governo de Getúlio Vargas, teve seu primeiro romance Sapé, interditado pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Autor de difícil estudo, pois não há muitas notícias biográficas e suas obras não têm tido reedições recentes. É mencionado como romancista de temática político-ideológica, trabalhando a denúncia de injustiças sociais.
Obras
Sapé (romance,1940)
Noite Grande (romance,1947)
Fogo Verde (1951)
Vento Nordeste (romance,1957)
O Amigo Lourenço (1962)
Bloqueio (1972)
O Eminente Senador (1973)

Autor:
Kássio Gomes
Professor(História - UESPI)

Quando penso em Permínio não busco apenas a Jorge Amado, José Lins do Rego ou Raquel de Queiroz, esses majestosos escritores, exemplos não só pelo gênio mas pelo esmero e obsessividade com que descreveram os tipos rústicos do universo nordestino, a quem a crítica hoje concede o devido respeito, como à sagacidade que um solitário da província do Piauí edificou silenciosamente os melhores anos de sua vida. Ao contrário, penso num escritor maduro, enxuto, onde na aparência se respira o ar mais exclusivo do romance brasileiro. Permínio Asfora retratou em sua obra os mais diversos momentos da história literária brasileira. Não foi exclusivo apenas pela forma de caracterizar os personagens, e como já disse Lúcio Asfora, jornalista e filho do escritor ao Diário de Pernambuco: "Queimado , dentre todos os personagens Daquele universo de opressão, simplesmente se transformaria no primeiro camponês a invadir, ocupar, produzir, e aí a diferença, morrer lutando por seu pedaço de chão. Com a cara e coragem, só"; retratando assim os tipos humanos que povoam o célebre Vento Nordeste  editado pela "José Olympio" em 1957.

Permínio Asfora é filho do imigrante árabe Sales Asfora, natural da Palestina, e de Maria Elisa de Carvalho, de família piauiense com raízes no Ceará. Nasceu a 12 de julho de 1913 no lugar hoje conhecido como Pimenteiras, cidade que até o ano 4 da década de 50 ainda pertencia à região que formava a Grande Valença. Ainda criança vai com a família para Crateús, no Ceará, "transferindo-se depois a outras localidades numa peregrinação que terminaria provisoriamente no Recife, em 1922, onde Permínio Asfora faz o curso primário como aluno do Colégio Melo Cabral. Não seria Recife, entretanto, a última etapa dos "anos de aprendizagem" do futuro romancista, que da capital pernambucana emigra ainda uma vez para Sapé na Paraíba, lugarejo situado na zona da caatinga, à beira da estrada de ferro". Deixou a cidade paraibana aos 20 anos de idade, integrando-se no comércio, profissão do pai. Não se esquecendo dos estudos interrompidos na infância retorna ao bancos escolares em 1934 no Ateneu Pernambucano, para fazer o ginasial, e em 1941 recebe o diploma de bacharel em Direito pela Faculdade do Recife. Morreu de edema pulmonar no dia 12 de setembro de 2001 aos 88 anos de idade no Rio de Janeiro.

Sapé, obra inaugural de Permínio, é o pavimento sobre o qual se movem todos os passos do escritor e jornalista. Interditada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP, órgão censor do governo Getúlio Vargas, no então Estado Novo, marcou profundamente a estréia conturbada do autor. O jovem ainda estudante do curso de Direito ingressou na carreira jornalística de forma inusitada, colaborando com artigos em diversos jornais. Como romancista nem bem estreou em 1941 e a "Voz do Brasil" alardeava em horário nobre dizendo que Sapé era "subversivo e imoral". Uma publicidade jamais desejada pelo autor, "mas que permitiu que o livro - recomendado por Afonso Arinos de Mello Franco à Editora Guaíra de Curitiba - despertasse interesse, curiosidade. "De Gilberto Freyre, a maior expressão cultural do Brasil, ao mais obscuro escriba da aldeia, todos se solidarizaram com o livrinho desabusado". O certo é que Sapé fez jus à cidadezinha paraibana de mesmo nome, onde Permínio morara e ambientara seu romance; pois ainda na década de 60, a cidade também estreou nas manchetes de jornais como "o maior reduto de Ligas Camponesas, criadas por Chico Julião, brutalmente reprimidas pelos latifundiários e sua polícia, nos primeiros dias do Golpe de 64".

O segundo romance de Permínio Asfora saíra em 1947 pela "Minerva Editora". Noite Grande é um relato sobre a chegada de um estrangeiro pouco mais que menino ao Brasil. Fincara raízes no Piauí, onde se envolve em conflitos contra os coronéis. Praticamente uma biografia do pai, Sales Asfora, imigrante palestino. João Luso chegou a dizer que há uma "espécie de perfeição" na narrativa, tal a forma como descreve o cenário - o dos carnaubais tão pouco conhecidos pela maioria dos brasileiros.

A Noite Grande seguiu-se Fogo Verde, editado por Caio Prado Júnior em sua "Brasiliense". Também ambientado no Piauí traz um tema igualmente novo - a exploração das minas de cobre. Foi justamente esse romance que impressionou vivamente a Gilberto Freyre e Guimarães Rosa; sem dúvida, promulgou entre os críticos mais influentes, à frente Álvaro Lins, convicção sobre a maioridade do escritor. Recentemente reeditado pela Editora Scorteci, sob os cuidados de Lúcio, Vólia e Murilo, filhos do autor, Fogo Verde volta às prateleiras das livrarias do sudeste. Freyre assim se expressou: "com Fogo Verde o autor atingira altura só alcançada em nossas letras por mestres autênticos"; Guimarães Rosa considerou-o "um dos romances brasileiros que mais admiro e mais amo"; José Lins do Rego dissera que "o romancista Asfora sabe que os limites de classe se arrebentam diante das precisões urgentes do sentido. O que se sente em suas páginas é que o amor se expande pela humanização em geral"; e ainda outros, como Jorge Amado, Érico Veríssimo, Álvaro Lins e Olívio Montenegro, também demonstraram grande admiração por Fogo Verde.

Permínio Asfora encerra o ciclo regional com Vento Nordeste. "Pela riqueza e profusão de diálogos (a este respeito, cabe lembrar que Balzac, por quem o romancista nutria especial devoção, chegou a sugerir que o diálogo bem poderia compor um gênero à parte, tal a sua complexidade) e dos provérbios nordestinos, mereceu ele um estudo, reunido em livro pelo professor Walter Medeiros, do Colégio Pedro II, no Rio".

Aí, justamente, parece estar o traço distintivo básico de Permínio Asfora na literatura brasileira, ainda não devidamente analisado, ou sequer analisado. Sua maestria em captar diálogos do cotidiano daquela gente, para enriquecer a narrativa de seus romances, credencia-o como o mais autêntico e genuíno, do ponto de vista lingüístico, representante dessa escola de romancistas do Nordeste".

Após Vento Nordeste o autor passou, como de hábito, um longo tempo até voltar a editar sua obra. Em 1962 retorna com O Amigo Lourenço, publicado pela "Editora José Olympio", retomando uma temática iniciada em 1960, no "Jornal Última Hora", onde trabalhava desde 1954. Samuel Wainer, conhecedor do potencial literário de Permínio Asfora, incentiva-o a transpor para a ficção sua experiência de redator político e setorista do Senado Federal, instalado no Palácio Monroe, na Cinelândia. Chegara o escalar como sucessor de Nélson Rodrigues, iniciador do gênero folhetim no jornalismo carioca. Permínio fez do incentivo de Wainer uma realização, contando diariamente em meia página de um jornal em edição nacional As Confissões do Senador Evaristo durante 4 meses. Tamanho foi o sucesso que em 1973 a Editora Francisco Alves edita-as em forma de livros, rebatizadas pelo autor como O Eminente Senador. Com esse romance Permínio Asfora arrebatou o "Prêmio Pen Club", escolhido por críticos literários de vários jornais do Brasil como o livro do ano. Mais tarde ingressou na instituição que dá título ao prêmio.

Bloqueio, o penúltimo de seus romances, editado pela "José Olympio" em 1972, também foi premiado, desta vez pela "Fundação Cultural do Distrito Federal". Essa edição foi em homenagem ao Sesquicentenário da Independência do Brasil, ao IV centenário d'Os Lusíadas, ao Centenário de Nascimento de Oswaldo Cruz (*05-08-1872   + 11-02-1917), ao Cinqüentenário da Semana de Arte Moderna (S. Paulo) e Museu Histórico Nacional (Rio), ao Cinqüentenário da Morte de Lima Barreto (*13-05-1881  + 01-11-1922), ao Ano Internacional do Livro e II Bienal Internacional do Livro (S. Paulo) e ao 41º Ano de Fundação da Editora José Olympio.

O Amigo Lourenço, Bloqueio e O Eminente Senador formam a trilogia definida como "quase política" de sua obra. Deixou inacabada Confidências do Largo da Segunda-Feira, - Permínio Asfora não podia deixar de se reportar ao Rio de Janeiro, onde passou o resto de seus dias trancafiado num apartamento no Leblon. Estas confidências não foram concluídas pelo próprio autor, mas por seu filho, Lúcio Asfora, cuja profissão jornalística emana da admiração que sempre teve pelo pai. Porém, esta co-autoria ainda não foi editada por desejo do próprio Lúcio.

Permínio Asfora, ao longo dos seus 88 anos, tornou-se veementemente um escritor enxuto e plural, sua obra expressa, sem qualquer receio, assuntos considerados polêmicos numa época em que a censura perdurava também veemente, mas estes assuntos são prementes para um escritor do seu porte. Concluo agora, em débito com o leitor, pois ainda há muita coisa sobre o Permínio nas entrelinhas. Resta agora esperar da intelectualidade piauiense o reconhecimento e o compromisso em reeditar esse autor, cuja obra beira o "universal". Finalizo enfim, com as palavras do próprio Permínio que nunca se opôs à definição: "ao menos a qualidade de jamais haver permitido que as naturais ardilezas de repórter sobrepujassem e destruíssem as reflexões do escritor".

Fonte: Estetoscópio
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Um comentário:

Paulo Roberto disse...

Bela e oportuna matéria. Impõe-se revisitar a obra desse grande escritor piauiense.

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